Durante muito tempo nas aulas de História, quando se falou da participação dos negros foi de forma coadjuvante, em parte dos casos até mesmo pejorativa, mas essa concepção está caminhando para a mudança.
Com 35 anos de idade, um pesquisador se dedica a mostrar que o papel do negro no Rio Grande do Sul é infinitamente maior do que aquele que foi introjetado em parte da população. Este pesquisador se chama Arilson dos Santos Gomes, professor de História do sexto ano do Colégio Dom Pedro Pedro II.
Parte importante da formação do povo gaúcho vem da contribuição do povo afro-descendente, mas durante muito tempo dentro das publicações acadêmicas houve uma lacuna entre a História e a história dos negros gaúchos e brasileiros.
Preocupados com essa invisibilidade de um povo que contribuiu para a formação da nossa cultura, um grupo de pesquisadores gaúchos se uniu e preparou a primeira publicação didática sobre a contribuição do negro na história do Rio Grande do Sul. A primeira publicação gaúcha da série “A Africa Está Em Nós” será lançada na primeira semana de julho.
Graças ao trabalho do professor Arilson e a todas as ações que o Espaço da Diversidade da Secretaria da Educação realiza para o conhecimento e o resgate da auto-estima dos jovens de Alvorada, sejam eles negros ou brancos, Alvorada é uma referência nos estudos da influência dos povos de matriz africana no Estado. O livro é apenas uma parte de um trabalho que começou em 2009, aqui no município.
De coadjuvante a escritor da própria história
O professor destaca a importância de cada povo contar a sua história. “Precisamos escrever nossas próprias histórias” – são esses conceitos que o professor ensina em sala de aula. Mostrar às crianças que elas podem ser protagonistas de suas próprias histórias é parte do trabalho de resgate de auto-estima que é trabalhado em sala de aula.
Criar cidadãos isentos de preconceitos é uma de suas missões. Ao falar do protagonismo dos negros na História e da quebra de paradigmas, também tentam-se abrir os olhos do povo que acredita ser representado atualmente. O povo é ingênuo, fala-se na extinção do racismo e da segmentação de um povo, mas só quem já foi discriminado pode afirmar com certeza o que se sente.
Obras como essa vêm para mostrar o negro não só como força de trabalho, mas também como pesquisador, conhecedor e formador de cultura e opinião. “Queremos quebrar os estigmas e esteriótipos criados no passado, e devemos fazer isso com conhecimento”, afirma o professor. Assim como o trabalho do Espaço da Diversidade, o livro não é uma ação isolada.
Os conceitos que criarão um futuro livre de preconceitos raciais são trabalhados também em sala de aula e criam um ambiente onde os jovens veem seus ancestrais na história de forma positiva. “Não é só uma obra que vai mudar o mundo”, afirma Arilson, mas esta obra vai servir de inspiração para que os jovens comecem a buscar o conhecimento e se aproximar da pesquisa e da cultura de seus povos – assim como foi com as inúmeras obras que inspiraram e embasaram as pesquisas de Arilson e dos outros três autores desta obra.
Fonte: Amanda Fernandes / O Alvoradense