Era umas daquelas tardes tradicionais de outono, às 17h15min o campo do Bonsucesso estava vazio, uma das poucas vezes que acontecia esse fenômeno. Eu me perguntava, onde estavam o Nego Sany, o Gordo, o Léo, Clodoaldo, Anibal, Zoreia, entre tantos outros que movimentavam as peladas do fim de tarde do Parque São Caetano.

De cabeça baixa, uma bola em baixo dos braços e desiludido voltava pra minha casa, na velha Maris e Barros, umas das mais tradicionais ruas do Bairro Americana. Minha casa ao campo, era questão de três minutos, coisa de 200 metros, entre a Gaspar Martins e o n° 262 da Velha Maris. Em instantes meu sorriso voltava, gritos e chutes em uma bola eu ouvia. Apertei o passo, quando na esquina cheguei, avistei aquele “jogo”, meus amigos mais velhos da rua, “explodindo” com chutes fortes, o portão do “Sadan”, na casa do Kisuko, do Nei, do Delírio e do Pipi, que ali estavam juntamente com o Gilmar (Cueca).

Fui me chegando, aprochegando e me enturmei. Era um jogo diferente, estavam três jogadores e um goleiro, em um portão de ferro de garagem de veículos, improvisado e disfarçado de goleiras. Ali estava o tão famosos 3 dentro, 3 fora!

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Quem nunca, em sua adolescência, há 20 anos atrás, jogou este jogo? O jogo é realizado quando não se têm quórum para fazer dois times, aí se faz a brincadeira. Não existe mais do que duas posições, é no gol ou na linha.

“Linha!… Linha!… Linha!…”

É sobrou o gol para quem não gritou! Os atletas que “sobraram”, são os reservas do goleiro. Normalmente a função da linha é fazer os gols, mas como é um jogo de interesses e amizade, sempre ocorre a velha “panela”. E o espetáculo pode começar! A intenção do jogo são os gols, mas o goleiro quer “melar” tudo. Só são validados os chamados “gols de primeira”, com três passes no alto, sem a bola encostar no chão. Para trocar de goleiro, é preciso que ele seja vazado três vezes, saindo para o próximo entrar: aí o nome “3 dentro”.

Era uma festa quando acontecia isso, a gritaria era absurda, e o velho grito lá no fundo aparecia. Goooool! Já era, tu “mofou!”

blog-igor-3dentro3foraMas esse jogo era ainda mais emocionante, ainda mais disputado e, por óbvio, o goleiro também tem sua chance de ir para a linha. Bastava que fosse chutado três bolas para fora para isso acontecer e a farra do goleiro começar, daí o nome “3 fora”. 3 dentro, 3 fora era a farra da gurizada. Muitas vezes, o goleiro estava na “panela” de dois dos três jogadores da linha e isso era percebido quando esses dois chutavam as primeiras bolas para fora, deixando que o terceiro atleta sempre chutasse depois das manipuladas bolas dos seus companheiros.

Nossa infância foi feliz, de portões em portões se faziam “3 dentro”. Nossa infância foi feliz, de vidraças em vidraças, de telhados em telhados se faziam “3 foras”. Com toda certeza, nossa infância foi feliz, foi de “3 dentro, 3 fora” que sorríamos e fazíamos amigos, fazíamos adversários e construíamos felicidade!