Considerado o maior poeta da língua portuguesa, Fernando Antonio Nogueira Pessoa, conhecido apenas como Fernando Pessoa, completaria nesta quinta-feira, 125 anos, se estivesse vivo.
Nascido em Lisboa, Portugal, o poeta fingidor, como se auto-denominava, criou os heterônimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, cada um com personalidade e biografia próprias, o que os leva a serem objeto de maior parte dos estudos sobre a obra de Pessoa.
Ele mesmo escreveu sobre isso:
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente”
A pesquisadora portuguesa Teresa Rita Lopes, especialista na obra do poeta, lembra que apesar de Fernando Pessoa ter assinado textos literários com mais de 70 nomes, ele próprio afirmou a existência de apenas três heterônimos, personagens que adquiriram independência em relação a seu criador.
“Se vocês virem o estilo do Ricardo Reis, é inconfundível, o do Alberto Caeiro e do Álvaro de Campos também. Só esses três é que têm vida própria, personalidade própria e estilo próprio. E os três são ele melhor. Para Fernando Pessoa, essa androginia espiritual era uma maneira dele atingir a perfeição”.
O poeta e crítico brasileiro Frederico Barbosa afirma que Fernando Pessoa viveu mais por meio da sua poesia que na sua própria vida. “Ele tinha uma vida, digamos assim, medíocre no seu exterior, e uma vida interior em que ele construiu seus próprios personagens.
Enfrentando uma certa solidão, ele acabou construindo seus companheiros de geração: o Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o mestre de todos Alberto Caeiro”.
O primeiro poema foi escrito para a mãe, aos sete anos de idade. Quando tinha cinco anos o pai, funcionário público e crítico musical do Diário de Notícias, morreu de tuberculose.
Já no ano seguinte, a mãe casou-se pela segunda vez com o cônsul de Portugal em Durban, África do Sul, país onde Fernando Pessoa chegou aos seis anos e viveu até aos 17. Nesse período ele recebeu educação em língua inglesa e, por isso, seus primeiros textos foram escritos nesse idioma.
O sobrinho de Fernando Pessoa, Luís Miguel Rosa Dias, de 82 anos, conta que a presença do tio na África do Sul é evidente. “Em Durban tem o colégio onde ele estudou, tem um museu só de Fernando Pessoa. Em Pretória, uma das praças principais tem um busto de Fernando Pessoa. E é tudo Fernando Pessoa por todo o lado”.
O poeta teve influência de autores ingleses, como William Shakespeare, Edgar Allan Poe e Lord Byron. Aos 17 anos, Fernando Pessoa voltou definitivamente sozinho para Lisboa e passou a se interessar pela literatura portuguesa.
Tornou-se tradutor de cartas comerciais, que eram sua fonte de renda. Nas horas vagas, sentava-se em uma cafeteria para escrever poemas.
“Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias”.
Os únicos livros do poeta publicados em vida são as coletâneas de poemas em inglês “Antinous”, “35 Sonnets” e “English Poems I, II e III”, além do livro “Mensagem”, em língua portuguesa.
O poeta, que iniciou a vida escrevendo ainda criança, morreu escrevendo, aos 47 anos, em 1935, vítima de cirrose hepática.
A última frase no leito de morte foi escrita em inglês: “I know not what tomorrow will bring” (“Eu não sei o que o amanhã trará”). O poeta, talvez já prevendo a importância do seu legado para o mundo, já anunciava em seu Livro do Desassossego: “Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.”
Fonte: Agência Brasil