Era uma vez, poderia se supor acontecendo no início da alfabetização, uma sala de aula, provavelmente com as classes distribuídas em grupos, não enfileiradas como se os alunos estivessem sentados em bancos de ônibus e tivessem que olhar a nuca do que estava à frente, onde as letras surgindo de vários lugares formatando palavras e arredondando os significados dos sons ao fixá-los em um suporte qualquer. Lousa, papel, tecidos recortados, revistas, blocos de madeira e assim por diante.
Era outra vez, em outros espaços, fora do perímetro escolar, onde as leituras e narrativas aconteciam sem lápis ou caderno, através das contações dos amiguinhos, dos pais, das mídias e da mais importante de todas, a narrativa interna cujos valores vão se construindo em escalas individuais, independentes, filtrando tanto o narrado quanto o observado e os resultados das avaliações instintivas, intuitivas, básicas e iniciais.
Tanto numa quanto na outra ou nas tantas outras que se seguiram, a motivação seguia o fio condutor da emoção. Aquele mistério que faz dos indivíduos seres indivisíveis, exclusivos no seu agir no momento em que revive o que anteriormente fora registrado.
Lapidados os dias entre sorrisos e tristezas, escolhia buscar onde sequer imaginara estar guardada a energia que o motivara por tantas quantas foram às vezes do seu “Era Uma Vez”.
E por tanto quedar-se, esqueceu-a num canto qualquer, embora imaginasse perdida em algum bolso esquecida. Ou fora em alguma queda de Skate? Nas voltas da roda gigante? Ou quem sabe foi naquele picadeiro do circo que o distraíra de certa forma o palhaço e seus malabares?
Com o tempo parou de interpretar, de investigar e analisar. A palavra em sala de aula não lhe engasgava mais de tanto colorido perdido no cinza do caderno fechado. A infância ficara na última folha onde rabiscara seus seres imaginários, como se fossem soldados em batalha os palitos de fósforo que desenhara.