Uma verdadeira aula de inclusão

Andressa já ganhou várias premiações no xadrez, seu esporte preferido | Foto: Amanda Fernandes / OA

“É a gente que aprende com ela.” Foi assim que Vera Matos tentou descrever a filha Andressa, de 11 anos, antes de ser interrompida pela menina que espontaneamente perguntou à reportagem d’O Alvoradense se a companhia da mãe era necessária (ela queria conversar em particular).

A pequena é uma das alunas mais queridas da Escola Estadual de 1° Grau Senador Salgado Filho na avaliação de professores e colegas. Bem articulada e visi-velmente mais madura do que as crianças de sua idade, é motivo de orgulho para todos que estão à sua volta.

Apesar da sua deficiência visual, a jovem, que já nasceu sem o sentido da visão, faz tudo o que as crianças da sua faixa etária costumam fazer. No caso dela, no entanto, utilizando os outros sentidos.

Sua atividade favorita é ficar no computador, navega nas redes sociais o tempo inteiro. O site preferido é o Twitter, onde posta os acontecimentos do seu dia. O site é uma espécie de diário virtual.

Entre navegar na internet e fazer outras atividades em casa, ouve suas músicas favoritas de variados estilos, entre eles o sertanejo universitário, pagode e pop. Apesar de não se dar conta, é uma das melhores alunas da escola. Com poucas palavras ela é capaz de cativar qualquer pessoa, tem desenvolvidas sensibilidades e habilidades que deixariam muita gente espantada. De personalidade forte e marcante, ela tem resposta na ponta da língua para tudo.

No início da entrevista, quando pediu para a mãe retirar-se, amigavelmente a diretora da escola brincou e disse que não precisava ela ficar com vergonha, pois a repórter não iria perguntar sobre os namorados. Categórica, ela respondeu: “Claro que não! E se ela perguntasse [sobre os namorados] eu não responderia. É minha vida pessoal. O que ela quer saber é sobre o xadrez ou das outras atividades que eu tenho, isso faz parte da minha vida pública é isso que interessa a ela.”

Não é apenas a mãe que diz aprender com a filha, a diretora da escola e algumas professoras também afirmam que são elas que aprendem com a pequena. Além da música e das redes sociais, Andressa é uma ótima jogadora de xadrez, premiada em diversas competições paraolímpicas em Alvorada e em todo Estado. São inúmeras premiações que ela carrega com orgulho para os lugares aonde vai.

Uma escola preocupada com a inclusão

Contar a história de Andressa e de todas as suas vitórias, tanto na vida quanto no xadrez, sem falar em todo o trabalho que as professoras do Salgado têm com os alunos deficientes visuais ou com baixa visão, é quase impossível.
A primeira turma de deficientes visuais da escola é de 1983. Desde então há uma dedicação de todo o corpo docente em incluir essas crianças na vida acadêmica da escola.

A diretora Neuza Machado Teixeira destaca a importância de ações de inclusão que as salas de recursos e para deficientes visuais têm para todas as crianças. “Fala-se de inclusão, mas muito pouco se faz para incluir. Aqui nossas crianças são alfabetizadas e assistem às aulas nas turmas regulares, junto com os outros alunos, isso é inclusão” afirma ela.

Todo esse trabalho realizado pelas professoras do Senador Salgado Filho virou o projeto chamado “Vemos com as Mãos”, que tem como objetivo facilitar a inclusão dos deficientes visuais e é coordenado pelas professoras Fátima Rosane Dias Azambuja e Leila Maria de Moura Lopes.

Atualmente o projeto atende oito alunos da escola. Para as professoras, não há dúvidas: as crianças participam das atividades e ensinam muito mais do que aprendem quando o assunto é inclusão.

Para saber mais detalhes sobre o projeto Vemos com as Mãos, o telefone da escola Estadual de 1° Grau Senador Salgado é o (51) 3483-3480.

 

Fonte: Amanda Fernandes / O Alvoradense