Viajar é útil, exercita a imaginação. O resto é frustração e esforço. Nossa viagem é imaginaria.
É essa a sua força. Vai da vida à morte. Homens, animais, cidades e coisas. É tudo inventado.
(Littré)
Costumo viajar em e através de imagens, independente de rótulos. Assim diante dessa obra de Alquimera Grasak, que só agora conheço, assustei-me com o mundo nela contido porque nele não me enxerguei, não me vi, nem informação nem informado nem em formação. Digo “contido” não no sentido lato, porém molécula ávida, ativa, viva, grão de tempo, sopro de luz, gota de gosto, mel ou fel, interferido e interferindo, vendo e sendo visto, poético ou ridículo, imenso ou profético, entidade ou corpo: Olho que não olha, vê, o dente além da boca, a lágrima aquém da causa, vê o universo em expansão, tal eu, visor de mim enquanto medo, ou culpa: Espectador!
Há, nesse Alquimera Grasak uma insistência em me devorar, invadir-me, enfiar-me o dedo por trás do olho nos meus labirintos adentro e, poderoso, ainda que vesgo, estúpido posto que fera, e assim tenta me instituir começos, meios, fins, fazer-me caminhos diversos do que desejo ir ou vir, ficar, dividir: Um Jorge Luiz e um Borges. Não outro, um, dois em um, dual: homem e homem, noutra instância, homem versus homem. Um me camufla em roxo, Um me expõe em negro, Um me traduz em sombras, Um me devassa de brilhos. Um me diz e a si mesmo, eu, contradiz: Arte!
Há nesse Alquimera uma translucidez que me sugere Pop Art. Há nesse Pop uma profusão de agentes deístas convertendo-me à Arte Vitral. Há nesse Vitral uma lógica que me simplifica em Arte e, estilhaçando o sacro vem Umberto Eco, Obra Aberta rezando: uma obra de Arte quando sai ao mundo está sujeita ao mundo e a um mundo de
interpretações, inclusive, à nenhuma.
___OLHO DE GRASAK ___
Há havemos
De navegar o brilho escasso
E dele germinar o sonho;
Há havemos
De repintar a face cansada
E nela estampar o riso;
Há havemos
De desvendar o gesto mágico
E dele gerar boas-vindas,
Há havemos
De decifrar o vasto abismo
E nele guardar a colheita,
Há havemos
De criar o pó do universo
E dele estruturar a solidão
Há havemos
De desfazer o beijo da morte
E nela apor a pálpebra,
Há havemos
De cumprir os versos incendiários
E com eles queimar os cílios,
Ah,
Havemos de desvendar esse olho
Para que possamos atraí-lo
Para o cisco renovador
Que virá
Nos vendavais de um novo mundo!
Wander Porto, especialmente para arte de Artur Madruga.
Vídeo Produção e interpretação Willer Lopes