Perdoem-me se, para determinados expedientes e objetivos, certas palavras me são excludentes. Não as utilizo por faltar espaço na garganta para digeri-las, haja vista a dureza dos espinhos que portam e do concreto que as fazem pesar no estômago.
Aprendi, no exercício docente, a regula-las para que se o acaso me fizesse engoli-las, o ato se formatasse sob a custódia do digerível.
Meu cérebro, por cargas d’água não descobertas, desconhece a maneira de produzi-las em âmbito público, embora tentem germinar entre as pedras da vida privada, como uma tendência humana latente. Ou pedras germinam pedras? Espinhos reproduzem espinhos? Por similitude ou por redundância vocabular, em equanimidade de origem genética? Façam suas escolhas. Não me são afetas as durezas do acho isso ou acho aquilo, enquanto, volto a sublinhar, não palpar evidências para posicionamentos. Não sou a terra fértil para tal acidez, uma profunda rejeição se produz, subitamente, pelo canal de onde saem meus pensamentos. Não são específicos, portanto incontingentes.
Perdoem-me, sirvam-se meus caros de outros meios, outras gargantas cujas identidades qualificam a equanimidade dessas especificações. A minha, que luta contra os achismos, me pertence.
O campo dessas presunções é tão moldável quanto o que dele se aproveitam os radicais de ambos os lados; os que batem nas travas de seus limites, os extremistas.
Ambos pegam a ponta oposta do elástico social e o esticam até o limite de suas adjetivações, correndo o sério risco de rompê-lo.
Esticar muito à esquerda rompe, e supõe-se o “anarquismo”; esticar muito à direita rompe, e supõe-se o “fascismo”.
O primeiro se desgoverna, se desorganiza, é o caos. O segundo assusta, amedronta, exacerba, amordaça, é a tirania.
Ambos desfilam suas douradas vestes no cemitério do dedo em riste, por vidas abreviadas em suas marchas e percursos que foram negados. Ambos são vítimas de suas burlescas pretensões, a de que o outro, o próximo, o seu par humano retirou o cabresto e lhe recusa obediência.
Essa matriarca de toda a insolência para com a vida, denominada altivamente de “Presunção”, acelera os conflitos que degradam e cegam os seres humanos na busca desenfreada do poder. Utilizam-se das generosas e equivocadas ferramentas que retiram da caixa do achismo:
“Eu acho isso, eu acho aquilo, os outros que se lixem. Esse mundo sobre o qual piso é só meu, essa fauna e flora são somente minhas e foram criadas para que o meu achar vivesse tranquilo à custa da inutilidade que o outro representa à minha sobrevivência. Estes que andam à minha volta me são estranhos”, afirma o radical de uma das pontas do elástico, apontando o dedo em direção ao que está na outra ponta.
Nesse momento, a tensão fica insuportável. O puxa pra lá e o puxa pra cá ultrapassou o limite tolerável. O tecido e o látex se dispersam, acabou o poder que estes materiais têm de coesão. Não há mais equivalência, estourou, romperam-se diálogos, coerências e urbanidade. Uma das partes subjuga e tutela a outra. É irreversível. O subjugado carrega os trapos da parte que lhe coube do elástico. Nada mais.