O professor Max Haetinger, em seu livro O Mundo Criativo da Criança, editado pelo Instituto Criar, fala que “um dos instrumentos da atividade criativa é a inter-relação entre as pessoas. Quando trabalhamos em grupo, a imaginação e a curiosidade de cada participante é ressaltada e compartilhada. E quem consegue se expressar junto aos outros, se adapta melhor às circunstâncias e à troca de experiências”.
Essa percepção de um trabalho de construção compartilhada, criativa que exige a tomada de decisões conjuntas, pode ser observado no que foi estimulado pelo professor João Stasiuk essa semana, nas aulas de arte de suas turmas da manhã e da noite, na EJA da Escola Municipal Alfredo José Justo.
Como mediador do processo ensino-aprendizagem, Stasiuk aborda e provoca reflexões sobre a reformulação ou nova proposta à grafitagem em voga. Não é grafitagem, mas lembra o processo, porque se utiliza de muros como suporte. Só que no caso em pauta, os muros não são muros aleatórios, são as partes internas do muro da escola. Algo diferente, já que o tradicional spray e rolinho com tinta são substituídos por colagens de folhas de papel previamente trabalhadas, pensadas. E ao invés do tom individual, também costumeiro, está envolvido a um processo de grupo.
De acordo com João, os mosaicos e módulos foram estudados dentro da História da Arte, quando encontraram vários exemplos de repetição e montagem de imagens através de formas que se repetiam e se somavam.
Com os alunos dos 6ºs anos estudaram a arte da Grécia, a arte Romana e a Arte Gótica, quando notaram que as igrejas desta época tinham vitrais feitos com partes de vidro e metal (normalmente chumbo e estanho), que eram montados a partir de uma figura desenhada que depois era repartida em vários pedaços e estes pedaços eram ampliados em placas de vidro para serem montadas formando o vitral. E foi pensando nessa ideia de trabalhar em pedaços que o professor sugeriu que os alunos pensassem seus próprios vitrais, divididos em grupos de 4 a 8 pessoas que construíram suas imagens à semelhança de vitrais. Óbvio que Stasiuk se utilizou de princípios e conceitos que levaram os alunos a trabalharem de forma cooperativada, produzindo obras para um bem comum. Sempre com vistas ao coletivo, objetivando, também, a que se livrassem um pouco do individualismo a que estão submetidos quando são escolhidos os critérios de avaliação. Interessante, entretanto, é observar que, após concluído o trabalho em sala de aula, foram estimulados a descobrirem, na própria escola, novos espaços de coletividade para a exposição de suas obras. No pátio, se utilizaram dos limites internos dos muros para atingirem o objetivo de compartilhamento com as outras turmas. Se apropriavam de novos espaços. O pátio não era mais só um local de recreio, mas um local propício à socialização de suas produções. Um convívio que fortalece a autoestima, derruba preconceitos e valoriza o outro.
Quer dizer, o professor João Stasiuk demonstra que a arte vai além dos mais modernos conceitos de ensino, como o da proposta triangular de Mae, que propõe o estudo teórico da obra, a reelaboração e a criação individual a partir desses estudos, como acrescenta um outro ponto: a criação coletiva partindo de uma única proposta, visando a socialização e enriquecimento das ideias.
Realmente, quando buscamos a significação de um trabalho lembrando o filme francês Entre Les Murs, que aborda os conflitos de uma escola francesa de periferia, somos levados a pensar que os conflitos de uma escola de periferia europeia não são contornadas pelos mesmos muros de uma escola de periferia no sul do Brasil. Aqui os lados internos dos muros da escola podem revelar a participação criativa, a reflexão coletiva, o estímulo ao trabalho cooperativo através da arte e das aulas de um educador que se preocupa com os valores com os quais seus educandos levarão para suas vidas.
Como, finalmente, afirma Haetinger:
“O educador segue a evolução social e cultural de sua comunidade e do mundo, e deve utilizar todas as ferramentas e ideias disponíveis para aprender e ensinar, para tornar a sua sala de aula o lugar mais encantador do mundo”.