Caminhando pela Praça Central, na parada 48, senti um aroma intenso de comida caseira. Segui o cheiro e deparei-me com um fogão improvisado, feito com uma grade velha e pedaços de lenha.
Sobre ele, uma panela, e dentro dela um caldo espesso e borbulhante cozinhava um bocado escasso de arroz, pedaços de frango e legumes.
Enquanto esperavam a comida ficar pronta, amigos confraternizavam ao redor, aquecidos pelo fogo e goles de cachaça.
“A gente ganhou os ingredientes e vamos comer juntos para se animar um pouco, assim fazemos companhia um para o outro”, me explicou o cozinheiro.
Sem trabalho, sem lar, todos estão vivendo na rua há poucas semanas e, talvez, aquela seria a melhor refeição dos últimos dias.
Perto dali fica o palco da praça, lugar antes utilizado para shows, e que agora acolhe os desabrigados.
No chão, uma dúzia de colchões, cobertores, algumas mudas de roupas e almas abatidas:
“Cheguei aqui há uma semana. Não consegui pagar o aluguel, então vim pra cá. Durante o dia vendo balas na sinaleira”, contou uma senhora enquanto abria a marmita que acabara de ganhar.
Enrolado em um cobertor, um jovem confidenciou: “a pandemia e problemas familiares me trouxeram até aqui. Olha, tá difícil!”
“O que te dói mais?”, perguntei a ele.
“O desemprego. O desemprego dói demais”, respondeu desalentado.
O jovem acomodou-se no colchão e cobriu a cabeça. Sob a coberta, um mundo de pensamentos, anseios, e sonhos dos quais nada sei.
Amanhã não vai ter galinhada…
Texto e fotos: Rafael Acosta