O Rio Grande do Sul possui diversos excelentes historiadores. Um deles é meu saudoso professor Jorge Euzébio Assumpção, autor da obra “Pelotas: Escravidão e Charqueadas (1780- 1888)”, que considero uma leitura obrigatória para compreender a História do Brasil.
Em 2008, o curso de extensão da UFRGS, que levava o nome “Desvendando a História da África”, tornou-se um livro. E um dos artigos presentes na publicação, é um texto muito rico – com apenas quinze páginas – que explica algumas características da África subsaariana, para mostrar que a visão eurocêntrica estava errada.
África branca e África negra
Em “África: uma história a ser reescrita”, Jorge Euzébio Assumpção explica qual a essência e origem do desinteresse do mundo acadêmico pelo continente africano. Passando por Hegel e Arthur de Gobineau, denuncia o racismo por trás da divisão do continente entre África Branca e África Negra, que classifica o Egito Clássico como uma parte da História do Mediterrâneo, das civilizações brancas: não um Estado Africano e negro. Em seguida, explica algumas características de três impérios sudaneses africanos (Gana, Mali e Songai) e dos povos africanos bantos.
Deste livro, o ENEM tirou um trecho para produzir uma questão.
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No império africano do Mali, no século XIV, Tombuctu foi centro de um comércio internacional onde tudo era negociado – sal, escravos, marfim etc. Havia também um grande comércio de livros de história, medicina, astronomia e matemática, além de grande concentração de estudantes. A importância cultural de Tombuctu pode ser percebida por meio de um velho provérbio: “O sal vem do norte, o ouro vem do sul, mas as palavras de Deus e os tesouros da sabedoria vêm de Tombuctu”.
[ASSUMPÇÃO, J. E. África: uma história a ser reescrita. ln: MACEDO, J. R. (Org.). Desvendando a história da África. Porto Alegre: UFRGS, 2008, adaptado.]
Uma explicação para o dinamismo dessa cidade e sua importância histórica no período mencionado era o(a)
a) isolamento geográfico do Saara ocidental.
b) exploração intensiva de recursos naturais.
c) posição relativa nas redes de circulação.
d) tráfico transatlântico de mão de obra servil.
e) competição econômica dos reinos da região.
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Optei por negritar a resposta correta, por que todas as demais alternativas seriam fatores prejudiciais para beneficiar a cidade enquanto um grande centro comercial internacional, do continente africano. Afinal, Tombuctu era bem localizada, estava nas margens do Rio Níger e se destacava ao comerciar produtos têxteis e livros.
Os povos bantos que foram os que mais participaram do tráfico negreiro, e tanto a população de Tombuctu, quanto o restante do Império Mali, eram sudaneses. O Império do Mali dividiu-se em diversos reinos, com o seu declínio ao ser invadido por nômades tuaregues, do deserto do Saara. A competição econômica entre reinos da região foi sintoma dos dias finais do império, logo não poderia ser considerado um elemento explicativo do esplendor de Tombuctu.
Bastava interpretar, mas é importante a leitura e o estudo
Ler o artigo “África: uma história a ser reescrita”, de Jorge Euzébio Assumpção, serve como indicação para entender o básico sobre as pesquisas mais recentes sobre África. Hegel dizia que os negros não se pareciam com humanos, e Gobineau defendia que o Egito era uma civilização branca, mas estas teorias vazias de base científica são lasquinhas de algo muito maior.
O ENEM, por exemplo, dá muito pouco valor para a História africana, e questões como a analisada acima, são raras. Mas ainda assim, vale a pena estudar e pesquisar sobre o lugar que deu origem a humanidade, para saber quem somos e o que não somos.
Foto: Reunião dos integrantes do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros Vó Tinancia, em atividade com o professor José Rivair Macedo, no auditório da FAPA (2012). Jorge Euzébio Assumpção no centro. Arquivo pessoal.
Rafael Freitas é professor de História da Rede de Ensino Mauá, um historiador alvoradense.
Criador de “Lascas da História”, coluna voltada para dicas de estudo para provas de ENEM e vestibulares, com foco na disciplina de História.
Mas uma História entendida como uma ciência, onde cada fato – por mais marcante que seja – é sempre uma lasquinha de algo bem maior.
Contatos: professor.freitas.rafael@gmail.com