De 1930 até 1990, o Brasil estava voltado para produção de bens de consumo, visando um restrito mercado interno; ao mesmo tempo que desenvolvia produção direcionada para a exportação, de produtos primários e industrializados. A partir de 1990, veio a vitória do neo liberalismo no Brasil, e com isso muitas mudanças.
Antes dessa tragédia, tivemos fatos históricos importantes, entre eles a criação do Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), em 1945. O MUT foi fundado por cerca de trezentos dirigentes sindicais de treze estados diferentes, e pretendia incorporar as reivindicações de profissionais liberais, estudantes, intelectuais, artistas e trabalhadores em geral. Outro fato que devemos lembrar foi a criação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em 1955. Trata-se de uma entidade formada por sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. O DIEESE contribuiu para o advento do “novo sindicalismo” que foi decisivo para o fim do regime de primeiro de abril de 1964, quando havia uma contração do movimento sindical e dos trabalhadores como um todo, e bem que poderia gerar novos movimentos agora, motivos não faltam.
Denúncias do DIEESE
Ao final da euforia de um suposto “milagre econômico”, o DIEESE fez uma grave denúncia de manipulação do governo dos índices econômicos de 1973. Era o prelúdio do “novo sindicalismo”, da retomada das entidades de classe e reorganização do movimento sindical. No entanto, o DIEESE continua sendo fundamental, quando denuncia mensalmente que o salário mínimo – criado na Era Vargas, em 1936- está muito abaixo do necessário, levando em conta a Constituição vigente hoje no Brasil.
Quem quer desobedecer nossas leis?
Ora, desde a Constituição de 1946, o salário mínimo deveria manter não apenas o trabalhador, como a sua família; o que foi devidamente garantido na Constituição Cidadã de 1988. Para o DIEESE, o salário mínimo necessário no mês de setembro era de R$ 6.306,97 (muito abaixo do atual de R$ 1212,00). Contudo, não temos hoje no nosso país, uma resposta à altura da sociedade.
A partir de 1990, mudanças e permanências
De 1990 em diante houve o avanço do neoliberalismo no Brasil, com os governos Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Tivemos mudanças, mas também temos permanências.
Desde o Império até 1967, o produto mais importante de exportação do Brasil foi o café, e depois foi a soja – a partir da década de 1990. Enquanto o Brasil continuava um país agrário-exportador, acontecia a ampliação do setor de serviços; do adoecimento, individualização e solidão no local de trabalho; embalados pela gestão por metas como uma tendência (com vínculo direto à Participação nos Lucros e Resultados- PLR); e altas taxas de desemprego.
No primeiro ENEM, realizado em 1998, tivemos uma questão que abordava um estudo sobre o desemprego, durante a época em que ainda vivemos. Abaixo:
Um estudo sobre o problema do desemprego na Grande São Paulo (no período 1985-1996), realizado pelo SEADE-DIEESE, apresentou o seguinte gráfico sobre a taxa de desemprego:
Pela análise do gráfico, é correto afirmar que, no período considerado,
- (A) a maior taxa de desemprego foi de 14%
- (B) a taxa de desemprego no ano de 1995 foi a menor do período
- (C) a partir de 1992, a taxa de desemprego foi decrescente
- (D) no período 1985-1996, a taxa de desemprego esteve entre 8% e 16%
- (E) a taxa de desemprego foi crescente no período compreendido entre 1988 e 1991
Vamos analisar esta questão?
O gráfico apresenta taxas que variam entre 8 e 16%, conforme a alternativa D, que está correta. A maior taxa de desemprego foi de 16%, e durante todo o gráfico há oscilações, diminuindo e aumentando as sempre altas taxas de desemprego- como no período entre os anos 1988 e 1991. Atenção e calma, para interpretar o gráfico ajudam a responder adequadamente a alternativa correta. Mas ajuda ainda mais saber que os dados presentes neste esquema, são uma lasquinha de algo imenso, que mencionarei abaixo, com uma reflexão a partir de Darcy Ribeiro.
Esta questão é muito fácil, nos mostra o que é essencial na fase histórica em que estamos, da República Neo liberal. A partir de 1990 no nosso país, a crise do emprego não é propriamente uma crise, e sim um projeto!
Foto: Charge política que faz uma denúncia dos nossos tempos. Há diversas maneiras de estimular o desemprego, entre elas a promoção do trabalho por conta, ou do trabalho empreendedor e individual, e das variadas formas de trabalho sem registro em carteira profissional. Sobra trabalho, mas falta emprego, como dizia o professor Igor Moreira.
Rafael Freitas é professor de História da Rede de Ensino Mauá, um historiador alvoradense.
Criador de “Lascas da História”, coluna voltada para dicas de estudo para provas de ENEM e vestibulares, com foco na disciplina de História.
Mas uma História entendida como uma ciência, onde cada fato – por mais marcante que seja – é sempre uma lasquinha de algo bem maior.
Contatos: professor.freitas.rafael@gmail.com