Em 2021, nos Estados Unidos, aconteceram pedidos de demissão em massa, greves e boicotes ao trabalho temporário, em meio a um aumento da aprovação popular aos sindicatos. Este movimento ganhou muita força durante a pandemia do COVID-19, se desenvolveu e hoje leva o nome de “A grande resignação” ou comunidade antitrabalho.
Uma comunidade, por ocorrer nas redes sociais, e um movimento, por extrapolar a internet e chegar no mundo do trabalho estadunidense: estimulando demissões, organização dos trabalhadores, paralisações, promovendo ideias sobre a abolição do trabalho como conhecemos hoje, principalmente nos Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, onde o mercado de trabalho é desregulamentado, como bem lembrou uma leitora da coluna Lascas da História. A Samanta Santos, que comentou a publicação de minha autoria, com o título “Sobra trabalho e falta emprego”, com as seguintes palavras: “EUA não tem toda essas leis trabalhistas igual no Brasil e mesmo assim as pessoas são capazes d TD pra ir pra lá.”
E, realmente, nos Estados Unidos não existe CLT, quase inexistem leis trabalhistas, e ainda assim, muitos brasileiros sonham em ir morar por lá. Muitos conseguem realizar seus sonhos, entre eles de trabalhar neste país, sem registro em carteira profissional, sem férias remuneradas, em uma pátria sem Sistema Único de Saúde. E este é o contexto do movimento antitrabalho, que nos mostra a ausência de unanimidade quanto o sonho de se tornar estadunidense, sendo um imigrante que foi capaz de tudo para ir a este destino.
O Enfermeiro da noite
Uma dica de filme para percebermos a precariedade no trabalho nos Estados Unidos, baseado em fatos reais sobre um dos maiores assassinos em série da História, é “O enfermeiro da noite”. Uma personagem que destaco é a enfermeira Amy Loughren, que trabalha muitas vezes tendo crises cardíacas, e não tem como cuidar de sua saúde, já que ela não tem direitos trabalhistas, e então vemos diversas cenas angustiantes de atendimentos a pacientes enquanto a enfermeira está com falta de ar, palpitações, e por aí vai.
O liberalismo está na História dos Estados Unidos desde seu surgimento, com uma revolução que acabou com algo ainda pior que o liberalismo, as Treze Colônias varreram o absolutismo da América do Norte. Vejamos uma questão do ENEM que trata sobre os Estados Unidos:
Em 4 de julho de 1776, as treze colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados Unidos da América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens e apregoavam como seus direitos inalienáveis: o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o poder dos governantes, aos quais cabia a defesa daqueles direitos, derivava dos governados.
Esses conceitos revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior vigor e amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na França.
Emília Viotti da Costa. Apresentação da coleção. In: Wladimir Pomar. “Revolução Chinesa”. São Paulo: UNESP, 2003 (com adaptações).
Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA e da Revolução Francesa, assinale a opção correta.
a ) A independência dos EUA e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto histórico, mas se baseavam em princípios e ideais opostos.
Errada. A independência foi das Treze Colônias, os Estados Unidos surgiram depois. Mas a questão não é esta, os dois fatos históricos citados na alternativa, tinham a mesma base teórica: o liberalismo.
b) O processo revolucionário francês identificou-se com o movimento de independência norte-americana no apoio ao absolutismo esclarecido.
Errada. Os dois movimentos foram liberais, e o liberalismo surgiu para acabar com o absolutismo, seja ele esclarecido ou não, tanto faz.
c) Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo reconhecimento dos direitos considerados essenciais à dignidade humana.
Correta. Mas nem tanto. Para o ENEM, essa era a alternativa certa. Mesmo que os direitos fossem para os homens, brancos, burgueses, mas não para todas as pessoas. A Independência das Treze Colônias e a Revolução Francesa mantiveram a escravidão negra. Em resposta a isso, que no Caribe aconteceu a Revolução Haitiana.
d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da independência norte-americana.
Errada. A alternativa inverte a ordem dos acontecimentos. A Independência das Treze Colônias veio antes.
e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das colônias ibéricas situadas na América.
Errada. Essa alternativa pôde enganar alguns vestibulandos, visto que a Revolução Francesa influenciou diversas independências na América, afinal todas foram teoricamente liberais. Mas o Pacto Colonial se manteve com a revolução dos liberais franceses, inclusive no período tido como mais radical, o jacobino, que propôs somente o fim da escravidão nas colônias. O direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade, não era para todos.
Nota de rodapé
Nos Emirados Árabes Unidos, país do Oriente Médio, os trabalhadores do governo e de escolas têm jornada semanal de quatro dias e meio. O objetivo é aumentar a produtividade, por meio da melhora do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Na Constituição brasileira, o lazer é um direito fundamental e social, presente em quatro artigos. Nos Emirados Árabes Unidos, alguns trabalhadores possuem o que aqui nos falta, um tempo considerável para não trabalhar e viver o que mais a vida tem para oferecer.
Foto: Registro tirado da BBC, em reportagem intitulada: “Greves e pedidos de demissão em massa: o movimento que pode resultar em ‘CLT’ nos EUA”.
Rafael Freitas é professor de História da Rede de Ensino Mauá, um historiador alvoradense.
Criador de “Lascas da História”, coluna voltada para dicas de estudo para provas de ENEM e vestibulares, com foco na disciplina de História.
Mas uma História entendida como uma ciência, onde cada fato – por mais marcante que seja – é sempre uma lasquinha de algo bem maior.
Contatos: professor.freitas.rafael@gmail.com