Na pacata cidade de Rio Grande, na década de 70, um mistério assombrava a Rua 2 de Novembro, onde se encontra até hoje o Cemitério Católico. Era uma época em que a noite trazia consigo um medo ancestral, e o crepitar dos galhos ao vento parecia sussurrar histórias de criaturas fantásticas. Entre todas, a que mais arrepiava os moradores era a do famoso “Lobisomem do Cemitério”.
O surgimento da Lenda
As histórias sobre o Lobisomem começaram a circular entre os moradores no início dos anos 70. Eram tempos mais simples, onde a imaginação corria solta nas noites escuras e nas rodas de conversa. Os primeiros relatos falavam de uma criatura horrenda que aparecia nas noites de lua cheia, vagueando entre as lápides e os túmulos do cemitério, seus olhos brilhando com um fulgor sobrenatural.
Relatos assustadores
Segundo os relatos, o Lobisomem era um ser de aparência aterrorizante, metade homem, metade fera. A pele coberta de pelos grossos e negros, garras afiadas e um uivo que gelava até os ossos mais corajosos. Os sons da madrugada, que antes passavam despercebidos, passaram a ser ouvidos com um novo temor. Latidos de cães, vento uivante e até o farfalhar das folhas pareciam anunciar a presença da criatura.
Alguns moradores juravam ter visto o Lobisomem de perto. Contavam histórias de encontros em noites nebulosas, onde o ser surgia do nevoeiro, suas garras reluzindo sob a luz pálida da lua. O pavor dessas experiências fazia com que poucos ousassem se aproximar do cemitério após o anoitecer.
Impacto na comunidade
A lenda do Lobisomem do Cemitério rapidamente se espalhou, ganhando vida própria. Tornou-se tema de conversas sussurradas em bares, de histórias contadas ao redor de fogueiras e de advertências dos pais aos filhos. “Não fiquem fora de casa à noite”, diziam. “O Lobisomem pode estar à espreita.”
Essa história fez parte da identidade da cidade, uma lenda que misturava medo e fascínio. O cemitério, já um local de descanso eterno, ganhou uma aura de mistério ainda mais densa, e a Rua 2 de Novembro tornou-se sinônimo de aventura para os mais jovens e de cautela para os mais velhos.
Reflexões sobre a Lenda
A presença do Lobisomem do Cemitério na memória coletiva de Rio Grande é mais do que uma simples história de terror. É um reflexo dos medos e das crenças de uma época em que a fronteira entre o real e o sobrenatural era mais tênue. As lendas urbanas como essa desempenham um papel importante em conectar a comunidade, oferecendo uma forma de identidade e de narrativa compartilhada.
Hoje, ao caminhar pela Rua 2 de Novembro, o cemitério permanece como um marco da cidade, carregando consigo os ecos das histórias do passado. Embora a figura do Lobisomem possa ter se desvanecido com o tempo, a lenda continua viva, passando de geração em geração, como um lembrete das noites em que a imaginação correu solta e o sobrenatural parecia estar a apenas um passo de distância.
Em Rio Grande, a lenda do “Lobisomem do Cemitério” é um patrimônio imaterial, um conto que se entrelaça com a história da cidade, lembrando a todos que, às vezes, as histórias mais assustadoras são aquelas que moram ao lado, entre as lápides de um cemitério antigo e a escuridão de uma noite sem lua.
Adair Rocha é tradicionalista, declamador e líder com experiência na preservação e promoção da cultura gaúcha. Sua jornada incluiu a subcoordenadoria da 1ª Região Tradicionalista em Alvorada, onde coordenou e apoiou iniciativas tradicionalistas, fortalecendo os laços culturais na comunidade.
Como comunicador de rádio, envolveu-se na difusão da cultura gaúcha, compartilhando histórias, músicas e eventos relevantes para a comunidade tradicionalista.
Como patrão do CTG Amaranto Pereira por quatro anos, liderou e desempenhou papel crucial na organização de eventos, promoção de atividades culturais e na representação da entidade. Atualmente é conselheiro na Fundação Cultural Gaúcha do MTG/RS.