Nos tempos dos padres jesuítas, nas terras dos Sete Povos das Missões, situava-se o povoado de Pirapó, um lugar onde a fé e a cultura indígena se encontravam de maneira intensa e transformadora. Lá, vivia um índio enigmático, cuja presença era quase imperceptível, como a de um fantasma. Este homem, conhecido por todos como Angoéra, que em guarani significa “fantasma”, era uma figura melancólica e solitária, constantemente se escondendo nos matos e nos peraus, evitando qualquer contato humano.
Angoéra era conhecido por sua aversão à igreja, fugindo dela como o diabo foge da cruz. Sua alma parecia atormentada, e a tristeza era sua única companheira. Os padres jesuítas, comprometidos com a missão de evangelizar os povos indígenas, observavam com pesar a situação daquele homem, desejando trazer-lhe a paz espiritual que ele tanto necessitava.
Os padres, com sua imensa paciência e dedicação, não desistiram de Angoéra. Dia após dia, rezavam por ele e, ocasionalmente, tentavam se aproximar, oferecendo palavras de conforto e esperança. No início, Angoéra resistia ferozmente, mas aos poucos, algo dentro dele começou a mudar. Talvez fosse a persistência dos padres ou a silenciosa força da fé, mas o coração de Angoéra começou a amolecer.
Finalmente, em um dia que parecia ser como qualquer outro, Angoéra aceitou ser batizado. A transformação foi profunda e imediata. O índio triste e recluso deixou de existir, dando lugar a um novo homem. Recebeu o nome cristão de Generoso, e sua vida se encheu de luz e alegria. A tristeza que antes dominava seu ser foi substituída por uma felicidade contagiante.
Generoso tornou-se um membro ativo da comunidade, participando das missas e das festividades com entusiasmo. Era agora conhecido por sua generosidade e por seu espírito festivo. Os habitantes de Pirapó não podiam acreditar na mudança que testemunharam; o fantasma que antes vagava solitário pelos rincões escondidos havia se tornado um amigo leal e querido por todos.
A lenda de Angoéra, o índio que se transformou em Generoso, passou a ser contada de geração em geração, como um exemplo do poder da fé e da perseverança. Até hoje, nos Sete Povos das Missões, a história desse índio que encontrou redenção e alegria é lembrada com carinho, simbolizando a união entre culturas e a força do espírito humano em busca de paz e felicidade.
Adair Rocha é tradicionalista, declamador e líder com experiência na preservação e promoção da cultura gaúcha. Sua jornada incluiu a subcoordenadoria da 1ª Região Tradicionalista em Alvorada, onde coordenou e apoiou iniciativas tradicionalistas, fortalecendo os laços culturais na comunidade.
Como comunicador de rádio, envolveu-se na difusão da cultura gaúcha, compartilhando histórias, músicas e eventos relevantes para a comunidade tradicionalista.
Como patrão do CTG Amaranto Pereira por quatro anos, liderou e desempenhou papel crucial na organização de eventos, promoção de atividades culturais e na representação da entidade. Atualmente é conselheiro na Fundação Cultural Gaúcha do MTG/RS.