A lenda da Cruz de Ferro começa em uma época remota, quando as terras ao redor do Morro Fagundes eram ainda mais selvagens e inexploradas, envoltas em mistério e magia. Dizem que, naquela região, vivia um homem solitário, de nome desconhecido, cujas origens eram tão incertas quanto sua fortuna. Ele vagava pelos campos e florestas, evitando contato com outros, carregando consigo apenas o necessário para sobreviver. Muitos o consideravam um eremita, outros acreditavam que ele guardava um segredo sombrio.
Certo dia, esse homem chegou à cidade de Montenegro, onde, por um golpe de sorte ou talvez por obra do destino, encontrou um tesouro de imenso valor. Ninguém sabe ao certo como ele o encontrou ou de onde ele surgiu, mas o fato é que aquele tesouro era capaz de mudar a vida de qualquer um. Contudo, o homem, que não tinha família, amigos ou laços que o prendiam a alguém, decidiu não revelar sua descoberta a ninguém. O peso da solidão que carregava parecia maior que o brilho do ouro.
Com o tesouro em mãos, o homem começou a pensar no que fazer com tanta riqueza. Após muita reflexão, tomou uma decisão que surpreenderia qualquer um: decidiu esconder o tesouro para que ninguém o encontrasse. Acreditava que a fortuna traria apenas problemas, inveja e disputas, sentimentos que ele havia aprendido a evitar ao longo de sua vida solitária. Assim, partiu em silêncio para o Morro Fagundes, um lugar isolado e coberto por uma densa vegetação, onde a natureza parecia intocada.
Ao chegar ao topo do morro, escolheu um local especial, onde a terra era macia e o vento soprava suavemente, como se a natureza o estivesse acolhendo. Ali, ele cavou uma profunda cova e enterrou seu tesouro. Para marcar o local, usou uma barra de ferro que havia trazido consigo. Com mãos calejadas, ele moldou a barra em forma de cruz e a fixou sobre um pedestal de pedra, criando assim um símbolo de proteção e de segredo.
Mas o homem sabia que uma simples cruz de ferro poderia ser facilmente encontrada, então decidiu plantar flores ao redor dela, para disfarçar sua presença. Essas flores, no entanto, não eram comuns. Eram plantas de origem desconhecida, de cores vibrantes e formas peculiares, que ele havia coletado em suas longas jornadas por terras distantes. As flores cresceram rapidamente, formando um círculo ao redor da cruz, criando uma cena tão bela quanto misteriosa.
Com o tempo, o homem envelheceu e desapareceu sem deixar rastros. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido com ele. Algumas pessoas diziam que ele simplesmente se afastou para morrer em paz, como fazia todo animal velho e cansado. Outras acreditavam que ele se tornara parte do próprio morro, fundindo-se à terra que tanto amara.
A história do tesouro e da Cruz de Ferro começou a se espalhar entre os moradores da região, ganhando ares de lenda. Muitos tentaram encontrar o tesouro, guiados pela cobiça ou pela simples curiosidade, mas todos falharam. A cada tentativa, as flores ao redor da cruz pareciam florescer ainda mais, como se protegessem o segredo enterrado ali.
Alguns que se aproximaram demais do local dizem que sentiram uma estranha energia emanando da cruz, uma força invisível que os fazia recuar. Outros afirmam que, durante a noite, as flores ao redor da cruz emitem um leve brilho, como se estivessem guardando o tesouro com zelo.
E assim, a Cruz de Ferro permanece ali, no Morro Fagundes, rodeada por flores que ninguém consegue transplantar ou cultivar em outro lugar. A lenda sobrevive ao tempo, alimentada por sussurros e mistérios, lembrando a todos que, às vezes, a verdadeira riqueza não está no ouro ou na prata, mas nos segredos que guardamos e nas escolhas que fazemos ao longo da vida.
Até hoje, a Cruz de Ferro e suas flores continuam a desafiar a passagem do tempo, como um lembrete de que nem tudo deve ser encontrado e que, em meio à solidão, podem surgir as histórias mais fascinantes e duradouras.
Adair Rocha é tradicionalista, declamador e líder com experiência na preservação e promoção da cultura gaúcha. Sua jornada incluiu a subcoordenadoria da 1ª Região Tradicionalista em Alvorada, onde coordenou e apoiou iniciativas tradicionalistas, fortalecendo os laços culturais na comunidade.
Como comunicador de rádio, envolveu-se na difusão da cultura gaúcha, compartilhando histórias, músicas e eventos relevantes para a comunidade tradicionalista.
Como patrão do CTG Amaranto Pereira por quatro anos, liderou e desempenhou papel crucial na organização de eventos, promoção de atividades culturais e na representação da entidade. Atualmente é conselheiro na Fundação Cultural Gaúcha do MTG/RS.