No mundo todo, existem variadas formas de organização econômica, política e cultural, bem como diversos formatos de educação e ingressos para as universidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, o equivalente ao Enem, é chamado de teste de aptidão escolar (em inglês: scholastic aptitude test); na Rússia é o exame estatal unificado; na França é o baccauléarat, uma mera formalidade para a inserção no ensino superior; na China, o gaokao, que só pode ser realizado uma vez na vida (imagine o stress, não é por acaso que a prova causou suicídio de vestibulando e é bastante questionada pelos chineses). Principalmente na América existem países onde quase inexistem vestibulares, como no Paraguai (na maioria das universidades não há), na Bolívia (não realizam-se esses exames nas universidades públicas) e em Cuba, onde a seleção é por meio das melhores notas durante o ensino médio. Mas, e onde o vestibular é crime?
Em um país vizinho, desde 2015, com a aprovação da “Lei de educação Superior”, foi instituído que “todas as pessoas que aprovem a educação secundária podem ingressar de maneira livre e irrestrita na Educação Superior”: na Argentina, o vestibular foi abolido, por decreto. E qual a importância de averiguar as formas de ingresso nas universidades, nos distintos países que nos cercam? Ora, o acesso à educação é um direito social, e para muitos sérios e competentes intelectuais, a democracia é composta por direitos civis, políticos e sociais.
Como estamos em um ano eleitoral, com ameaças gravíssimas de golpe, é perceptível a importância do voto, do direito a fazer campanha e de não ser assassinado por ter determinada preferência partidária, em uma comemoração de aniversário ou conversa em um bar. Mas a simples existência das provas de vestibulares e do Enem, também mostram que nossa democracia está bastante incompleta.
Tolerância com disformidades históricas para obter aprovação
Para o avanço da democracia brasileira, considero essencial que sejam abolidas todas as formas de seleção para ingresso nas universidades no nosso país. Enquanto isso, a maior parte dos trabalhadores, está empregada em profissões que nada possuem em comum com suas respectivas vocações ou preferências pessoais. Sendo que estes estão ainda melhores que os cerca de 10,6 milhões de brasileiros desempregados hoje – 9,8% no trimestre encerrado em maio de 2022. Como minha doxa, muito pouco vale, ainda temos no Brasil as provas que excluem vários estudantes, embora o ENEM, o Sisu, o ProUni, o Fies e as cotas, tenham humanizado um pouco todo este processo. Em outras palavras, enquanto existir vestibular, a educação universitária não será um direito universal.
A despeito disto, a quem quiser estudar, estudar e estudar para conquistar ascensão social através da preparação para as provas de Enem e vestibulares e consequente aprovação, colocarei aqui nesta coluna, umas lasquinhas do que sei sobre a História, alertando que em muitas ocasiões, tais questões e alternativas corretas, explicitam posicionamentos que considero superficiais e mentirosos. Não obstante, nem tudo são espinhos.
Qual é a tua opinião?
Por outro lado, algumas indagações são profícuas. Vejamos, basta pesquisar as provas do ENEM para verificar que a guerra que agora está acontecendo, envolvendo a Rússia e a Ucrânia, resulta de uma crise bem anterior à invasão ocorrida em 24 de fevereiro de 2022. Uma questão do Enem, de 2020 tem o seguinte enunciado: ”O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e dois líderes da Crimeia assinaram, em março de 2014, um acordo para tornar a República Autônoma parte da Rússia. O tratado foi assinado dois dias após o povo da Crimeia aprovar em um referendo a separação da Ucrânia e a reunificação com a Rússia. A votação foi condenada por Kiev e pela comunidade internacional, que a considera ilegítima.”.
Por agora a pergunta e a resposta, não possuem relevância, mas eu proponho um questionamento: a Criméia, que possui identidade cultural com a Rússia, não deveria ter sua soberania nacional ou a sua liberdade, respeitadas? Me dê tua opinião nos comentários, ou por e-mail, se quiser participar do debate.
Foto: Aplicação do gaokao na China, o maior vestibular do mundo
Rafael Freitas é professor de História da Rede de Ensino Mauá, um historiador alvoradense.
Criador de “Lascas da História”, coluna voltada para dicas de estudo para provas de ENEM e vestibulares, com foco na disciplina de História.
Mas uma História entendida como uma ciência, onde cada fato – por mais marcante que seja – é sempre uma lasquinha de algo bem maior.
Contatos: professor.freitas.rafael@gmail.com