Foto: Leonardo Lenskij / Divulgação / OA

Epidemia generalizada de HIV na região Metropolitana de Porto Alegre e alta prevalência de sífilis em todas as macrorregiões do Estado. Em contrapartida, o desconhecimento e baixa adesão da população a respeito de práticas preventivas. É o que aponta o estudo Atitude, desenvolvido desde 2020 pelo Hospital Moinhos de Vento por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde (SES). Os resultados do estudo, que mapeia dados populacionais sobre a prevalência do HIV (vírus da imunodeficiência humana, causador da AIDS), da sífilis e das hepatites B e C no Rio Grande do Sul, foram divulgados na última quinta-feira (15).

Os resultados mostram que a diferença relativa de casos de HIV entre a Região Metropolitana e as demais regiões sugere a existência de uma epidemia generalizada de HIV nos entornos de Porto Alegre. Já no caso da sífilis, a prevalência é alta em todas as macrorregiões – foram encontrados cerca de 10 vezes mais casos do que das demais infecções incluídas no estudo. Os exames laboratoriais dos 8.006 participantes confirmaram 558 casos de sífilis, 81 casos de HIV, 26 casos de hepatite B e 56 casos de hepatite C.

A pesquisa mapeou o comportamento, as práticas e as atitudes da população em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) em 56 municípios de todas as macrorregiões do Estado, selecionados via sorteio. O Atitude coletou dados dos participantes, com aplicação de questionário e coleta de sangue. É o primeiro estudo que inclui o teste de sorologia no Brasil.  Segundo a líder do projeto, a epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento dra Eliana Wendland, o estudo foi feito para servir de base para políticas públicas em nível de estado e de município. “A ideia é que sirva como um projeto piloto para futuros estudos nacionais, uma vez que é a primeira PCAP (Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira) com confirmação sorológica feita no Brasil”, destaca.

Uma epidemia generalizada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, caracteriza-se quando a prevalência de pessoas vivendo com a infecção é de mais de 1%. Isso indica que a epidemia deixou de estar concentrada em determinados grupos populacionais – nesse caso, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo – para se espalhar pela população em geral. Na região Metropolitana, a estimativa é que a prevalência de HIV seja de 1,64%.

“O grande desafio será elaborarmos, em termos de políticas públicas, abordagens diferentes para cada agravo, levando em consideração a transmissão para a população geral. Teremos de olhar de forma um pouco diferente do que vínhamos olhando até então. Só assim conseguiremos quebrar essa cadeia de transmissão dessas infecções. Os números da sífilis são parecidos com o que tínhamos em 1950 e, se olharmos para a epidemia de HIV na região Metropolitana, são os maiores números da América Latina”, pondera Eliana.

Além da alta prevalência de confirmação das infecções, a pesquisa também avaliou o nível de conhecimento e de prevenção, por meio dos hábitos comportamentais, da população gaúcha. “Mesmo depois de vários anos, o desconhecimento sobre essas infecções continua muito parecido e a transmissão vem aumentando. O uso de preservativos é muito baixo, especialmente entre os mais velhos”, destaca Eliana.

Políticas públicas

Uma vez que o principal objetivo do estudo é ser instrumento para o aperfeiçoamento de políticas públicas de prevenção, o Ministério da Saúde e os municípios envolvidos no estudo foram convidados a acompanhar a apresentação dos resultados.

 “Os dados reunidos pelas equipes são uma oportunidade ímpar de agir de forma efetiva para frear essa epidemia de infecções sexualmente transmissíveis. O estudo Atitude é mais um exemplo da importância da parceria com o Proadi-SUS para o Hospital Moinhos de Vento, na medida em que permite que façamos a diferença também na saúde pública do Estado e do Brasil”, destaca o superintendente de Responsabilidade Social e Governos da instituição, Luis Eduardo Mariath.

O estudo Atitude traz um panorama atualizado e aprofundado em relação às PCAP anteriores, que se limitavam a análises para a região Sul do Brasil, sem dados específicos para o Rio Grande do Sul e suas macrorregiões. “Acompanhamos os dados do Rio Grande do Sul – e nos preocupamos com eles – há bastante tempo. Há alguns anos, incrementamos uma série de ações, regionalizando e ampliando atendimentos e o acesso à testagem. Agora, diante desses dados estratificados, será possível focalizar ações mais específicas para as regiões de maior prevalência”, conta a chefe da Divisão de Unidades Próprias da Secretaria Estadual da Saúde, Letícia Ikeda.

Proadi-SUS

O Hospital Moinhos também lidera e participa de uma série de estudos realizados por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). Atualmente, a Instituição possui 37 projetos aprovados junto ao Ministério da Saúde, os quais repercutirão em maior qualidade no atendimento à população de todo o país. Entre as iniciativas, estão pesquisas sobre prevenção ao AVC, assistência em asma e prevalência de HPV entre jovens.

Foto: Leonardo Lenskij / Divulgação / OA