E, de repente, às nossas aspirações de um mundo futuro começam a nos apresentar, em um curto espaço de tempo, uma evolução tecnológica sem precedentes sinalizada pelos múltiplos artefatos que passamos a utilizar em nosso cotidiano.
Essa intrincada profusão de utensílios facilita e promove uma acelerada e crescente comunicação de toda essa diversidade de culturas existentes ao redor de nosso planeta. E, embora nem todos tenham acesso, por enquanto não discutiremos aqui, neste momento, os fatores que imprimem essa exclusão por suas causas e efeitos que lhes são próprias e merecem detalhamentos não suportados no presente espaço.
Tal diversidade humana é tão ampla quanto o número de agentes envolvidos. E se toda essa espécie pensante fosse contemplada, poderíamos contabilizar em torno de sete bilhões de pessoas. Sete bilhões de diferentes conflitos, vivendo em grupos com diferenças pessoais, regionais, estaduais, de países e continentes.
Imaginem, portanto, de qualquer forma, todos interconectados em redes sociais manifestando suas características únicas como se fossem, em seus micromundos, a verdade dos outros seis bilhões novecentos e noventa e nove milhões novecentos e noventa e nove milésimos novecentos e noventa e nove centésimos noventa e nove dezenas e nove unidades? Impossível? Não. Pois é exatamente assim que acontece com o número não computado dos que restam interligados. Os nãos excluídos. E é óbvio que essas manifestações são legítimas, porque expressa, em síntese, o ser individual dentro de um sistema coletivo. E é justamente esse sistema coletivo, esse sistema de vida em grupo que foi evoluindo desde as cavernas às grandes áreas urbanas, que obrigou a criação de códigos de convívio denominado leis. A não atenção aos códigos que permitem com que os seres humanos se relacionem respeitando os espaços alheios, o pensamento alheio, a divergência do manifesto na sociedade, pode promover, sem dúvida, o desequilíbrio entre esses conflitos ao ponto de a propalada volta às cavernas ser citada diante da gravidade do que assistimos e do esgotamento das alternativas passíveis de testagem na obtenção de resultados positivos.
Desde que saiu das cavernas o ser humano experimentou comunicar-se à distância, desde o tambor aos sinais de fumaça, do correio ao telégrafo, do telefone à rádio e à internet, isso sem que tenhamos contemplado alguns meios a que não nos referimos.
Essa estrutura social historicamente construída, independente dos seus méritos favoráveis ou contrários, fez com que chegássemos ao nosso “de repente” de um mundo tecnologicamente desenvolvido atropelado pelas calorosas discussões que acirraram os abismos dos contrários, dos favoráveis e dos “antes pelo contrário”. Todos os pontos de vista são acusatórios. Uns acusam os outros de irracionais nas redes sociais. E todos são oniscientes, onipresentes, benevolentes e amáveis. Em resumo, promovem o perigo da falsa verdade como se a possuísse de forma absoluta. Falam em bullying, preconceitos etecetera, como se não os promovessem subliminarmente. O “dono da verdade” não imagina a ferida deixada na alma do outro dissimulado pela suave aspereza de seus ataques. Só o outro sente o que o algoz ignora.
As redes sociais simulam a vida através de frias máquinas. A cibernética de Aldous Huxley, em seu Admirável Mundo Novo, ou O Êxtase Internáutico e a destituição do Pensamento, de Mário Jorge Pereira Dias (ed. Saraiva), discutem e nos convidam para que com essas leituras possamos saber se há ou não a saída de tais confrontos. Se desnecessários ou não. Já sabemos de antemão que não, que todas as certezas são incertas, em todos os campos. Isso é bom ou é ruim? É relativo ou não? A cibernética, ciência nascida em 1942, impulsionada por Norbert Wiener e Arturo Steasus, em 1950 recebe a proposta teórica de William Ashby sobre a inteligência artificial como algo tão improvável haja vista a confusa e delirante discussão que era imaginar o controle da relação entre o animal e a máquina.
Darci Ribeiro no seu ensaio O Óbvio, em seu livro Ensaios Insólitos, inicia sua reflexão falando que o grande perigo de tirarmos o véu de algo é o fato de vermos que atrás dele tem outro véu a ser retirado e assim por diante. Quando desvendamos algo atrás deste algo outro algo está lá, esperando para ser desvendado.
O que Darci se esqueceu de dizer, talvez porque nesse texto a sua intenção fosse fazer um resumo da história da educação no Brasil e não diretamente se referia a um ensaio futurístico sobre a questão cibernética embora tenha deixado bem claro sobre quais valores se apoiava a nossa histórica relação entre as classes dominantes e dominadas, usando a alegoria dos véus e da tetra que Deus havia nos pregado colocando véus sobre as verdades, é que se trocássemos a alegoria dos véus por uma que promovesse o descascar de cebolas, teríamos a chance de chegarmos a seu miolo. Sim, aí teríamos a chance de êxito e domínio de quaisquer questões.
Outro ser humano foi construído em um espaço de tempo muito curto. Um ser humano que foi se transformando muito “de repente”, tão “de repente” quanto a sua tecnologia desenvolvida. Uma tecnologia que não permitiu, como se pretendia, que os valores afetivos, sociais e culturais acompanhassem esse processo. Parece que “o tiro saiu pela culatra” e as previsões cibernéticas estão a se comprovar. A história humana cujo fim não se sabe, embora as predições dos profetas, tem nos mostrado a tênue divisão entre a máquina e o animal pensante que a manipula. Uma divisão tão frágil e estreita que parece estar perdendo o controle. E essa história se escreve sob outros parâmetros. Todos ladrilhando de incertezas nossos caminhos.