Na segunda reportagem da série “20/7: O dia que Alvorada parou”, o jornal O Alvoradense reencontra uma figura emblemática durante toda a tragédia que abalou a cidade em 2015. José Damião Santos abrigou mais de uma centena de animais, entre cachorros e gatos, em um ônibus velho, no pior momento da enchente. Entre os resgatados, muitos dos que já estavam sob sua guarda, alguns de rua e outros tantos que se perderam de seus donos em meio ao caos que se abateu sob à cidade naqueles dias.

Sua história, que acabou ganhando repercussão nacional há um ano, é bem anterior à tragédia e segue até hoje. Ele e a esposa Carla Tonhin começaram acolhendo os cães em casa, no pequeno terreno na rua Americana. Aos poucos se expandiram para uma área pública em frente à casa, destinada a uma praça, mas que estava abandonada e acabou ocupada pela “Arca do José” – como é conhecido o trabalho desenvolvido pela família.

“Ou nós ocupávamos o terreno ou a bandidagem ia tomar conta”, sentencia Carla, que acompanha o marido no amor aos “peludinhos”, como ela diz. Hoje o casal, ambos desempregados no momento, comemora a ajuda de algumas pessoas, principalmente no que se refere à castração da maioria dos animais. “Queremos castrar todos”, afirmam. Mas lamentam que alguns apareceram somente na época das cheias e nunca mais mandaram nem um quilo de ração. “Precisamos de comida e remédios, são muitos animais e são poucos os que ajudam, apesar de valiosos”, avalia José.

Quantos ao dinheiro e terreno entregue ao projeto por um suposto doador alemão, conforme noticiado pela imprensa em 2015, eles brincam pedindo o número da conta e o endereço do sítio. “Porque não nos chegou nada assim grandioso, além das doações da comunidade.”

Outro problema é quanto às adoções, que são poucas e nem sempre bem sucedidas. “Pior do que não adotar, é levar e devolver. O bicho sofre e nós também, muitos deles voltam brabos, e fica difícil lidar com um animal assim”, contam.

Mas a maior batalha que estão enfrentando agora é com relação ao terreno que ocupam. A Prefeitura pediu a reintegração de posse e o juiz, durante a audiência, encaminhou o caso ao Ministério Público que determinou que a administração municipal encontre uma solução: entrega o terreno ou encontra outro local para alojar a “Arca do José”. “O ideal seria que saíssemos daqui, para longe das enchentes. Mas qualquer solução será bem vinda para poderemos levar adiante o projeto de fazer um santuário para os cães de rua”, projeta Carla.

Eles não estão pessimistas quanto a possibilidade da repetição do drama, mas “seguro morreu de velho”. Por isso, nos fundos do terreno a caçamba de um caminhão baú batido é o plano B em caso de nova enchente. “Pelo menos poderemos passar a noite ali, sob um teto, eu e os cachorros”, projeta José.

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Fonte: Mariú Delanhese / O Alvoradense