A história conta que arroz de china pobre remonta aos tempos da Revolução Farroupilha, um dos períodos mais marcantes da história do sul do Brasil. De 1835 a 1845, o Rio Grande do Sul foi palco de uma guerra civil que se arrastou por uma década, deixando a população em um estado de miséria e escassez. Em meio a esse cenário de privações, surgiram histórias que simbolizam a resiliência e a criatividade do povo gaúcho, especialmente das mulheres, conhecidas como “chinas”, que viviam à margem da guerra e tinham a responsabilidade de manter a casa e alimentar suas famílias com o pouco que restava.
As “chinas”, um termo utilizado de forma pejorativa na época para se referir às mulheres de classes mais baixas, principalmente aquelas que viviam nas áreas rurais e nas cidades menores, foram as verdadeiras heroínas silenciosas do período. Muitas dessas mulheres trabalhavam em tavernas ou ofereciam serviços simples para sobreviver. Contudo, em tempos de guerra, o comércio foi severamente afetado e os recursos alimentares escasseavam. Sem os ingredientes tradicionais, como carnes ou vegetais frescos, elas precisavam ser criativas para alimentar tanto suas famílias quanto os clientes que, em busca de algo simples e barato, procuravam suas tavernas.
O “arroz de china pobre” se tornou um prato comum. A receita era simples, composta basicamente de arroz cozido com água e, às vezes, um pouco de gordura ou restos de carne. O prato não exigia muitos ingredientes e se adaptava ao que estivesse disponível. Quando não havia carne, usavam apenas arroz e banha, o que dava sabor ao alimento e saciava a fome. O prato, embora modesto, representava a habilidade dessas mulheres de transformar o mínimo em uma refeição.
O arroz de china pobre rapidamente se popularizou, não apenas pela escassez de alimentos, mas também porque carregava consigo uma história de resistência e solidariedade. Era o símbolo de uma época em que a sobrevivência dependia da capacidade de improvisar e fazer o máximo com o mínimo.
O prato também ganhou um simbolismo de união popular, pois era consumido por todos, desde soldados que lutavam nas trincheiras até os habitantes das vilas empobrecidas. No fim das contas, o arroz de china pobre transcendeu sua função alimentar, tornando-se uma expressão cultural da força e da engenhosidade das mulheres gaúchas.
Nos dias de hoje, o arroz de china pobre é lembrado não só como uma refeição simples, mas como um prato cheio de história. Ele nos conecta à memória de um período difícil e ao espírito de um povo que, apesar das adversidades, soube se reinventar e lutar pelo que acreditava. Assim, o arroz de china pobre não é apenas uma receita; é um símbolo da identidade e da cultura do Rio Grande do Sul, uma homenagem às “chinas” e à sua coragem em tempos de guerra e escassez.
Adair Rocha é tradicionalista, declamador e líder com experiência na preservação e promoção da cultura gaúcha. Sua jornada incluiu a subcoordenadoria da 1ª Região Tradicionalista em Alvorada, onde coordenou e apoiou iniciativas tradicionalistas, fortalecendo os laços culturais na comunidade.
Como comunicador de rádio, envolveu-se na difusão da cultura gaúcha, compartilhando histórias, músicas e eventos relevantes para a comunidade tradicionalista.
Como patrão do CTG Amaranto Pereira por quatro anos, liderou e desempenhou papel crucial na organização de eventos, promoção de atividades culturais e na representação da entidade. Atualmente é conselheiro na Fundação Cultural Gaúcha do MTG/RS.