Em um mês tão especial como é Março, quando simbolicamente no dia 8 refletimos sobre as lutas das mulheres e o seu empoderamento, nada mais justo que falássemos de grandes mulheres de Alvorada no futebol.
O futebol feminino é um símbolo de luta contra o preconceito.
Neste domingo, estive na estreia do Brasileirão Feminino 2017, onde três atletas alvoradenses fazem parte da equipe do Grêmio de Futebol Porto Alegrense. Equipe esta formada pela Associação Gaúcha de Futebol Feminino e que, em uma parceria inédita, cedeu todas suas atletas para vestirem a camiseta tricolor nesta competição.
Acompanhei a vitória gremista, de um a zero sobre o Vitória de Santo Antão – PE, em meio à família de uma das atletas de nossa cidade, Carol Gomes. Em especial seu Pedro, pai da atleta, em quem se vê o orgulho nos olhos a cada jogada da atleta de 21 anos.
Atleta de extrema habilidade, Carol se destacou nesta estreia e, com lances de pura habilidade, deu um show dentro do gramado para alegria do seu pai, que a todo momento se mostrava nervoso com o jogo.
Um lance chamou atenção.
Com um drible desconcertante na adversária, um torcedor na arquibancada gritou:
“Sabe tudo de bola essa guria!”
Confesso que me encantei com o futebol apresentado pela ala esquerda do tricolor.
Em meio ao jogo, conversando com seu pai, pude perceber o quanto ele apoia a menina, o que falta em outras famílias de atletas da modalidade, que acabam sucumbindo sem o mínimo de incentivo.
Aos 30 minutos do primeiro tempo, a lateral esquerda, que até o momento era sem dúvida alguma a melhor jogadora em campo, após uma entrada mais forte em uma adversária, reclamou e recebeu cartão amarelo.
As mãos do pai e fã, foram diretamente em seu rosto e o nervosismo era clarividentes pela punição recebida, pois ainda o zero marcava o placar.
“Ela sabe e eu já falei que não adianta reclamar!”, disse o paizão coruja.
Carol que durante três anos fez parte da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, moradora do bairro Umbu, não é a única atleta da cidade contratada pelo Grêmio este ano.
A atacante Bruna Gomes, atual vice campeã gaúcha pela equipe do Black show de Guaíba, também faz parte da equipe Gremista.
Pelé, como é conhecida em Alvorada, não pode fazer sua estreia na competição neste domingo.
A liberação juntamente a CBF não foi efetivada, portanto teve que acompanhar o jogo nas arquibancadas do estádio. Uma pena para quem gosta de apreciar o bom futebol.
Fernanda Santos Vieira, ou “Laranja”, é a representante de Alvorada mais experiente. Aos 34 anos, a titular da lateral direita do Grêmio, tem passagens por diversas equipes.
Atuou nos gramados do estado por grandes clubes. Já com uma passagem pelo tricolor no inicio dos anos dois mil, Laranja já atuou por longos anos no Sport Clube Internacional nos anos noventa e chegou atuar na serra gaúcha, no Juventude.
Essas são as nossas representantes alvoradenses a nível nacional, nesta competição que marca uma nova etapa no investimento ao futebol feminino, mas que ainda muito precário, sofre muito com preconceito nas questões de gênero, mas principalmente a descriminação homofóbica da sociedade.
Durante 90 minutos estive nas arquibancadas do estádio Airton Pavilhão, no centro de treinamento em Eldorado do sul da equipe tricolor.
Pude escutar e visualizar essas agressões verbais na torcida, um tanto quanto lastimável e que deve ser a cada dia mais, servir de exemplo para que possamos lutar muito contra essas atitudes bizarras, machistas e homofóbicas nos estádios.
“Vai lá Mamute!”
“Corre Pedro Júnior!”
“Agora vai entrar o Paulo Nunes!”
Frases como essas foram constantes em meio ao pouco mais de 200 torcedores que acompanhavam a partida.
“Essa joga como homem, viu o que ela fez?”
Expressões machistas e de desconstrução ao empoderamento da mulher no futebol, eram demasiadas.
Gente! A mulher não joga como homem, a mulher joga como mulher!
Ela luta por seu espaço e a sociedade extremamente machista, não cansa de oprimi-las.
Mas de outro lado, me chamou a atenção na torcida também, foi o comportamento nas arquibancadas, diferentemente da violência diária e gratuita existente entre torcedores do futebol masculino.
A torcida bradava, gritava, incentivava, aplaudia e por óbvio, não brigava. Torcedores com bacias de pipoca ofereciam aos outros iguais torcedores. Uma verdadeira festa familiar.
O respeito impera entre torcedores do futebol feminino. Um grande exemplo para o nosso esporte.
Em meio a torcedores gremistas, vez ou outra eu me pegava aplaudindo e bradando ao Grêmio, uma surpresa, pois um fiel colorado como sou, sem dúvida alguma, fui motivado pela apreensão e torcida às meninas da nossa cidade.
O futebol rompe barreiras e, até mesmo as vezes, o sentimento de amor, como o meu ao Internacional.
Meninas como essas, que fazem do esporte seu meio de trabalho e principalmente de lutar contra os preconceitos, merecem ser sempre lembradas e exaltadas no seu reduto.
Espero ao longo do ano, que a Secretaria de Cultura e Desporto de Alvorada, possa estar incentivando o futebol feminino, pois passado já 60 dias do novo governo, não há sequer um movimento a favor do esporte dentro o município.
A caneta que atualmente é do secretário Alcides Bolico, deve estar sem tinta, pois não temos nenhuma competição rolando na cidade.