Reza a lenda que no caminho que levava ao Morro da Mariazinha, existia uma lagoa cercada de mistérios. Seus habitantes a chamavam de Lagoa das Almas, um lugar onde a natureza parecia estar em sintonia com o sobrenatural.
A Lagoa das Almas era envolta por uma densa neblina que a cobria durante boa parte do ano, tornando difícil para os moradores saberem o que acontecia em suas águas escuras e profundas. Diziam que, em certas noites, quando a lua cheia se erguia no céu, figuras silenciosas e imponentes surgiam às margens da lagoa. Eram pescadores, mas não como os de carne e osso. Eles possuíam uma aura etérea, como se suas figuras fossem feitas de neblina e luz prateada. Moviam-se com uma serenidade quase hipnótica, puxando de suas redes inúmeros peixes que deixavam sobre a relva úmida.
Esses pescadores fantasmagóricos nunca interagiam com os curiosos que se aproximavam da lagoa para observar. Seus olhares fixos nas águas, alheios ao mundo exterior, mostravam a devoção à sua tarefa. Mas havia algo de perturbador na sua presença. Mesmo os mais valentes dos aldeões não ousavam se aproximar demais, pois uma aura de mistério envolvia aqueles pescadores e sua lagoa.
A tradição local alertava para o perigo de tentar pescar na lagoa. Muitos se aventuraram a jogar suas redes ou varas na água, atraídos pela abundância de peixes que os fantasmas deixavam à vista. No entanto, por mais que tentassem, os vivos nunca conseguiam capturar um único peixe. As águas pareciam se tornar estéreis sob suas mãos, e os peixes, que antes se mostravam em profusão, desapareciam como se nunca tivessem existido.
A lenda contava que esses pescadores eram, na verdade, almas penadas de antigos habitantes da região, mortos em tempos de conflito ou tragédia. Eles haviam sido condenados a proteger aquela lagoa por toda a eternidade, zelando para que nenhum mal a atingisse. Muitos acreditavam que a lagoa não tinha fundo, um abismo sem fim que conectava o mundo dos vivos ao dos mortos, e que esses pescadores eram guardiões desse portal.
Os mais antigos diziam que aqueles que tentassem prejudicar a lagoa ou suas águas sofreriam terríveis consequências. Os fantasmas não perdoavam a ousadia dos intrusos. Alguns contavam histórias de pessoas que haviam desafiado a lenda e tentado poluir ou drenar a lagoa. Essas pessoas desapareciam sem deixar rastro, ou retornavam com os olhos vazios, como se algo de vital tivesse sido arrancado de dentro delas.
Assim, a Lagoa das Almas permanecia intocada, um santuário sagrado entre os moradores de Serra Verde. O Morro da Mariazinha, com sua presença imponente, era o guardião distante desse mistério. A lenda dos pescadores fantasmas continuava a ecoar, lembrando a todos que nem tudo pode ser compreendido ou desafiado, e que certos lugares devem ser respeitados pelo que são: portais entre mundos, onde as regras da natureza são moldadas pela presença do sobrenatural.
Adair Rocha é tradicionalista, declamador e líder com experiência na preservação e promoção da cultura gaúcha. Sua jornada incluiu a subcoordenadoria da 1ª Região Tradicionalista em Alvorada, onde coordenou e apoiou iniciativas tradicionalistas, fortalecendo os laços culturais na comunidade.
Como comunicador de rádio, envolveu-se na difusão da cultura gaúcha, compartilhando histórias, músicas e eventos relevantes para a comunidade tradicionalista.
Como patrão do CTG Amaranto Pereira por quatro anos, liderou e desempenhou papel crucial na organização de eventos, promoção de atividades culturais e na representação da entidade. Atualmente é conselheiro na Fundação Cultural Gaúcha do MTG/RS.