A grande oportunidade de jogar futebol no exterior se transformou em uma experiência inesquecível para um jovem atleta alvoradense.
Pablo Juan Lucas de Souza, 21 anos, estava com o pai Rodrigo Ferraz de Souza na Ucrânia quando percebeu que a situação política poderia piorar. Acompanhando os noticiários e comentários de companheiros do clube UCSA em que atuava, resolveu deixar o país um pouco antes da invasão russa, ocorrida há duas semanas.
Pablo chegou ao Futbolniy Klub Ukrainian Christian Sport Academy, ou simplesmente UCSA, no final de julho de 2021. “Era um sonho sendo realizado (…) comecei a acreditar que era possível realizar meu sonho de criança, imagino que o mesmo de quase todas as crianças”, conta o atleta, ressaltando que o clube tinha o projeto de entrar, no segundo semestre daquele ano, na 2ª Divisão da Ucrânia.
Trajetória no Leste Europeu
O UCSA iniciou disputando um campeonato amador para preparar o elenco e entrosar a equipe. No primeiro jogo venceram de virada, por 4 x 3, marcando o quarto gol no último minuto. “Deus me abençoou com dois gols e uma assistência neste jogo. Era o começo ideal, enxergávamos tudo perfeito”, relembra o meia. Contudo, no segundo jogo, o alvoradense quebrou o quinto metatarso aos 23 minutos do primeiro tempo, mas seguiu até o intervalo “o que foi prejudicial para a lesão”.
Desanimado, com o pé quebrado, longe da família e sem poder fazer o que mais gostava, conta que passava o dia todo dormindo. O que lhe animava um pouco era a presença do pai, Rodrigo Ferraz de Souza, o Rato, que estava com ele no exterior e trabalhava no clube.
Foi quando tirou o gesso, começou o tratamento e estava próximo de voltar a jogar que iniciaram os boatos sobre a invasão. “Comecei a ler reportagens, procurar notícias e resolvemos voltar. Outros brasileiros ficaram, mas graças a Deus já estão no Brasil”, comemora Pablo. Contudo ele segue preocupado com a situação, pois fez muitos amigos ucranianos.
Hoje ele trabalha em uma pizzaria napolitana em Porto Alegre, mas segue com o sonho de voltar aos gramados.
Carreira
Criado no Porto Verde e Jardim Algarve, Pablo tem forte ligação com o Arecuja, “minha base”, equipe formadora de muitos profissionais do futebol em Alvorada.
No início de sua carreira profissional, Pablo jogava futsal no Victória, time do Morro da Cruz, de Porto Alegre. Foi o presidente desta equipe que o levou para um teste no Tamoio, de Viamão, em 2017. Naquele ano jogou o Gauchão Sub-17 ficando sem clube no final do campeonato.
Em 2019 foi para o União Harmonia, de Canoas, onde ficou até março de 2020, sendo dispensado por conta do início da pandemia.
Já no final de 2020 passou a jogar em Pernambuco, no Pesqueira FC, equipe da segunda divisão do Campeonato Pernambucano. Contudo o empresário que fez o acerto com o clube desapareceu. Não pagou a taxa de profissionalização e ele ficou sem salário e, novamente, fiquei sem clube.
Com todos esses contratempos, Pablo resolveu parar de jogar e passou a trabalhar em uma loja de materiais esportivos, ainda em 2020. E foi em abril de 2021 que recebeu o convite para a Ucrânia. “No começo eu não queria ir. Já estava descreditado, não tinha mais vontade de jogar profissionalmente, mas sempre tive muito apoio das minhas avós e da minha mãe, que me ajudaram e me incentivaram a não parar de jogar, devo tudo à elas”, conclui o atleta.
Experiência
Quanto à experiência vivida em um ambiente estranho, um país com cultura diferente e às vésperas de um grande conflito militar, ele avalia como positiva, apesar de tudo o que aconteceu. “Foi uma experiência de vida também. Mas quando o assunto é nossa segurança, não podemos brincar. Troquei meu sonho pela minha vida, minha realidade”.