Do que se espatifa restam cacos e estes carregam, por uma singela obviedade, o DNA de suas matrizes. Este DNA, embora uma referência biológica das características exportadas aos rebentos, fundidas a outras nos seres vivos, como consequência de um sistema de natureza a levar adiante os fatores hereditários de grupos, nos servem, metaforicamente, como base para reflexões fora do sistema biológico propriamente dito, e que se estendem, de acordo com os estudiosos, aos comportamentos desses seres, por mais sutis que sejam, e a empregá-lo a outras estruturas, como a mineral, por exemplo, onde alguns elementos podem compor, dentro desta perspectiva, peças de revestimento às paredes de nossas casas, como os azulejos.

Essa comparação, por mais esdrúxula que possa parecer nos é de grande utilidade às analogias pretendidas. Existe aí uma ilusão da diferença que nos aponta para um desconhecimento que já nos é conhecido, há muitos tempos ora, pois.

Operários dessa tosca obra, sabemos que os azulejos que revestem uma parede ou os ladrilhos que cobrem o chão não são desiguais. Que o desenho repetitivo que distrai o olhar, de vez em quando, em verdade, são os módulos da mesma ordem que estabelece o revestimento de nossos olhares, nossas almas, nossas vontades, o interno de nossos seres. Não há como sermos ludibriados.

O azulejo que despenca do padrão imposto ao ambiente é o mesmo que lá ficou, carrega suas características. Podemos substitui-lo, mas nunca transformaremos seu padrão. Ao contrário, se recusarmos a sua substituição, se derrubarmos as paredes que ainda mantinham o que restara do material utilizado, talvez tivéssemos chances de modificar alguma coisa sob o crivo de nossos olhares. Traçaríamos novas conexões neuronais, exercitaríamos uma verdadeira revolução diante do novo que pretendêssemos construir. Observando, como convém frisar, que revolução é aquilo que não sabemos o resultado que será obtido. Seríamos, destarte, os agentes executores dessas metáforas transformadoras, atuando no eixo central dos parâmetros sociais vigentes. Para não nos referirmos ao meloso termo “no seio da sociedade”.

O pedreiro que te ilude com a verbalização de que ele é o melhor para a tua projeção e perspectiva, que sabe sobre o teu livre arbítrio e escolhas, repetirá, à exaustão, e espertamente, aquilo que já cansou teu doce olhar, antes vigilante de teus direcionamentos interiores habitáveis de casa e memória.

A palavra que declina do triste espetáculo de acusações estapafúrdias de entidades que se dizem teus deuses e que deuses não são merecem a tua atenção e cuidado. Não se deixe enganar: muitos azulejos quebram quando retirados da parede.

Não foi encontrada ainda a solução para quebrar a parte do DNA que faz com que dos olhos jorrem a exacerbação sanguinária do que seja a sede causada pelo desejo de poder.

Examine os cacos espalhados à tua frente antes de trocar os azulejos ou derrubar as tuas paredes, de movimentar as tuas convicções. Antes de optar entre o conhecimento e o desconhecimento no que julgas ser um ou outro, saiba que as duas pontas de um mesmo fio supõe conotações estabelecidas como aceitáveis ou não aceitáveis nas perspectivas que envolvem as estatísticas sobre a opinião pública.

Se for o caso, és livre para debruçar-se sobre “a janela de overton”, sem que tenhas a obrigação de decidir, muitas vezes, qual o caminho que irás trilhar. A “janela de overton”, saiba, é o “caminho do meio”.