No dia 24 de agosto, completaram 68 anos de um importante fato histórico do Brasil. Muitas pessoas falam, e eu concordo, que o suicídio do presidente Getúlio Vargas adiou um golpe que viria somente em primeiro de abril de 1964.
Mais que isso, a Era Vargas aconteceu entre os anos 1930 e 1945: foi quando um presidente ficou o maior tempo no poder, ininterruptamente. E, mesmo depois instaurar a ditadura do Estado Novo e de sofrer um golpe, Getúlio Vargas foi eleito democraticamente, voltando ao governo através do voto direto.
Getúlio Vargas, durante a República Velha, foi ministro da fazenda do presidente Washington Luis, que tratava a questão social como algo que interessava à ordem pública. Eleito presidente do Rio Grande do Sul, unificou chimangos e maragatos. Além desta façanha, conseguiu realizar a organização do Estado nacional, aumentar a industrialização do país e estabelecer leis trabalhistas.
A “Revolução de 1930” foi um golpe
A Era Vargas surgiu com um golpe, com a liderança de um latifundiário que lia o socialista utópico Saint Simon e ansiava por colocar as ideias do autor na prática. Com a renúncia e exílio de Vargas, o próximo presidente foi Eurico Gaspar Dutra, que no primeiro ano de gestão, governava mantendo as regras do Estado Novo, até termos nossa nova constituição. Ainda não chegava a democracia, que teve seu primeiro esboço com Getúlio Vargas, a partir de 1951.
Diante deste esboço de democracia, a oposição da União Democrática Nacional (UDN), só crescia, mediante críticas na imprensa contra o governo, indicando que ele supostamente estimulava o conflito de classes e ameaçava a cooperação com o capital internacional- quando na verdade fazia o governo mais democrático até então. Tanto que os sindicatos finamente tinham alguma liberdade, e provocavam. mudanças sociais no Brasil, como o aumento de 100% do salário mínimo.
O governo Vargas enfrentava forte oposição da extrema direita, por meio do jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda, que inventava várias notícias falsas contra o presidente. Para desespero de membros do governo e amigos, resultando em um fracassado atentado contra o citado profissional de imprensa. Fracassado por que o alvo foi fortalecido.
Um nacionalismo na aparência
Não bastasse essa tragédia, que prejudicou o governo e aumentava a sua instabilidade, pouco após era divulgado integralmente o Memorial ou Manifesto dos Coroneis. Ainda, foi assinado o Acordo Militar Brasil Estados Unidos, negociado em segredo, que dava aos EUA o monopólio das compras de urano, areias monazíticas e manganês brasileiros; em troca de equipamentos, materiais e serviços. Além disso, aumentava os argumentos da oposição de esquerda ao governo trabalhista, devido essa medida considerada entreguista por adversários políticos de Getúlio Vargas.
A Petrobrás foi criada, em meio a uma campanha com amplo alcance nas massas, chamada “O petróleo é nosso”. E um ano depois, Getúlio praticava o suicídio. Este acontecimento surpreendente causou uma revolta nas ruas, onde foram incendiadas sedes da UDN, Carlos Lacerda teve que se esconder, e a embaixada estadunidense quase foi invadida.
Logo, o suicídio de Getúlio Vargas provocou uma onda de manifestações que impedia um golpe militar, que era o objetivo último da oposição de extrema direita, liderada pelos udenistas. Foi uma agitação espontânea e inesperada, que mostrava a força entre os trabalhadores urbanos, do trabalhismo inaugurado por Getúlio Vargas.
O 24 de agosto de 1954 mostrou que o golpe de 1930 era popular, bem mais que a Primeira República. Afinal, na Era Vargas, os trabalhadores (mas só os das cidades), também tinham o seu lugar.
Comparação entre Primeira República e Era Vargas no ENEM
Feitas estas observações, ficará muito fácil responder a esta questão do ENEM sobre o suicídio do presidente Getúlio Vargas.
(Enem) É difícil encontrar um texto sobre a Proclamação da República no Brasil que não cite a afirmação de Aristides Lobo, no Diário Popular de São Paulo, de que “o povo assistiu àquilo bestializado”. Essa versão foi relida pelos enaltecedores da Revolução de 1930, que não descuidaram da forma republicana, mas realçaram a exclusão social, o militarismo e o estrangeirismo da fórmula implantada em 1889. Isto porque o Brasil brasileiro teria nascido em 1930.
MELLO, M. T. C. A república consentida: cultura democrática e científica no final do Império. Rio de Janeiro: FGV, 2007 (adaptado).
O texto defende que a consolidação de uma determinada memória sobre a proclamação da República no Brasil teve, na Revolução de 1930, um de seus momentos mais importantes. Os defensores da Revolução de 1930 procuraram construir uma visão negativa para os eventos de 1889, porque esta era uma maneira de
A) valorizar as propostas políticas democráticas e liberais vitoriosas.
Errada. O golpe é chamado de “revolução de 30”, por seus enaltecedores. O governo iniciado em 1930 estabeleceu uma ditadura e era crítico ao liberalismo.
- B) resgatar simbolicamente as figuras políticas ligadas à Monarquia.
Errada. Como o golpe de 1930 manteve a forma republicana de governo, seria incoerente o elogio às figuras políticas ligadas a Monarquia.
- C) criticar a política educacional adotada durante a República Velha.
Errada. Não há menção a política educacional no excerto da questão. Inclusive, houve neste período diversos avanços na política educacional, a exemplo da Reforma de Benjamin Constant, no sentido da educação pública e gratuita.
- D) legitimar a ordem política inaugurada com a chegada desse grupo ao poder.
Correta. Uma boa forma de escapar de eventuais críticas e enaltecer a Era Vargas, é destacar os defeitos do regime anterior, como se o governo Vargas fosse perfeito.
- E) destacar a ampla participação popular obtida no processo da Proclamação.
Errada. Na comparação entre o advento da república em 1889 e o golpe de 1930, a Era Vargas teve muito maior popularidade.
O que achou desta explicação sobre a Era Vargas no ENEM? Caso tenhas dúvidas, discordâncias, ou queiras completar algo que pareceu incompleto, teus comentários críticos serão muito bem vindos!
Foto: Funeral de Getúlio Vargas / Memorial da Democracia
Rafael Freitas é professor de História da Rede de Ensino Mauá, um historiador alvoradense.
Criador de “Lascas da História”, coluna voltada para dicas de estudo para provas de ENEM e vestibulares, com foco na disciplina de História.
Mas uma História entendida como uma ciência, onde cada fato – por mais marcante que seja – é sempre uma lasquinha de algo bem maior.
Contatos: professor.freitas.rafael@gmail.com