A eleição é um dos momentos da política, o que não diminui a sua importância. Portanto, é essencial que a gente escolha bem os nossos futuros representantes. No próximo dia 2 de outubro, as opções são para os seguintes cargos e na ordem que segue: deputado(a) federal, deputado(a) estadual ou distrital, senador(a), governador(a), e presidente(a) da República. No meu entendimento, esta importante escolha não deve ser movida por ódio, ou por medo.

Em relação aos debates para presidência deste ano, destacarei aqui o que me remeteu à História do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que é o tema central desta coluna. Ora, entre os assuntos mais presentes nas conversas recentes sobre os principais debates, estão se o padre Kelmon é realmente um padre (talvez seja no Peru ou apenas em festas juninas) e também algumas falas da candidata Soraya Thronicke, filiada ao União Brasil.

Quando Lula (PT) não foi no debate no SBT, Soraya afirmou que ele “não gosta de trabalhar”. Já para o atual presidente Bolsonaro (PL), afirmou que ele “é o nem-nem, nem estuda, nem trabalha” e pediu que ele “não cutuque onça com sua vara curta”.  Todas essas desafiantes declarações ajudaram a tornar mais interessantes os mornos debates na TV.

Mas o episódio mais curioso foi quando candidata fez a brincadeira do “O que é o que é”, em pergunta para o candidato Felipe D’Avila (do partido Novo).  “Eu vou te perguntar: O que é, o que é… não reajusta a merenda escolar, mas gasta milhões com leite condensado. Tira remédio da farmácia popular, mas mantém a compra de Viagra. Não compra vacina para COVID, mas distribui prótese peniana para seus amigos. O que é, o que é?”, afirmou Soraya. Ela, com esta provocação, trouxe a minha lembrança a prova do ENEM de 1998.

Sobre a criação do ENEM

Hoje o ENEM é considerado o segundo maior vestibular do mundo, perdendo somente para a China. Mas quando o governo Fernando Henrique Cardoso criou o Exame, junto com o então ministro da Educação Paulo Renato Souza, o objetivo era avaliar o ensino médio, visando melhorar as políticas públicas voltadas para a educação.

Em 1998, o ENEM era usado para seleção de apenas duas instituições de ensino. Esta primeira prova do Exame contava com sessenta e três questões, aplicação em um dia, taxa de inscrição de vinte reais, e com atividade de redação sem textos de apoio e sem exigência de uma proposta de intervenção em um problema atual.

“O que é o que é” no ENEM

Uma canção do artista Gonzaguinha aparecia na página inicial do primeiro ENEM: “(…) Viver/ e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar e cantar/ a beleza de ser um eterno aprendiz/ Eu sei/ que a vida devia ser bem melhor/ e será/ Mas isso não impede que eu repita/ É bonita, é bonita e é bonita (…)”, esse foi o trecho selecionado para a prova.

O nome da música é “O que é o que é”, e o vestibulando tinha que dissertar sobre o sentido da vida, as desigualdades sociais que podiam levar ao pessimismo e a necessidade de vencer por meio do aprendizado, visto que o tema da redação era “Viver e aprender”. O assunto era atual em 1998, como é ainda hoje.

A atualidade de Gonzaguinha

Quando a prova foi realizada, os índices de desemprego eram altíssimos. Para termos uma ideia, houve aumento de 38% do desemprego nos quatro primeiros anos de gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Muito parecido com nosso tempo, quando na aparência temos diminuição destes índices, mas no fundamental, temos em regra empregos havendo diversas novas formas de contratação e muitas vezes com salários abaixo do mínimo, em um tempo de aumento dos preços de tudo que é necessário para nossa sobrevivência. Quem procura emprego hoje, encontrará facilmente oportunidades com “salário” de aproximadamente 700 reais, geralmente sem registro em carteira.

A proposta de redação da primeira prova do ENEM é, então, muito atual. E, por mais limitadas que sejam, as eleições são épocas muito ricas para reflexões sobre o nosso Brasil.

Foto: Eles criaram o ENEM, presidente Fernando Henrique Cardoso e ministro da educação Paulo Renato (Instituto FHC/Reprodução).