A vantagem de alguns anos de vida vividos um pouco acima de outros, de ter alguns anos a mais e receber talvez o rótulo de ter-se disponibilizado ao inevitável chamado envelhecimento, se traduz, sob determinado ponto de vista, por certa compreensão, por um dar-se conta, de um provável iluminar-se sob a custódia do que alguns grupos chamam de “insight” que, com certeza, existe uma grande verdade nas culturas nativas, conhecidas como indígenas, ou nas sociedades que cultuaram sua ancestralidade, como a chinesa, por exemplo, têm razão: os mais velhos nesses ambientes são respeitados por sua sabedoria e conhecimento acumulados; ao contrário de outros que rejeitam tais informações por suas desorganizações internas e desconhecimentos, por suas particularidades que impossibilitaram a consolidação de suas identidades culturais.

Essa vantagem de um tempo maior de vida se manifesta quase que inteiramente pela oportunidade de uma pessoa poder escolher um número maior de evidências sobre as questões do mundo em que vive suas histórias, equívocos e acertos.

A vantagem de um número maior de elementos reveladores dessas evidências está no fato de que as mesmas sustentam reflexões as mais surpreendentes e inesperadas possíveis, muitas delas provisórias, porque passíveis de transformação.

O que podemos afirmar, mesmo de forma não definitiva, é que “os semelhantes se atraem”. E não há riscos nessa afirmação “provisória”, quando assistimos, boquiabertos, o desmoronamento ético de um país de tantas pessoas que gritavam por “ética”, por “moral”, por “respeito”, por “justiça”, por uma “flauta doce”, por ser “o deus que sabia o que era bom para o restante do povo” (nunca da tribo), pela “transformação”, por ser o/a “absoluto/a dono/a da verdade”; ao contrário, nunca os gritos ecoariam por sua “arrogância”, “autoritarismo”, “mentiras” e “falácias”.

E o assustador, o que comprova a coleta das evidências quando se conclui que “os semelhantes se atraem”, se revela através da cumplicidade dos que defendem a lista de equívocos dos malfeitores.

Há um ditado popular que diz: “você é 10% do que lhe acontece e 90% de sua reação”. Reage-se na defesa, então meu caráter e minha ética me evidenciam como cúmplice e, honestamente, posso concluir que sou semelhante e me sinto atraído pelo malfeitor, pelo corrupto, pelo enganador.

Mas, ao contrário, se a minha reação é de desacordo e nega-se à aceitação desses fatos, provavelmente eu não seja o cúmplice querido pelo não detentor de tais sinais éticos (ou da falta deles). Talvez não me assemelhe. Talvez.

Ampliando essa fala, partindo para o discurso coletivo dessa reflexão podemos concluir através da coleta dessas mesmas evidências, que os povos e seus governos se assemelham. Tanto faz se na Síria, se no Iraque, se no Japão, Estados Unidos ou Brasil. Cada povo e seu “modus vivendis” são o que são por suas intrínsecas semelhanças.

Alguns lutam para que ocorra uma transformação, mesmo que desconhecido o final. Isso se chama “Revolução”. Outros se calam, aceitam e se tornam vítimas impotentes: “os coitadinhos de mim”. E necessitam da mão estendida de outras nações. Será que resolve? Serão os “Deuses Astronautas”? Ou os deuses estão por aí, entre os que se dizem “salvadores da pátria”, donos da verdade falseando soluções que em verdade não têm?

A vantagem de um tempo maior de vida é essa coleta de dados, mesmo imprecisa, passível de reflexão. Uma reflexão por vezes silenciosa, fugindo das imposições de quaisquer discursos evasivos e arrogantes que queiram obrigar o outro à perda de sua identidade, transformando-o em um zumbi que busca seu semelhante e não encontra.

Democracia e bem comum, indivíduo e coletivo não estão separados. Participam de um mesmo conjunto de revelações e convívios que evidenciam a complexidade da vida, do emaranhado que somos obrigados a desatar nós, desmanchar tranças, reorganizar, porque é nesse mundo que vivemos e evoluímos a patamares que determinam nossas relações necessariamente urbanas e éticas que são pretendidas.