Por mais que sites, blogs, vlogs, flogs, ou quaisquer outras mídias virtuais oportunizem espaços à visibilidade do que antes era invisível, ainda observamos, em meio ao turbilhão de palavras, sons e imagens, a necessidade que aflora, nos protagonistas desses entrelaçamentos, de um exercício de poder e domínio sobre o pensamento do outro, dos outros, dos próximos e dos distantes, de como devam pensar, ser ou ter.

Isso não chega a surpreender. O que surpreende é constatarmos, boquiabertos, que os mesmos que querem impor comportamentos e formas de viver, como se fossem os donos absolutos da verdade, se fazem de vítimas.  Chega a ser engraçado, muito engraçado, se não fosse possível desnudar, nessa graça, as suas más intenções. Ardilosos como sempre, procuram suas vítimas (as legítimas, porque a sua encenação de vítima é pura fraude) sorrateiramente, como um felino que pisa suave na grama para não despertar a atenção de sua presa ao bote que será desferido. Gritam, urram e berram para que não ouçam o farfalhar de seus erros. Apontam e acusam, embora cometam coisas piores (sorrateiras e escondidas), com um grau de perfeccionista desenvolvido enquanto aprendiam com seus algozes.

Ora, pois, em meio à massa de informações circulantes, pulsando em diversas direções, tentam injetar palavras de ordem que há muito caíram no descrédito da multidão silenciosa. E isso incomoda. O silêncio incomoda porque se revela carregado de barulho quando se noticia protegido das gratuitas agressões, em suas ações, diante do que as palavras falidas e esburacadas não esperavam como resposta aos seus grosseiros brados.

O voto é um dos exemplos da manifestação dos protagonistas silenciosos. Revelador do referencial daquilo que aceitam como indicativo democrático, quando portador de um resultado que contrarie os interesses dos protagonistas visíveis, transforma-se em puro conflito que pode, por acúmulo de intransigências, se virarem, como um perigo real, contra essa mesma sociedade. Mas, como estamos cansados de saber, a verdade não rima e a zona de conforto é sempre um bom lugar.

Entre a visibilidade e a invisibilidade dos envolvidos, nos perguntamos sobre que tipo de sociedade queremos ou que estamos a projetar?  Apesar de vivermos entre sessenta por cento de otimistas, vinte por cento de realistas e vinte por cento de pessimistas, não descobrimos, por enquanto, o modo de vida que moldará nossa sociedade.

A tolerância, a equidade, a resistente persistência estão falhando às reflexões deste bípede que caminha sobre o planeta com um córtex frontal desenvolvido e que por esta razão deveria ter oportunizado o aperfeiçoamento dessa tarefa de convívio e da evolução do conceito do que sejam as relações urbanas.

Quais os valores irão se adequar e inspirar os protagonismos visíveis que pretendem manipular os invisíveis, quando aqueles que pretendem iniciar suas carreiras compram vestibulares de medicina ou provas do Enem? Quando um congresso tenta livrar políticos que praticaram caixa dois como se isso não fosse uma irregularidade?

Com certeza os protagonismos reais e virtuais se confundem dentro das redes sociais, enchem de glamour o que glamour não tem. Ou, ao contrário, oportunizam a visibilidade ao que era invisível valorando ou não com suas escalas e olhares.

Certo está Karnal quando diz: O espelho de Narciso é invertido, ele não pode se olhar.