Quando cai a noite, quem mora nas regiões mais atingidas pelos alagamentos tem seu drama ampliado. Não bastasse as perdas com a enchente, que já dura uma semana, a violência tem levado pânico ao bairro Americana.
Saques e tiroteios viraram rotina. Segundo moradores, que falaram a’O Alvoradense sob a condição de anonimato, os criminosos são de outros bairros de Alvorada e de vilas da zona Norte de Porto Alegre. “Eles chegam de barco pelo Arroio Feijó e levam tudo”, conta um deles.
Os saqueadores possuem modus operandi. Pela tarde, grupos vistoriam as regiões e escolhem os alvos. Algumas das casas chegam a ser arrombadas ainda à luz do dia, o que facilita a execução dos roubos durante a madrugada.
O número de casas atacadas é incerto. Revoltados com a escalada da violência na região, vítimas dos saques optaram por não registrar ocorrência. “Não adianta, não muda nada”, avalia um deles.
A Brigada Militar (BM) discorda. Apesar de admitir que não tem meios para realizar uma patrulha mais extensiva no bairro, o comando da BM de Alvorada pede que moradores relatem os casos de roubos para que a polícia aja com maior intensidade nestas regiões.
A situação delicada leva a atitudes extremas. Grupos de moradores montaram patrulhas que vistoriam as ruas alagadas durante a madrugada. Eles utilizam barcos e admitem o uso de armas de fogo. “É um risco, sabemos, mas é o que nos resta a fazer. Temos que garantir a nossa segurança de alguma maneira”, admite um deles.
Em meio à escuridão, distinguir moradores de possíveis criminosos é uma tarefa delicada. Por pelo menos duas vezes desentendimentos quase acabaram em tragédia. Para evitar novos casos, os moradores criaram uma espécie de código, que deve ser respondido após abordagem da patrulha. “Se ele não responder da maneira correta, já ficamos em alerta”, detalham.
Sem previsão de mudanças
Com a água baixando devagar e a previsão de chuva para os próximos dias, os moradores sabem que os alagamentos estão longe de acabar. O patrulhamento aquático, que poderia por fim aos saques, no entanto, não deve sair do papel.
O 24º Batalhão da Polícia Militar diz não ter recursos humanos e materiais para atender ao pedido. Para a prefeitura, o assunto deve ser tratado pela polícia.
A BM mantém nas áreas de alagamento patrulhas motorizadas, que ficam ao longo do dia nas áreas secas do bairro. Uma viatura permanece no local durante a noite, mas não inibe os crimes.
Às 3 horas da madrugada do último sábado, dois tiroteios foram flagrados pela reportagem d’O Alvoradense. Em nenhum dos casos houve movimentação da polícia.
Fonte: Jonathas Costa / O Alvoradense