Soldado da BM homossexual é autorizado a casar usando farda de gala

Miguel Martins, 29 anos, atua no 1º Batalhão de Patrulhamento de Áreas de Fronteira, em Uruguaiana

Miguel Martins (E) vai celebrar a união com o modelo Diego Souza | Foto: Reprodução / Facebook / CP

O soldado Miguel Martins, 29 anos, lotado no 1º Batalhão de Patrulhamento de Áreas de Fronteira (1º BPAF), em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, pode ser o primeiro brigadiano homossexual a casar vestindo farda de gala da Brigada Militar. Este é o maior desejo do policial militar que atua no policiamento ostensivo. Quer formalizar a união com o modelo Diego Souza, 21, fardado em 23 de dezembro. O primeiro passo já foi dado. “Já protocolei o requerimento solicitando permissão para usar a farda no dia do meu casamento”, revela.

Na avaliação do comandante do 1º BPAF, tenente-coronel Roberto Ortiz Pereira, não há impedimento para a realização da cerimônia. Segundo ele, o uso da farda é uma prerrogativa da função exercida pelo soldado e, sendo assim, não há motivos para negar um direito ao PM. O parece favorável do tenente-coronel já foi dado. A próxima etapa é receber o aval do Comando Regional de Polícia Ostensiva Fronteira Oeste (CRPO-FO) e, posteriormente, do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas Moreira. “Por enquanto não houve impedimentos. Meus superiores e meus colegas de farda me apoiam”, diz.

“O comando da Brigada Militar se esforça para que Todo PM, na sua vida privada, seja feliz. E se casar fardado vai trazer felicidade ao soldado Miguel Martins, ele tem meu consentimento”. A afirmação é do comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas Moreira. De acordo com Freitas, não é demérito para a corporação o fato de um brigadiano homossexual vestir sua farda. “Ser homossexual não denigre a imagem da corporação. O que denigre é ir fardado à zona do meretrício ou fazer ingestão de bebidas alcoólicas usando a farda”, frisa.

Freitas revela, ainda, que este não será o primeiro casamento homoafetivo e nem o último. “Há dezenas de uniões homoafetivas entre os componentes da BM”, assegura. No entanto, pela história da corporação, talvez seja o soldado Miguel Martins o primeiro homossexual assumido a vestir a farda de gala no dia do casamento.

Martins ficou emocionado ao ser comunicado que poderia realizar o sonho de casar fardado. “Estou sem palavras”, murmura. Lembra que conheceu o modelo Diego Souza em meados de 2015, pelas redes sociais. Foram seis meses de conversas diárias no relacionamento virtual e apenas dois encontros no período. O modelo vivia em Porto Alegre e o soldado em Uruguaiana. No entanto, foi em 27 de outubro do ano passado, que passaram a dividir o mesmo teto.

“Ele veio me visitar e não mais voltou. Depois desse dia, estivemos duas vezes na Capital”, conta. Quando Martins não está zelando pela segurança dos uruguaianenses, o casal não desgruda. O modelo busca o companheiro no quartel, participa de jantares nas residências de outros PMs, acompanhando o noivo, frequentam clubes e restaurantes da cidade. “Nunca fui alvo de olhares preconceituosos ou foi vítima de algum assédio”, enfatiza o modelo. Para selar o amor que os unirá dois dias antes do próximo Natal, Miguel tatuou o nome de Diego no corpo. E Diego fez o mesmo.

“Não estou cometendo crime algum. Todos somos iguais perante às leis. E, além disso, está regulamentado o casamento homoafetivo no Brasil”, argumenta. Martins assumiu a homossexualidade aos familiares e amigos quando tinha 20 anos. No entanto, na corporação, onde está há 10 anos, isso ocorreu aos 23 anos. “Entendi que não havia motivos para esconder minha sexualidade aos meus colegas”, explica. E relata que, em Uruguaiana, é respeito por todos. “Nunca fui desrespeitado ou alvo de piados por ser um PM homossexual. Já efetuei diversas prisões e sequer os criminosos fizeram deboche”, ressalta.

O soldado sempre sonhou casar fardado, como seus colegas de corporação. Era apenas um sonho. Mas para evitar contratempos e críticas, já havia assimilado a possibilidade de vir a usar um traje social na cerimônia de união com o modelo. No entanto, foram justamente algumas críticas, que partiram de homofóbicos em suas páginas nas redes sociais, que fortaleceram o desejo de usar a farda no dia do casamento.

Fonte: Luciamem Winck / Correio do Povo