Um ano após a grande enchente que atingiu o município, uma pergunta ecoa pelos ruas e esquinas atingidas pela tragédia: e o dique? Na terceira e última reportagem do especial “20/7: o dia em que Alvorada parou”, o jornal O Alvoradense foi buscar respostas para esta e outras dúvidas dos moradores.

Apesar do projeto do dique ter avançado nos últimos meses e estar mais próximo de sair do papel do que nunca, as previsões mais otimistas indicam de quatro a cinco anos para que toda a estrutura esteja completa e os bairros da zona Norte de Alvorada estejam, enfim, protegidos.

Imagem mostra a área alagada em Alvorada durante a enchente de 2015 | Foto: Metroplan / Divulgação / OA
Imagem mostra a área alagada em Alvorada durante a enchente de 2015 | Foto: Metroplan / Divulgação / OA

Segundo a engenheira civil da Metroplan, Paula Pinto, o projeto está nas últimas etapas da fase de estudo de concepção, que deve ser concluído ainda neste ano com a entrega do anteprojeto em dezembro. A fase seguinte se inicia em janeiro de 2017 e abrange as licenças ambientais, que serão licitadas pela Fepam. A expectativa é que esta etapa dure aproximadamente um ano. Só então será possível iniciar as obras, que devem durar outros três anos. Apesar de tortuoso, o dinheiro para todas as etapas, R$ 228 milhões, já está garantido no orçamento da União e reservado até 2020.

O trajeto do dique está praticamente definido, mas ainda não é divulgado. “Uma audiência pública vai ser marcada na cidade para apresentar os detalhes dos estudos de concepção”, antecipa Paula. A possibilidade de haver a necessidade de remoções de casas na linha do futuro dique preocupa, já que o assunto sempre é alvo de polêmicas e por vezes acaba na esfera judicial, o que atrasa ainda mais o cronograma das obras.

Para evitar aproveitamento eleitoral de candidatos de toda ordem, a audiência que estava marcada para setembro foi adiada para outubro.

Engenheira da Metroplan, Paula Pinto explica que o projeto é complexo devido as questões sociais envolvidas | Foto: Jonathas Costa / OA
Engenheira da Metroplan, Paula Pinto explica que o projeto é complexo devido as questões sociais envolvidas | Foto: Jonathas Costa / OA

Diagnóstico no pior dos cenários
O trabalho de campo dos engenheiros e técnicos da Metroplan começou em maio do ano passado, antes da primeira enchente. “Apesar de trágico, foi muito bom estarmos em campo na grande enchente de julho porque nos mostrou o pior dos cenários possíveis”, avalia Paula. E ela tem razão. Foi consenso entre os meteorologistas de que a chuva que atingiu a região Metropolitana no ano passado foi um fenômeno atípico, daqueles que demoram dezenas (ou centenas) de anos para voltar a ocorrer.

As obras do dique de Alvorada deverão gerar impactos também nas cidades vizinhas. São projetadas intervenções em Viamão e Cachoeirinha. As casas de bombas deverão ter gestão compartilhadas, devido ao alto custo de manutenção e tendo em vista que o benefício não será apenas para os alvoradenses.

Outra questão já em estudo pelos técnicos é justamente a fonte de energia que deve alimentar as casas de bombas. São três as alternativas levantadas: geradores, abastecimento por diesel ou estação de energia própria. Tudo para evitar que as bombas parem de funcionar justamente quando a cidade mais precisar delas.

Estação de captação virou “forte de guerra”
Outro trauma dos alvoradenses vivido há um ano foi a falta d’água. Em meio aos alagamentos, a cidade teve que conviver com mais de 100 horas de interrupção no abastecimento, situação que levou a Prefeitura a decretar estado de calamidade pública.

A enchente história atingiu a estação de captação de água da Corsan, que inundada, acabou por ser desligada. O drama se estendeu por sete longos dias e reverberou pela esfera judicial, com uma multa aplicada à companhia. Depois disso, a Câmara de Vereadores, por iniciativa do vereador Juliano Marinho, criou uma lei que pune a Corsan a cada vez que a cidade fica sem água por um período superior a oito horas.

Mas mais do que punição pelas falhas praticadas no episódio, foi preciso tomar medidas preventivas para que o problema não voltasse a ocorrer. Desde então, a rua que dá acesso à estação foi elevada em quase dois metros. Os postes que conduzem energia até o local foram trocados e os fios receberam nova proteção. As janelas do prédio que abrigam os motores foram tapadas e novas aberturas foram feitas na parte mais alta da estrutura. As portas foram trocadas por modelos semelhantes às fechaduras de navios e submarinos e receberam uma espécie de barreira de concreto.

Todo o aparato deve garantir, ou pelo menos minimizar, que períodos de interrupção do abastecimento tão prolongados quando o ocorrido há um ano não voltem mais a acontecer.

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Fonte: Jonathas Costa / O Alvoradense