A comunidade lamenta a perda de um pai. Ele sente que deixa aqui muitos filhos. Mas todos têm a expectativa do novo, do desafio, da superação. Após 15 anos à frente da Paróquia São José Operário, o padre Luis Inácio Flach se despede e parte para Camaquã, onde assume a coordenação da Paróquia São João Batista. A mudança, segundo ele, faz parte das adequações da Arquidiocese, que recentemente nomeou 14 novos padres. Quem chega a Alvorada é o padre Flávio Francisco Lunkes, vindo da zona norte de Porto Alegre, da Paróquia Divina Misericórdia.
Padre Lula, como é mais conhecido, se diz preparado para sair e satisfeito com o desafio. “É importante que eu siga em missão. Novos ares, um jeito novo, a novidade da beleza do encontro será importante para mim e para a comunidade de Alvorada.” Ele explica que em Camaquã o trabalho é desafiador por se tratar de um Centro Religioso que congrega 30 comunidades. É lá que será o pároco, auxiliado por mais quatro padres. Ele acredita que a o aprendizado e a maturidade adquiridos em Alvorada o capacitam para a nova missão. “Agora sou um padre experiente!”, brinca.
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Alvorada
Foram 16 Páscoas e Festas do Padroeiro e 15 Natais, contabiliza o padre, avaliando que sua construção foi realizada com mais bíblias do que tijolos. “A intenção, durante todos esses anos, foi intensificar a evangelização. Até porque havia pouco a construir quando cheguei por aqui”, relembra. Como avanços do período ele fala primeiro da Diaconia Madre Teresa de Calcutá, “que veio para organizar a caridade na Paróquia”. Comenta ainda do fortalecimento dos movimentos da Igreja como CLJ, Onda, ECC, Cenáculo e Equipes de Nossa Senhora. Comemora a renovação dos espaços litúrgicos.
• Fotos: Fiéis se despedem de padre Lula em missa na paróquia
Mas sua grande meta foi congregar as muitas comunidades em torno do padroeiro São José Operário, o que conseguiu realizar, finalmente, nas comemorações dos 50 anos da paróquia, em 2010. Naquele ano as capelas Nossa Senhora da Imaculada Conceição, São Francisco de Assis, Santa Clara de Assis e Nossa Senhora do Carmo receberam a imagem do santo padroeiro e, partir dali, desenvolveram a consciência de que pertencem a uma mesma comunidade católica.
Ele acredita que em Alvorada sua obra pode ser assim definida: os tijolos foram a Bíblia; o cimento, a caridade; a alegria veio da liturgia e o acabamento foi ver a comunidade congregada em torno de uma única ideia, São José.
Raízes
Natural de Bom Princípio, no interior do Rio Grande do Sul, Luis Inácio é filho de um casal de agricultores, criado na roça com mais nove irmãos. Dos filhos de Imelda e Edmundo Flach, dois são padres, Lula e Geraldo, que hoje atua em Charqueadas.
De família católica, com um tio padre Jesuíta e quatro tias religiosas da Divina Providência, afirma que sentiu o chamado ainda criança, mas não deu a devida importância e seguiu trabalhando como agricultor. Da infância, tem boas lembranças dos amigos que conquistou a partir da construção da BR 122. “Graças a esses amigos não tenho o sotaque carregado da região. Me fez muito bem a convivência com os Silva, os Costa, os Soares. Os filhos dos trabalhadores com quem brincava e aprendi a falar!”, comemora ele, divertindo-se.
Aos 20 anos, passou a estudar na “cidade”, onde fez o então 2º grau em uma escola pública. “Haviam professores que também lecionavam em escolas particulares e até mesmo na faculdade, que nos exigiam muito esforço e dedicação”, relembra. Mesmo com o curso de preparação para o trabalho, que era agregado ao Ensino Médio na época, ele seguiu trabalhando com os pais até os 25 anos.
Foi em 1986 que sua vocação se revelou e ele ingressou no Seminário de Viamão e, sem saber, estava bem perto do local onde futuramente iria atuar. Dali partiu como diácono em Montenegro, na Igreja São João Batista, onde também lecionava nas escolas locais. “Fui estagiário por lá”, brinca.
Sua primeira paróquia, já ordenado, foi a Bom Jesus, em Triunfo. De lá partiu para Alvorada de onde sai somente agora.“Tive três amores na vida sacerdotal: São João, Bom Jesus e São José. Pedi a Deus que me enviasse à Mãe Maria, queria trabalhar com ela, mas Ele me mandou de volta (mesmo que em outra paróquia) ao primeiro amor, João Batista”, reflete o padre.
Despedida
A Missa de envio – ele se recusou a chamá-la de despedida – aconteceu no domingo, dia 5, com uma Igreja lotada de fieis e amigos. A emoção tomou conta, com uma homilia voltada à comunidade e aos novos momentos que surgem. A celebração teve ainda a presença dos demais padres de Alvorada.
Ainda naquele final de semana, padre Luis Inácio celebrou missa nas capelas, onde também recebeu homenagens e teve a oportunidade de dar seu “até logo”. Entre as frases marcantes proferidas por ele naquele final de semana, estão: “Ser discípulo é cumprir o que Deus quer”; “O pastor e a ovelha, um cuida do outro. Há um olhar de agradecimento entre ambos”; “Muitas vezes, culpamos Deus e perdemos a esperança. Não deixe que vos roubem a esperança”.
Para a posse em Camaquã, a comunidade organizou uma caravana, postergando-se, ainda que por poucas horas, o momento da despedida. A emoção continua mesmo longe de Alvorada.
Fonte: O Alvoradense