Tomando o futebol como tema norteador da minha coluna, pretendo alimentar ainda mais a discussão sobre as contradições desse esporte, como suas lembranças, jogos épicos, jogadores históricos, campinhos de várzea, entre tantos outros caminhos que as quatro linhas nos leva.

Divido este espaço com vocês ora com uma visão de ex jogador, ora como torcedor deste esporte maravilhoso, inclusivo e cultural.

Lembro-me bem que quando era criança minhas brincadeiras eram em torno da redonda. O dia inteiro eu era Sócrates, Taffarel, Romário (meu ídolo maior e responsável direto por me fazer sonhar e acreditar que, um dia, eu pudesse ser jogador).

Quem nunca foi Puskas? Falcão? Renato Portaluppi?
Quem nunca se imaginou em um Maracanã Lotado?
Vivíamos dias de rei, vivíamos dias de estrelas em nossos pensamentos e ilusões.

Falando em rei, todos já fomos majestade, todos já fomos Pelé, mas Maradona? Esse nunca seremos, nunca daremos esse gostinho aos “hermanos”.

A cada “rolinho”, a cada “caneta” nossos corações de peladeiros aceleravam. Juntar a gurizada da rua pra jogar um clássico contra a rua vizinha era demais, era o êxtase.

Por minutos já estávamos lá, arrumando as “goleirinhas” de chinelos com pregos nas pontas, pois a grana era curta para comprar calçados novos. Quando se via, já estava armada a “Bamboneira”. Eram dezenas de crianças esperando para ver a pelada, uma verdadeira festa da criançada – que se resumia a gols, gritaria, fulia e, por fim, sem os “tampões” nos dedos, deixados nos paralelepípedos de nossas ruas.

E quando chovia então? Lembram?

Que arruaça que acontecia, procurávamos o campinho mais próximo. Se jogar nas poças de água era um gol pra “juvenada”, que corria, pulava, chutava e mergulhava nas “piscinas naturais” dos campinhos esburacados.

Que delícia!
Que saudade dessa época não?

Esse futebol de rua, do campinho do bairro ou até do terreno baldio era considerado o luxo da pelada.

E o Juiz?
Esse não existe. Era o tal “pediu, parou”, mas sobre ele vou falar em uma próxima coluna, em uma reflexão maior.

Por que a pelada não pode ser interrompida, ela deve continuar né?
Não!
Ela parava sim.

Parava quando a bola ia para baixo de um carro estacionado na rua, quando caía na casa daquele vizinho “chato”, que não nos devolvia a “pelota”. E por isso virávamos o Rambo, pois “invadir” o pátio dele era legítimo de cena de ação de filme da Tela Quente.

“Pula! Vai! Agora corre que ele tá vindo com a tesoura pra furar a bola!”
Que momento especial, que adrenalina.

E quando voltávamos ao jogo, ele estava empatado, estava 20 a 20.

Do nada, um dos moleques, dono da bola gritava:
“Gente, tenho que ir embora, quem fizer ganha!”

O jogo se encerrava, o time da rua de trás fazia o gol, mas quem realmente ganhava eramos nós, que até hoje temos essas lembranças de nossas “Copas Do Mundo” da rua de trás.