Um dos pontos de encontro mais populares e também mais controversos da cidade atualmente. Assim pode ser definido o posto de combustíveis Horn, na altura da parada 48 da avenida Presidente Getúlio Vargas. Ali, milhares de jovens se reúnem a cada final de semana para descontrair, beber e conversar nas rodas de amigos.
A grande aglomeração de pessoas – e o som alto de alguns carros – incomoda moradores da região. Um controverso comportamento que não chega a ser novo na cidade, já que em anos anteriores a aglomeração em postos de combustíveis eram frequentes – e as reclamações também.
No sábado, dia 29, uma briga deixou um homem ferido e chamou a atenção para o problema da grande aglomeração. Até o momento, apenas desentendimentos haviam sido registrados no local, sem maiores danos.
O vídeo mostrando um rapaz sendo agredido viralizou nas redes sociais e reacendeu o debate sobre possíveis providências que deveriam ser tomadas pelas autoridades públicas. Uma delas, sugeriram internautas, seria o fechamento do posto e da loja de conveniência.
Nos últimos finais de semana o perfil de público que se concentra no local aumentou e se transformou. Começam a chegar carros de som até de outros municípios da região. Não é exagero contar mais de mil jovens apenas durante uma madrugada no local.
“Fechar não é a solução”
Flávio Bonness, proprietário da loja de conveniência Confraria, reconhece a necessidade de providências por parte de autoridades (Prefeitura e Brigada Militar), mas discorda que a solução seja o fechamento dos estabelecimentos.
“Por duas vezes neste ano fizemos esta experiência (de fechar as portas) e as pessoas vieram para cá da mesma maneira”, conta.
No primeiro final de semana do ano, dias 5 e 6 de janeiro – quando houve a confraternização dos funcionários, e no seguinte, dia 15, a loja não abriu durante a madrugada e se confirmou o que Bonness já havia observado: a grande maioria das pessoas já chega com suas bebidas. “Realmente não teríamos condições de atender a todo esse público, que no final de semana entre o Natal e Ano Novo chegou a 5 mil pessoas.”
Ele assumiu a loja em setembro de 2013 e a transformou em conveniência, com venda de produtos como leite, lanches, alimentos não perecíveis e bebidas “atendendo uma necessidade da cidade”. O comerciante conta que desde então solicita providências, principalmente no que se refere à segurança.
Uma das ações mais importantes foi o treinamento e conscientização de seus funcionários quanto à venda de bebidas alcoólicas para menores. “Até convidei um delegado de polícia para um bate papo”, conta. Há ainda a orientação, cumprindo lei vigente, de que o consumo da bebida comprada na loja não aconteça nas dependências do posto.
Mesmo assim, já houve casos em que a percepção de que algo podia sair do controle o levou a fechar a loja. “No dia da agressão ao jovem, tínhamos fechado por volta das quatro horas, logo depois que a Brigada Militar esteve aqui”, relembra, salientando que, ao contrário do que foi divulgado, a Samu chegou rapidamente, mas o jovem já havia sido socorrido por amigos.
Como última tentativa ele encaminhou, durante a semana passada, requerimento à Brigada Militar solicitando a presença de uma viatura permanente nas imediações. “O grande número de pessoas justifica essa ação”, considera.
Mudança de rumos
“Se fecharmos, são 12 funcionários na loja que estarão sem emprego pela falta de ação das autoridades. E mais oito do posto”, avalia Bonness, que pretende realizar uma reforma para melhor se adequar à realidade que hoje enfrenta.
A ideia é instalar uma padaria e encerrar as atividades cedo. “Hoje realizamos a limpeza do entorno nas primeiras horas da manhã, chegando a recolher 30 sacos de lixo com garrafas e demais material. Se fecharmos a noite, teremos esse trabalho a menos”, constata ao mesmo tempo que se pergunta se a mudança vai amenizar o problema.
Ele, contudo, lamenta que o poder público, a exemplo do que acontece em outras cidades brasileiras, não aproveite essa grande concentração de pessoas para realizar ações revitalização dos espaços ou até mesmo para campanhas como as de prevenção de DST ou de trânsito.
Moradores contrataram advogada
Quem mais critica a aglomeração que acontece a cada final de semana em torno do posto são os moradores das imediações. Incomodados principalmente com o barulho, eles formaram uma comissão e, acompanhados de uma advogada, tentam soluções para o problema.
Alguns dizem deixar suas casas na noite de sexta e só retornar na segunda, porque considerarem ser impossível descansar aos finais de semana. Há, ainda, os que precisem tomar remédios para conseguir dormir.
A maioria são moradores antigos, que possuem suas casas há mais de 30 anos. “Não acredito que alguém esteja pensando em sair daqui. Temos é que acabar com o problema”, sentencia Nery Machado, moradora da região.
Eles já estiveram com o comando da Brigada Militar e também na secretaria de Desenvolvimento Econômico (SMDE), onde o titular Tiano Caduri lhes informou das atividades possíveis da pasta no sentido de coibir excessos.
Em entrevista ao jornal O Alvoradense, Caduri afirmou que a loja de conveniência foi multada em 2015 por ferir a Lei Municipal 2432/2011, que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas dependências dos postos de combustíveis. Pelo mesmo motivo eles foram novamente notificados na quarta-feira (27).
“Se houver nova autuação a multa é e dobro e, caso haja uma terceira multa, o alvará do posto e da loja será cassado”, relata.
O secretário lembra ainda que o posto de combustíveis é solidário com qualquer infração que possa a ser cometida pela loja de conveniência.
Caduri também confirma que a fiscalização será intensificada nos próximos dias, de acordo com a disponibilidade da Brigada Militar, que deverá acompanhar os fiscais da SMDE na atividades noturnas.
Ponto de encontro da galera
Do outro lado da “mesa” estão os frequentadores do local. Em sua maioria são jovens que buscam uma opção de lazer dentro de sua própria cidade.
Renato da Cunha, 23 anos, algumas vezes vai ao posto encontrar os amigos. Diz que não é frequentador assíduo, mas gosta do ambiente. “Não dá confusão, o pessoal é tranqüilo”, garante o rapaz que reconhece: “Deviam entrar em um acordo com o pessoal dos carros para que não façam tanto barulho para os vizinhos.”
Outro jovem confirma que a maioria já chega com bebidas geladas. “Além de ser caro, perderíamos toda a noite tentando entrar na loja de conveniência”, brinca, sobre a quantidade de pessoas que frequenta a região a cada final de semana.
Para eles, o fechamento da loja também não é visto como solução. Caso a loja não abra à noite, os amigos dizem que seguirão se encontrando ali, de onde costumam partir para outras festas. “Para nós não faz diferença se a loja está aberta ou fechada, nos divertimos igual”, dizem.
Fonte: Mariú Delanhese / O Alvoradense