A greve do funcionalismo público, que a partir desta segunda-feira (19) entra na terceira semana de mobilização e já é a mais longa da história de Alvorada, segue sem perspectiva de solução a curto prazo.
Se nos primeiros dias, enquanto o encontro entre servidores e o prefeito Professor Serginho não acontecia, a expectativa era de que o impasse poderia acabar tão logo ocorresse um gesto de diálogo da prefeitura, a partir de agora tudo é dúvida. Certeza mesmo é de que tanto grevistas quanto membros do governo municipal não previram uma paralisação tão longa e que gerassem um impacto tão grande.
O número da adesão de trabalhadores ao movimento ainda é incerto. Contudo, o acampamento em frente ao prédio da prefeitura, os constantes bloqueios na avenida Presidente Getúlio Vargas, as campanhas nas redes sociais e a atenção da grande mídia já são mais do que suficiente para atingir em cheio o governo e gerar um custo político que ainda deve cobrar a conta.
O encontro entre as duas partes, na segunda-feira, dia 12, acabou esquentando ainda mais os ânimos. Ao anunciar o corte do ponto dos grevistas, o resquício de acordo – naquele momento tão pequeno – foi por água abaixo. A assembleia da categoria já estava marcada para acontecer minutos depois na praça João Goulart para votar a proposta do governo. Não era preciso. Quando as 19 pessoas que acompanhavam o encontro se levantaram da mesa, o futuro da mobilização já estava claro: os municipários continuariam de braços cruzados.
Com a primeira tentativa de diálogo frustrada, era a vez da Justiça entrar em cena. A prefeitura buscava comprovar a ilegalidade da greve e juntou ao processo que remeteu à Juíza Nara Cristina Neumann, fotos de carros com pneus murchos e outras avarias supostamente cometidas pelos grevistas. O despacho da magistrada, contudo, não avaliou tais acusações e se ateve apenas ao caso específico dos servidores da Saúde. Sem chegar nem na metade da meta da campanha de vacinação e com exames há dias sem serem realizados, Neumann determinou o retorno imediato de 100% dos trabalhadores da Saúde. “A falta de qualquer servidor, até mesmo um motorista lotado na secretaria, pode frustrar eventual atendimento de urgência ou emergência, com dano irreparável à saúde dos cidadãos”, sentenciou. O sindicato leu o passo como tentativa de intimidação. A prefeitura, como busca de direitos.
A sentença chegou à praça na quarta-feira, dia 14, pela tarde. Rodinei Rosseto, presidente do Sima, se reuniu às pressas com os advogados do sindicato. Até aquele momento pairava a dúvida entre os municipários sobre a legalidade do movimento e coube a um dos advogados esclarecer a decisão da juíza. Em reunião fechada, os profissionais consideram os argumentos de Neumann frágeis e passíveis de questionamentos. Foi a garantia que o sindicato precisava para decidir manter os servidores da Saúde no movimento. No dia seguinte um grupo chegou a improvisar um estande na praça para medir a pressão das pessoas que passavam pelo local, como forma de demonstrar que se o atendimento não estava sendo realizado, a culpa não seria dos servidores.
Um novo encontro se desenhou na quinta-feira, dia 15. A pauta de reivindicações e a proposta do governo não mudaram. O resultado da conversa também não. A greve persiste sem que, no momento, alguém no Largo Leonel Brizola – seja dentro da prefeitura ou acampado do lado de fora – possa arriscar como e, principalmente, quando a paralisação chegará ao fim.
A negociação em sete atos
O comando de greve, capitaneado pelo presidente do Sima Rodinei Rosseto (1), foi recebido na segunda-feira, dia 12, no Salão Nobre da prefeitura por membros do governo, representantes da base aliada na Câmara e o próprio prefeito Professor Serginho (2), que começou sua fala enumerando os investimentos recebidos pelos municipários ao longo do seu governo. Tão logo discursou, coube ao próprio prefeito anunciar os 12% de aumento aos celetistas e vale-refeição de R$ 14. Depois disso Serginho praticamente não falou mais.
Foi a vez do secretário de Administração Ramiro Passos realizar um discurso mais duro, carregado de críticas aos sindicalistas e com contrapontos aos posicionamentos da categoria. Em vários momentos houve tensão, com tom de voz mais alto e dedo em riste (3 e 4). O depoimento de uma merendeira, que se disse desamparada pela prefeitura quando precisou de auxílio médico, deixou em silêncio a sala (5). Ao final do encontro, Ramiro ainda tentou convencer Rosseto (7) de que a proposta do governo era a melhor que poderia ser apresentada para a categoria e apelou para o seu poder de convencimento. Em vão. Já na saída no prédio, antes mesmo da assembleia começar, os servidores recusaram a proposta e chegaram a cercar o prédio da prefeitura à procura do carro do prefeito (6) que tentava deixar o local.
Fonte: O Alvoradense