Ao refletirmos sobre as características com as quais as sociedades submetem os seus valores, como um todo, considerando as diferenças históricas de cada uma, os aspectos geográficos, os tempos e costumes a que pertencem, observamos os ciclos repetitivos de suas linhas históricas, que se repetem e acrescentam os fatos que são próprias às suas contemporaneidades. Em todas as etapas analisadas detectamos as contradições que surgem, paradoxalmente, transformando os fatos sociais.
“A cultura, um complexo de padrões de comportamentos, crenças, instituições e valores outros, transmitidos individual ou coletivamente, e típicos de uma sociedade”, como afirma Sérgio Buarque de Hollanda, não poderia deixar de ser a base óbvia que impulsiona o homem e direciona o seu caminho na história.
Se quisermos tecer uma crítica a essa tentativa de querer enquadrar o que seja cultura, como se fosse uma coisa passível de ser vista de fora, teríamos que impelir, ao máximo, uma arguição pautada pela aguda busca às evidências objetivas e claras. Entretanto as evidências formam uma coletânea de presunções que podem servir a postulados passíveis de erros e acertos. Essa pode ser apontada como uma fragilidade da arguição, quando tentarmos afirmar algo. Pena que as obviedades às quais estamos sujeitos, por experiências e certificações, nos levem a sermos cautelosos em relação aos velhos caminhos que nos são apresentados com novas cores ou que nos seduzem, como as sereias seduzem mortalmente suas vítimas em seu habitat, porque o nosso habitar é a prosa poética que a filosofia nos oferece, através de um possível chefe de um cardume de sereias da moderna filosofia de língua bifurcada que não só matam afogados os que contradizem seus argumentos, como envenenam suas almas impedindo-lhes escolhas.
Cabem-nos as escolhas que poderemos fazer sob o risco de evasões da lógica, o que com isso perderemos a chance de detectarmos, verdadeiramente, o que aprendemos ou construímos como cultura no seio das nossas vivências cotidianas, sem mistificações ou falsas fantasias.
A deterioração de uma sociedade contemporânea partida, fragmentada, em que vivemos, de certa forma fortemente consumista e desumanizada, provavelmente tenha chegado ao seu limite. Assim, nessas periféricas tensões que vão e vem, como um balanço que sobe e desce, que tange o conservadorismo e a liberdade, acarretará num processo de transformação que independe de nossa vontade, isto é, fecha um ciclo que se debate entre a tecnologia que avança em grande velocidade e mergulha o comportamento humano em águas conservadoras. O que poderá advir? O que poderá ocorrer? Não sabemos. A história aponta suposições. Mas as suposições não se sustentam, continuam frágeis, tão frágeis quanto nós e nossa ânsia em imaginarmos e tentarmos prever o imprevisível.