Basta a formalização da degola de Dilma Rousseff para que as torcidas voltem a se manifestar, sejam elas contra ou favoráveis ao impeachment. É verdade que o choro é livre, mas chama atenção o silêncio daqueles que defendiam o impeachment e, principalmente, a gritaria e ausência de autocrítica da torcida que defendia a permanência da presidenta. Diante disso, o que me leva a oferecer uma leitura alternativa desse processo é o recente textão da Laís Medeiros, e que está muito bom, mas discordo em alguns pontos.
Lembro que os movimentos pela derrubada da presidenta foram, com o tempo, tomando força impressionante, a ponto de contar com a participação de pessoas com origem política em partidos progressistas. Não foi coisa só de “coxinha”, como quiseram fazer acreditar – ah, sim, isso era papo da mídia manipuladora. Em um domingo de sol, uma sessão do Congresso fez o país inteiro paralisar, e fez o dever de casa. A principal tese das ruas era a de que o afastamento de Dilma levaria à recuperação da economia. Melhorou? Não mesmo: o governo Temer, até agora, é um desastre. No estado e no município, temos os seus avatares: nem preciso dizer quem são.
Questiona a Laís: “como foi que deixamos o golpe acontecer?”, e alega que “não deixamos o golpe acontecer porque nunca esteve em nossas mãos evita-lo”. Laís, o afastamento e impeachment de Dilma não representa um golpe. Acontece que Michel Temer foi eleito junto com Dilma, em 2014, com os 54 milhões de votos. Dilma foi perdendo a base normativa de apoio e, por consequência, a popularidade – isso significa que, ao ser afastada, mal e mal tinha 5% de popularidade, de acordo com as pesquisas de opinião. É justamente isso o que legitima o processo que está em julgamento. O fato é que a maior parte dos eleitores, hoje, não querem Dilma ou Temer na linha de frente. O processo que está tramitando pode ser considerado imoral, mas é constitucional.
Aliás, seríamos ingênuos por acreditar nas instituições e em nossa democracia que, com sérios limites, parte considerável de seus procedimentos não passaria de encenação? Então porque cargas d’água se dizia, tempos atrás, que foi justamente por conta da melhora das instituições governamentais que nunca tantos corruptos foram presos na História desse país? Aliás, não é este o argumento favorito dos defensores da volta da CPMF, uma contribuição que é verdadeiro achaque, assumindo o inchaço governamental como algo natural, as regalias semelhantes ao cartão corporativo sem limite de gastos ou quaisquer modalidades de prestação de contas?
Entre os petistas históricos, sem dúvida alguma Olívio Dutra está entre os melhores que o partido possui. Cabe lembrar que foi justamente seu excesso de sinceridade, diante do escândalo do mensalão, que levou a sua substituição no Ministério das Cidades, no governo Lula, há pouco mais de dez anos atrás. Naquela época ele criticou as “más companhias”. É o mesmo Lula que, depois, foi o maior contestador das medidas de Dilma, logo após ela ter inventado de mexer nas bases do Plano Real. Mas Olívio foi mais longe ainda: disse, várias vezes, que o partido se tornou excessivamente burocratizado, voltado apenas aos processos eleitorais, com fraca renovação e completo afastamento dos movimentos sociais capitulando ao neoliberalismo. Igualzinho aos outros, dos quais sempre fora tão crítico. A pobreza foi reduzida no mundo inteiro, mas é verdade que as políticas sociais são fundamentais e fazem enorme diferença.
Enfim, cabe lembrar que as chapuletadas nos direitos sociais já aconteciam a partir do momento em que Dilma foi reeleita. E que, ao longo de mais de doze anos, não tivemos a tão propalada reforma política, e nenhuma outra das possíveis. Pelos motivos acima, o que existe é conversa fiada, uma enorme cortina de fumaça para escamotear o escândalo que são as eleições desse ano, aqui em Alvorada mesmo. Isso é tema para outro textão.
Em tempo (1): Edison Sehna está cursando MBA em gestão pública e realiza pesquisa na cidade, com os objetivos de mapear o eleitorado alvoradense, identificar suas demandas e mensurar a participação político-partidária. Tão logo o trabalho esteja concluído, ofereceu apresentar os resultados. A forma de coleta de dados é através de questionário on-line, e seu preenchimento não leva mais que cinco minutos. Participe.
Em tempo (2): o Evandro Berlesi continua vendendo seu engraçadíssimo novo livro, Game Over: leia agora ou cale-se para sempre! Além do livro ter baixado no preço, quem comprar também leva um filme de presente.