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Foto Paulo Bentancur prestigiando lançamento das “Formiguinhas” do escritor e nosso colunista Artur Madruga
Paulo Bentancur prestigiando lançamento das “Formiguinhas” do escritor e nosso colunista Artur Madruga

Obrigado pela lembrança. Quedo sempre com o coração pulsando quando vejo uma foto minha com o Paulo. Nesses 37 anos de amizade, mesmo que em tempos distantes, foi incansável na apreciação do meu texto. Às vezes queria achar que era muita gentileza, mas declinava desse pensamento diante de sua extrema exigência do que poderia ser considerado literatura. Tive a sorte de, nesses últimos meses ter feito um trabalho que sempre sonhei, escrever um romance desafiador que há anos me corroía. E aprendi, durante 11 árduos meses, a mergulhar no que me propunha com a sua assistência, avaliação, correção, trocas, discussões, e incorporação final a leveza do rumo que um romancista deve ter para deixar com que seus personagens tomem vida própria e conduzam a história. Ele estava muito entusiasmado com os capítulos que eu ia enviando. Fazia contrapontos, questionava e compreendia, por fim, as intenções gerais do romance. Cada capítulo oferecia novidades. Infelizmente tive que dar uma pausa em junho de 2016, no vigésimo sétimo capítulo e quase no fim do livro, para retomar em outubro. Ele me disse que parar naquela hora seria um crime de “lesa-literatura”. Ao terminar o romance iríamos partir para o outro que eu já tinha esquematizado. Não houve tempo. Falara-me da repentina ansiedade que uma avassaladora paixão lhe transbordava a alma. O amor renovado sairia do virtual para o real. Paulo ficou com o amor que buscara nas palavras. Eu fiquei com suas palavras me guiando para, sozinho, convicto entretanto de sua derradeira crítica, finalizar meu romance A Serpente Amordaçada que a ele será dedicado, meu eterno editor e cúmplice literário cujo encontro, nas suas origens, devo a José Couto, por ter me jogado ao mundo das premiações literárias na década de 70.
Ainda não sei porque escrevo.
Estou pensando

Artur Madruga

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A um poeta

Ode a Paulo Bentancur

Revisto-me de Rainer Maria Rilke
para escrever cartas a um poeta.
Escrevo por necessidade intrínseca
que revela-se nas horas silenciosas

Escrevo para descrever minhas dores,
minhas dúvidas e minhas paixões,
procurando tornar mais adocicada
a impermanência tão breve da vida.

Escrevo porque apesar dos senões
a criação de poemas realizados
são flores de minha alma que sonha.
imagens nascidas dentro de mim.

Escrevo para revelar as belezas
que a natureza nos proporciona:
os frutos da maior inspiração que
termina com a solidão do homem.

Escrevo por ser a única forma
que acalma meu sofrimento
pela perda tão imprevisível
de alguém que me soletrava.

E na homenagem que a faço
ao talentoso poeta e amigo,
cuja perda as palavras choram
copio Rilke, usando suas palavras:

“ O futuro permanece firme
mas nós nos movemos
no espaço infinito.”

Themis Groisman Lopes

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Escrevo para não gritar

Escrevo para revelar
O mundo que me habita
Para não fazer bobagem
Faço-a escrita
Escrevo para não esquecer
Escrevo para registrar
O mundo que me habita
Para não cair na loucura
Faço-a escrita
Escrevo para conhecer
Escrevo para entender
O mundo que me habita
Para a vida não ficar em branco
Faço-a escrita.

Silvana Conterno

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Escrevo porque tenho lábios cerrados, porém mente livre.
Porque tenho um corpo amarrado, mas alma leve.
Que passeia em minha pessoa
através de meus versos.
Escrevo para bombear o coração,
aliviando a dor de existir.

Monica Martins

*

Perguntam ao poeta por que ele escreve…
pareceu-¬lhe como perguntar: por que venta?
sempre comparou o impulso à escrita ao soprar do vento
inconstante, imprevisto, impreciso…

lembrou que já havia dito que todo escrito seu era um só
uma espreita em espelho
como um dente-¬de-¬leão à espera do sopro
o encontro preciso…

lembrou-¬se de Cecília Meireles
que escrevia porque nada lhe faltava
tinha o instante e isso bastava
e como um pássaro
cantava a precisão desse instante
enquanto Manoel de Barros escrevia a presença
do que lhe faltava

e então pr’além de carência e plenitude lembrou de Rimbaud
o grande blefador
que mais do que em suas iluminuras
jogou mais alto renunciando ao poema, à palavra
não à poesia, que esta é
independente ao fragor das quimeras dos dias
dos gritos do corpo
do gozo leniente

pensar no porquê da escrita sempre apontava à sua renúncia
ao inexorável salto de si
fora do buscar¬-se e perder-¬se
na linguagem
do ter e do não-¬ter
que se sustentam pela letra
das discriminações que giram a negar porque afirmam
e a afirmar porque negam

um salto rumo à face una
anterior ao corpo e seus ritos de auto¬-afirmação
e luta contra o tempo

restou ao poeta calar¬-se
e erguendo a cabeça
mirar no horizonte
o que não se descreve.

Gustavo Terra

*

para ti, para ninguém, para todos
Pablo Neruda

para construir pontes de caligrafias
entre o abismo do vir a ser
e a inquietude insustentável das inverdades

para tudo e principalmente para nada
expor a nudez das imperfeições ilusórias

o desejo de forjar desilusões
reverberar dúvidas
não estar e nem pertencer
a nenhum céu mar ou território

vestir a armadura das circunstâncias
degustar a inesperada insensatez
de uma metáfora inventada

viver desventuras façanhas presságios
desejos de improváveis ventos

para citar clovis Malta alucinar joelma Bittencourt
ressignificar-me alquimera 
Grazak outra voz lazará Papandrea
entranhar lou 
Lou naufrágios wander Porto
abraçar antonio 
Torres reconhecer-me elke Lubitz
receber o perdão themis 
Groisman permanecer consuelo Rezende
ser mosaico carvalho 
Junior cosolado rossyr Berny
enternecer adriana 
Lagrasta cativar andré Dutra
ser espelho chris 
Kuhn aos teus pés adri Aleixo
soprar peixes adriane 
Garcia explodir luciane Lopes
ser abrigo eloí 
Bocheco escutar paulo George
flutuar flavia 
D’Angelo translucidar fabíola Leone
meditar gustavo 
Terra orar paulo Bentancur 
bramir tantos outros poetas leitores

transmutar-me em raízes do acaso
imperturbável e indecifrável

porém, sempre regressando
por esse rio heracliano
dimensão pungente
desse amor que nos irmana

Jose Couto

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Às vezes
quando anoitece,
escrevo.
Porque para me ouvir,
só o papel,
e o breu
do céu.

Jô Diniz

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escreve_dor

escrevo pra iludir o tempo
que sôfrego engole-me palavras
pra matar a raiva in_contida
e os gritos todos incapazes

escrevo pra devorar os monstros
que habitam debaixo das águas
escrevo correntezas azuis em solo estéril
e arranco mordaças brancas do papel imóvel

escrevo pra escapar das horas
que relógios teimam lembrar
escrevo porque a vida me espreita
e a morte me tira pra dançar

Ivy Menon

*

Escrevo porque estrelas vagueiam no meu peito
E meu pequeno vagalume sente ciúmes dessas luzes na imensidão
Do meu coração com esse clarão perfeito

Escrevo sem nenhuma razão para escrever
Mas se não escrevo eu morro sem socorro e sem prazer
Viro um peixe fora d’água

Um rio sem afluentes transbordando de Máguas
Mágoas.
Que desemboca permanente num mar de lágrimas

Escrevo mesmo sem ter nada para dizer
Só para tocar nas mãos do mistério de escrever
Esse hemisfério etéreo
Que a terra sabe colher

Na verdade não escrevo nem para mim
Pois escrever já vem com início meio e fim
Com fim início meio
Não escrevo por galanteio
Gosto de florir as almas secas
Iluminar as coisas cegas
Caminhar sem pernas e sem farol
No destino menino do Sol

Pois só ele na quentura da ternura
Sabe aonde bate o meu coração
O anzol noturno das minhas aflições
Quando pesco no oceano dos desenganos
As ilusões diárias
E extra-ordinárias
Da essência do que deveria ser poesia em existência

Se eu fosse me escrever
Meus versos padeceriam feito pães dormidos na padaria do dia a dia

Quem me escreve é quente exigente
E eu não posso sentir nem ver
Nem conter
Esse desvairado SER

Não sei nem nunca saberei
Se é rei ou bandido
Se é rico ou plebeu
Se me é outro EU

Só sei que me devasta
Nunca me basta
Me arrasta pelos cabelos
Arranca os meus pelos
Depois de forma tão bonita
Me cura de todas as loucuras
Me cicatriza e eterniza
COM A PALAVRA ESCRITA !

Paulo George

*
Antropófaga

Silêncio
De caninos
Medonhos
Fareja minha
Alma sangrenta.

O verso vem
E o afugenta
: Escrevo para
Escapar da sina
De ser devorada
Por mim mesma.

TaniaContreiras Arteterapeuta

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Escrevo
Por que?
Não sei
Para compreender o risco
O cisco, a lavoura
A folha?

Para alcançar a claridade
Sondar mistérios?
Por que escrevo?
Sei não
Para respirar meus
Absurdos
Rezar o grito
Fugir do rito?

Por que escrevo ?
Já sei
Para lamber o chão.

Luiza Cantanhêde

*

São inúmeras as razões que levam um indivíduo a escrever. Eu escrevo motivado pelo medo. Tenho medo de não poder escrever, tenho medo de escrever o que será e ainda não se mostrou. Sou o tipo de pessoa que não distingue poesia de profecia. Um tipo de escritor que não espera ver para crer, mas escreve mesmo com medo para ver acontecer. Nem benção, nem maldição: escrevo para aceitar. É nessa contradição, escrevendo, que me vejo pedaços reunidos quase inteiro. E escrevo motivado pelo medo de não aceitar o que leio.

Antonio Baltazar Gonçalves

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Escrevivente

Por que escrevo?
Pergunta-me o poeta.
Ora por não saber dizê-lo
Ora por querer gritar
Tão alto
Que preciso da ajuda das letras
Escrevo para achar um canto
Em mim
Onde possa deitar
E contemplar meu céu
Para desvendar os labirintos da vida
Salvar minha amada
Da fera de Creta
Para ir a mundos distantes
Sem nave especial
Pra ir ao espaço
Num espaço de um verso
Escrevo para navegar
Os rios que correm em mim
E pra desaguar na mansidão
E imensidão da arte
Do fluxo corrente nas frases,
Linhas transcorridas
Transcritas em rimas
Em rumos, em ramos
Dessa frondosa árvore
E de seus incontáveis galhos
Escrevo porque as palavras estão vivas
E não suportam ficar na inércia circulante
Do cérebro
Ou nas trincheiras embaralhadas
Dos meus pensamentos

Manogon Manoel Gonçalves

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Vídeos

Breve depoimento do escritor Paulo Bentancurt quando esteve participando da 13ª Feira do Livro e 18ª Feira do Livro Espírita de Júlio de Castilhos, momento em que realizou palestra e lançamento de sua obra.

Vídeo poema com interpretação de Carlos Eduardo Valente

O JUSTICEIRO

Adroaldo era baixo mas troncudo
As sólidas pernas, um moirão
Os braços, a força dos remos
De Homero
Um dia encontrou o Diabo
Que caiu em desgraceira
Foi logo rir-se de Adroaldo
E com ele assuntar
Não tem conversa com peão não
O homem pegou o rabo
Do Demo e deu tanta volta
No ar
Satanás gritava que nem uma drag queen
Adroaldo não cansava,
Girando, girando, girando
Coisa-ruim foi sentindo uma coisa ruim
Vomitou todos os pecados.

O escritor Paulo Bentancur lê um trecho de seu livro “Instruções para iludir relógios” (IEL / Artes & Ofícios, 1994), no quadro Momento IEL do programa Tons & Letras (Rádio FM Cultura 107.7). Áudio veiculado em 08/12/2012.
O Programa Tons & Letras vai ao ar todos os sábados às 11h.