Algum tempo atrás, li um texto na internet e que me fez escrever a coluna de hoje, que envolve a parte divertida do futebol e da recreação.

Dia desses na redação do jornal olhei o relógio e acompanhei os ponteiros, severos e firmes, marcavam exatamente 15h30min.

Trajado por uma bermuda e camiseta polo, em meio a dezenas de folhas, livros, whats app tocando e uma selva de pessoas gritando e organizando matérias, diretor cobrando e estagiários aventureiros, “nostalgiei” na memória a de um mundo que já não me pertencia mais há demorados e longos cinco anos.

“Chegou a hora, hein?!”
Ouvia-se aos berros um dos apressados, que apontava a saída do túnel do vestiário.
Mas a hora de quê? Do almoço? De estudar? Da cervejinha gelada? De ir no Boteco do Neco?
Não!
Mas era quase isso, um “quase treino”.

Não deixava de ser um prato de entrada, das mais refinadas cozinhas italianas e que não podia  faltar jamais.

Era o esperado “bobinho”, que poderia ser considerado até uma festa sim, das mais glamurosas do high society.

Só quem joga pra saber exatamente o que isso significa a importância do bobinho, como “antecipador” de um treino. É como se fosse a coroa do rei para uma solenidade de sua Monarquia.

O bobo é praticamente um dos principais testes de emprego, quando se faz um no RH de uma empresa, é como se fosse desenhar um homem atrás da Árvore, se torna fundamental não errar.  Quem não participa, certamente sujeito homem não é.

Como em qualquer atividade profissional, o futebol  tem suas peculiaridades e a verdadeira finalidade dessa brincadeira, talvez seja a mais séria do processo de aquecimento dos boleiros, aqui no Brasil ou até mesmo na Coréia.

Alguns atletas vão se enturmando vagarosamente, antes do apito do chefe, outros ficam arrumando suas ataduras, outros na famosa “resenha” do banco de reservas. Alguns até chupando gelo ficam, têm os que ainda estão calçando seus tênis, os que recém estavam suando na academia do clube, naquela famosa “nhaca”, no aguardo da definição, se vai se confirmar mesmo o treino com bola, ou aquele dia que ninguém quer, o intragável físico!

Os mais experientes normalmente estão conversando em pé, com as mãos pra trás, com algum funcionário do clube ou com outro jogador também da sua faixa etária de idade ou de rodagem no futebol, ali mesmo dentro do campo.

O tempo não importa, se faz chuva ou sol, segunda ou quinta, BOBINHO TEM TODOS OS DIAS!

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Inicia-se, então, a solenidade: a tão famosa ‘roda de bobo’. E são sempre os mesmos, não adianta. Pode olhar na roda, vai tá lá o seu Fulano, o seu Siclano, um goleiro reserva, um juvenil “cabaço” e um cara de teste no meio da roda, tomando caneta adoidado, toda hora mesmo.

Depois chega o resto do grupo: os atrasados, os desleixados com a chuteira desamarrada, os que dão “migué” , fingindo que tão fora da roda, mas acabam dando o “tapa” quando ela vem, agregando e encorpando. Assim, a roda que antes era miúda, quase uma roda de bate papo, formando aquele círculo mal feito, agora já com 2 bobos no meio. Às vezes 3 ou 4 se necessário.

O bobinho é tudo que um psicólogo precisa pra identificar o caráter e a personalidade de uma pessoa.

Aquele que dá o passe enforcado para o colega da esquerda se ralar ou tomar um carrinhola do goleiro reserva, que não tá nem aí com a integridade física dos companheiros.

Tem também o displicente, só tenta dar caneta e na hora de marcar deixa a dupla da direita se matar “correndo errado” e fica só pilhando:
“Pega! Pega!Pega!”.
Cada passe certo é um festejo, a brincadeira começa encabulada, baixinho e de uma hora pra outra, aí todos já contam alto assim:
“1,2,3,4 e a festa começa de verdade.
“Seis, sete, oito, uiiiiiiiii!”
Já era, a roda entrosou e aos berros continuam:
“Aíííí, 9, 10, 11, 12”
É alegria espraiada!
Pois quando fechava 15 ou 20 toques na bola, o bobo ou os bobos repetem mais uma vez.

Aí entra a vez do jogador “experiente”, quase sempre o capitão do time, o cara mais respeitado do grupo.
Ele grita: “Vamos alongar, afastem as pernas e as mãos nos calcanhares!”
E não é que os “bobos” abriam as pernas?
Pronto! Lá estava mais uma vez, a pelota, ultrapassando entre seus tornozelos e a janelinha tava completa.
“Repete mais uma aí juvena”, grita a roda.
Uma alegria só!
Caneta é a cereja do bolo, o ponto alto da brincadeira.

Uma pena é que nem todos os trabalhos tenham uma roda de “bobinho” para animar uma tarde de produtividade séria para descontrair e agregar mais sabedoria e felicidade ao lugar tão sério e de responsabilidade.

Obviamente que estes momentos, a grama verdinha, a bola macia são para poucos.

Agora já são 16h48min e eu não estou mais nesse habitat. Mas sempre que olhar meu relógio e ver o horário das 15h30min vou me lembrar de tudo isto.

Que bom que existe o bobinho e que dor que da essa tal saudade.