Não é demasiado insistir na diferença que os indicadores de localidade têm. A importância que eles revelam às estruturas de convívio que nos cercam.
Aqui, ali e acolá contribuem para uma correta determinação dos jogos sociais a que estamos expostos e a que somos submetidos cotidianamente. Entretanto, o que mais impressiona é que passam imperceptíveis, como fantasmas não revelados, não manifestos. Mas existem, mesmo que no inconsciente de todos nós, passando muitas das vezes por efeitos do imaginário coletivo, expandido que foi em conta-gotas individualizadas pingadas nas esquinas da vida em seus diversos formatos, da boataria ao oficialismo pontual. E, óbvio, claro, lógico e evidente, que todos espargidos segundo a intencionalidade de um indivíduo ou grupo.
O nosso sistema de suposta formação cidadã quer, de forma contínua e desesperada, apontar os caminhos que devemos seguir. Não suporta a iniciativa livre e a expressão plena do indivíduo. Aponta o dedo em nossa cara para falar de princípios éticos que em verdade é antiético e atende certos motivos escusos. O mantra que repetem é que “a ou b se encontram afastados por esse ou aquele motivo”. Distante das apregoações que se pretendem benevolentes e que, ao contrário, vistas sob a poderosa lupa da razão, podemos observar em seu DNA os gens do cinismo. Esses não são vistos à olho nú.
E não estou me referindo às possíveis divisões da sociedade em classes sociais. Antes, e, sobretudo, a um conjunto de pessoas que acreditam que ideologias são necessárias para a promoção social. Provável engano. Ou melhor, provável e supostamente tendencioso engano, se assim podemos nos referir a um proposital equívoco.
Não há como fugirmos dos conceitos da língua. Ideologias são, em essência, sinônimos de poder, ao contrário dos ideais que se consubstanciam como projeções favoráveis ao bem comum, onde a discriminação, seja qual for, não tem espaço, porque se estabelece em ambientes de pleno convívio de toda rica diversidade de ideias próprias das resultantes da reflexões e necessidades humanas.
Prevaricam os contrários portadores das bandeiras ideológicas com suas propagandas enganosas que não só conseguem iludir a boa vontade do homem comum, como exploram a sua ingenuidade e esvaziam seus bolsos.
AQUI, bem perto, colado ao nosso cotidiano é possível, como é possível ALI, um pouco mais afastado do que nos rodeia, ou ACOLÁ, de onde menos poderíamos supor o ataque que, por ser inesperado, nos deixa perplexos.
Chega-se a imaginar uma pirâmide que se inverte a todo instante, subvertendo e desestruturando o equilíbrio necessário para que a sociedade não se quede ao abismo. Aqui, ali e acolá, como num jogo de dominós, derrubam suas peças impondo amordaçamentos através de suas ideologias e exercitam a oclusão às alternâncias ou viradas de jogos a cada final, evitando o xeque-mate.
O jogo espúrio se apresenta como verdadeiro. E sangra.
Sangram os pedaços arrancados da educação, da saúde e do trabalho. A cultura, artigo de luxo nesse cenário, se dilui ofuscada por uma paisagem subserviente, submissa, ajoelhada em balcões de negociatas como objeto inútil ao aqui, ali e acolá.
Destarte traduzida, nivelada por baixo, inócua, ela – a cultura como fruto primordial daquilo que chamamos sociedade, incluindo-se a arte como seu carro chefe – transforma-se, fragmentada, em quaisquer coisas. Menos construção. Menos revolução. Mas esse é outro assunto.