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Perguntei para o mestre Alquimera Grazak

– Alguma poesia em especial te tocou mais profundamente, que outras.

Resposta

– Estou com dificuldade em escolher um poema. Sei que sou suspeito, porque é uma releitura de meus quadros, mas toda essa tempestade poética que estou observando, me trouxe uma grande esperança à poesia brasileira, haja vista que são olhares de poetas de diversas partes do país, representando uma diversidade cultural imensa. Entretanto, o que observo, é uma qualidade textual como há muitos anos não lia, Poucos poetas me entusiasmavam. A poesia estava cheia de vícios e patinando na pieguice cultural que desabou sobre o povo brasileiro. Surge um frescor às palavras que eu imaginava irrecuperável. Estar envolvido por isso que está acontecendo me deixou de certa forma tão perplexo, que ainda não encontrei as palavras para agradecer a todos e a ti, José Couto, pela iniciativa. És novamente responsável por uma fase nova que se inicia na minha vida, unindo a arte com o experimentalismo criativo coletivo. Parece que que costurei uma bola para que os jogadores se motivassem a chutá-la e, com a batuta de um técnico que sabe o seu ofício, fizestes a partida funcionar. Um jogo que está ganho. O jogo da poesia, da palavra, do lirismo, da arte. Elos que se unirão para construir uma corrente extremamente forte que leva todos juntos, pra frente. Sinceramente, todos os poemas, até agora, estão impecáveis. Na ausência e na impotência de escolher uma, porque estaria rompendo uma cadeia forte que me aprisionou dentro de uma estética apaixonante, escolho todas, Todas são essências à minha emoção nesse tempo. Cabe ao técnico, ao proponente, ao idealizador do projeto fazê-lo. Peço perdão porque todas essas poesias são as extensões da vida exterior que começaram a me habitar. Me emponderei, sobrevivi a algo irreversível e inominável. Talvez, ao dobrar a esquina e descobrir que aquilo que não vejo tenha se tornado transparente, eu venha mudar minha posição. Por enquanto sou apenas gratidão a todos os poetas que estão participando do projeto e a poesia que sustenta nossa vida. Abração José.

Artur Madruga

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Ah, quimera
Que sol ou prece
Deixou em teus olhos
As cores do sobressalto

De onde vens
Ó escultor de luzes
E formas
Trazendo o azul do
Atlântico nas mãos
Contido num caleidoscópio
Fragmentado.

Movimento
Arabesco
Vértebras
Aves, pedras e peixes

É a Arte gritando
Pintando
O Universo
Num Girassol
Vermelho

Luiza Cantanhêde, especialmente para a arte de Artur Madruga

Vídeo interpretação de Felipe Anderson

*

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Por detrás do azul

Todo amor
Tem fundo
Falso.

Cor-de-rosa
Matizes de
Azul, amarelo
Laranja, violeta.

Arco-íris é a
Voz anárquica
Da Tristeza;
A Beleza chorando
Em gotas suspensas
E ensolaradas.

Todo amor
Tem, sim, um
Fundo falso;
Onde os amantes
Deitam e choram;

A flecha do Cupido
É seta apontada para
O fim de uma estrada
E a gênese de uma loucura
Forjada pelo Raso.

Enlouquecem
Os que esmiúçam
As feições impávidas
Do Nada;
Tornam-se
Céticos
Cortam-se
E sangram sem
Ousar acreditar
No Infinito.

Eu olho pelo
Olhar de Artur
E me aparto do
Axiomático.
Atravesso o azul
O cor -de –rosa
A explosão fogosa
Da esperança anoitecida
– Porque todo amor é tecido
Com os finos fios do
Mistério!

TaniaContreiras Arteterapeuta, especialmente para a arte de Artur Madruga

Vídeo interpretação da poeta Tânia Contreiras

*

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(Al) Quimera

olhos de mandrágoras
a Arte cheia de frutos
divisa a aurora
assombra Ágora
e zomba de Platão
Aristóteles acorda
gargalha de si
“só entre se souber geometria”
grita aos neófitos e desavisados
ecos apenas

espectros conhecem melhor as regras
utopias
sabem de cor e salteado
que a teoria das cordas dança
tira onda do mundo das ideias
o universo namora rimas
a vida sobrepõe-se ao mito
brincadeira de criança
Quimeras
sublimes versos dissonantes
desenhados nas linhas das palmas das mãos.

Ivy Menon, especialmente para a arte de Artur Madruga

Vídeo interpretação da poeta Ivy Menon

*

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Eterno Retorno

Você pode sonhar um planeta
colorido, até o fim da linha.
Ousar mais que o Vaz de Caminha
e ultrapassar o escuro do firmamento, tão
resoluto. Viajar em luz, sombra e pigmentos,
mesmo imprecisos. Mas do centro oco de sua viagem
de bicho homem, lá no sempre escondido, estará
o seu umbigo.
E o céu, vasto espelho centrífugo, a te mirar
no caos.

Fabíola Mazzini Leone, especialmente para a arte de Artur Madruga

Vídeo interpretação da poeta Fabíola Mazzini Leone

*

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esse rio

p/preta

Porque não pude compreender o silêncio dos deuses
o perfume das nuvens e o voo do mar entre as rochas

tive saudade da vida que não vivi em Estagira na Macedônia

Porque não soube decifrar as escrituras
que corpos em simbiose tatuaram em tua pele
palavras que árvores gotejaram no pássaro aurático
em gozo e orgasmo

tive que fingir ter banhado-me no mesmo rio onde almas exalavam fragrâncias de memórias em decomposição

Porque me assombrou o abismo de teu peito
abraços imprescindíveis repletos de desejos, fomes, voragens, cosmos retraindo-se, para depois fluir desenfreados e desmedidos

Tive que colher estrelas incandescentes
de possibilidades e encantamentos
antes de Prometeu roubar de Hefesto e Atena
o fogo sagrado e presenteá-lo aos homens

Porque guardei fragmentos de auras forjadas, estilhaçadas, ressecadas de luzes e orvalhos

Inesperadamente estou agora aqui desnudo
Voz fora das estações ecoando palavras dissolvidas
nesse rio heracliano
ponto convergente de todos desenganos
buraco negro devorando-nos

Entretanto amada: dissonâncias de fluidos sutis
diluindo-nos em profusão
ainda reverberam
esse rio subterrâneo

encontro de minha sede com tua boca amor.

Jose Couto, especialmente para a arte de Artur Madruga

Interpretação poeta Antonio Torres

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Essência

De que matéria o artista é feito?
Quem vê o mundo desse mesmo jeito?
Quem gosta de andar em labirintos sem luz,
buracos escorregadios, nesgas escondidas,
ofegante, com cada vez menos oxigênio,
com as pernas exaustas do chão torto, sem caminho certo e seguro para seguir,
sem líquido fresco para matar a sede em lugar sombrio, fechado, que lhe esgota a sanidade,
e a água das vísceras?
Quem vê as formas de Rodin em rochas toscas, pedras cobertas de musgos,
quem reconhece o som das sonatas de Chopin em cristais disformes, gotas d’água de chuva escorrendo pelas curvas das grutas, folhas das árvores, pétalas das flores comuns em lugares sem importância e sem cuidado?
Quem vê tudo o que te passa despercebido
o tempo todo?
Quem perde tempo com o que não é fácil de ler,
fácil de lidar,
fácil de entender?
Quem deu ao artista esse olho que busca o que está por trás da cortina,
que busca o que está na coxia,
no avesso da cena,
e que não se contenta com o que as luzes dos holofotes insistem em fazer o seu olho engolir?
Ele tem fome das entranhas,
da célula tímida,
do que você esconde
e do que nem você mesmo,
depois de atravessar seus sete salões escuros,
ouvindo somente o eco da sua própria voz,
descascando cada camada do seu tempo,
até a faixa de limite de segurança te impedir de prosseguir,
conseguiu ver.

Jô Diniz, especialmente para a arte de Artur Madruga

Vídeo interpretação da poeta Jô Diniz