Fragmentos sobre a arte
Pinçar falas de um vasto elenco de fatores atribuídos como evidências das ferramentas que o artista utiliza para o seu fazer estético, é como querer, por exemplo, delimitar o que conhecemos sobre o Universo olhando para o céu à noite. A nossa limitada visão e conhecimentos nos permitem ver muito pouco do que realmente está lá fora. Por mais que os satélites procurem revelar e trazer imagens e notícias sobre a composição do que ignoramos, desconhecemos a verdade e a inventamos sob os mais diversos nomes, fraudando-nos ao perdermos a oportunidade de experimentarmos o que o gosto da descoberta possa nos proporcionar.
Mas será que a arte deve ter um só princípio estético básico sob o qual possam derivar-se todos os outros princípios, mesmo que presumidos ao acaso? Supomos que as ferramentas oriundas dessa fonte onde o artista busca para executar o seu trabalho, em essência, tem uma denominação independente do lucro que sua obra possa vir a lhe conferir, e que se chama simplesmente “reflexão”. Com ela ele inventa-se cotidianamente, de tal maneira que os seus “inventos” acabam por transformar-se em suas companhias, em seus queridos interlocutores com os quais dialoga as nuances da própria vida. Ou como lida com os seus parâmetros. Ou como reelabora essas concepções e as devolve. Por vezes o mundo exterior resta-lhe tão distante que ele acaba por não reconhecer as sombras e os algozes que se devoram ao seu redor. Ou ao contrário, em aguda percepção, constrói seus mundos livres, doces e encantados com tanta grandiosidade, sob seu ponto de vista, que é o que acaba por oferecer: “A estética do sonho e da reflexão”.
Uma reflexão pontual, possivelmente, mas a sua reflexão original. Visitar, reler ou apreciar a obra de um artista, no fundo, é buscar-se em outra proposta. O que o artista faz como princípio estético, é propor ao observador o compartilhamento de suas reflexões propositivas. Talvez por isso que Amit Goswami, um físico indiano, sentencia como com paradigma quântico: “A consciência é a base de tudo o que existe, e não a matéria”.
Artur Madruga
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Clarividência
Para o Mestre Artur Madruga (Alquimera Grazak)
Assim como Paul Éluard
Camus, Proust e Baudelaire
Sua cor do Gesto,
subverte a escrita.
Transformando-a em prosa poética.
A condição humana é seu viés.
A linguagem reinventada, personagem.
A volátil alquimia
produz nas entrelinhas
múltiplas leituras e ressignificados.
Carbonos de um diamante translúcido.
Sua mensagem é límpida e ilumina.
Somos seres inacabados
Cobertos de éter,
Ligados por átomos,
Banhados em luz.
Vídeo produção e interpretação Emanuela Lacerda
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ela vinha face linda
face lisa
em purpurina e brisa
vinha lá de dentro
sempre quando o medo
decompunha o sonho
para dizer: voa, tens-me
ainda que o visgo dos dias
me deforme e eu esteja presa
à enorme teia dos séculos
ainda que meus berros se apaguem
na grande noite do tempo!
Lázara Papandrea, especialmente para a arte de Artur Madruga
Vídeo interpretação da poeta Lázara Papandrea
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TENGU
Depara-se com a tela nua, crua
Sua mão se alinha a traçar o imortal
É na brancura que constrói a sua linha
Na pressa insana de pôr fim ao bem no mal
Enfim, há sincronia.
Na negra escuridão, a morte, a noite
Passeia no mistério e na magia
A cor se alinha e salta a linha do destino
Detém-se a mente, no que se esmera
Na forma, se espelha Alquimera
E tece a rede
Sede e fome de um alento
Surgindo deus nas asas do tormento.
A solidão, a ausência, causa estranhamento
E se dissipa com o prenúncio da harmonia
A cor avança trazendo isocromia
A noite, o dia, transforma-se em renovo
Olha de novo e lá está a forma
O ser que rege, emerge da tinta
E se deslumbra no verde que o pinta.
Quando está em pé, olha o mundo
Se deita, olha-se no profundo
No pincel não há o que se repita
Um pássaro liberta-se místico, grita
Para anular do ser o mal que lhe é primeiro
O bem que não o tem, na guerra, é derradeiro
Em traços que se abrem e queimam por dentro
Enquanto nos olhos os medos se enfrentam
O ser que explora a liberdade. aflora
E o equilíbrio louco se restaura
Minh’alma credita : “ Tengu!”
Marta Aguiar Dos Santos, especialmente para a arte de Artur Madruga
Vídeo Produção e realização Willer Lopes
Interpretação da poeta Marta Aguiar Dos Santos
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dos segredos da arte
fascinada
busco na efusão do verde e rosa
a palavra dita pelo pincel do artista
sutis
os traços negros me segredam:
é no vermelho que desabrocha a Vida
Lou, especialmente para a arte de Artur Madruga (Mestre Alquimera Grazak)
Vídeo Interpretação do poeta Antonio Torres
No tempo de habitar
caleidoscópio
dei-me como deus
o arco no céu
e como alforria
ganhei o dom
de mimetizar-me
em pigmentos.
Joelma Bittencourt, especialmente para a Arte de Artur Madruga
Vídeo interpretação do poeta Antonio Torres
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Ah essas mãos que tecem o Logos é o fogo dos pássaros brincando nas sombras luminosas
Ah essas mãos que incendeiam a anima são os olhares grandiosos do olho cego de Borges
Elas lavram o vulcão das palavras contidas.
Na lua que menstrua em nossas almas na tragédia das ruas.
Ah esses pincéis , Bordéis que aliviam nossas angústias fiéis , giram os carrosséis bem para longe das nossas fúrias
Diante de Deus , dos céus avermelhados !!!
Ah essa pintura são duradouros pecados
Tatuados no tesouro da mãe natureza
Que piram todos os quadros da beleza
Paulo George, especialmente para a arte de Artur Madruga
Vídeo interpretação do poeta Antonio Torres
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Tuas mãos de nuvens de algodão
Pintam deslumbramentos nas sombras ardentes da angústia
O sol sangra versos verdes dos nossos olhos
Diante da beleza que emolduras os horizontes mágicos do Universo
Nesse teu parto de imagens inebriantes eu me reparto em pétalas
Para ser parte dessa imensa arte que mais talhada no cerne
Renasce floresce Primavera
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Finda a viagem. Deu-se o entrelaçamento de cores e linhas e o sonho não mais se despovoa. A possibilidade de viver o belo se expande e chega em lugar além: um não lugar onde se acomodam partículas de luz, e assim, o ontem pode ser revisitado como se acontecido no agora. A mágica foi engendrada. Lá fora fica sendo aqui dentro, onde há abraço e recolhimento.Sabemos o pleno e ele não nos escapa. Em estado de graça evocamos da prece que povoa o deserto e alimenta a larva solitária.Eis a concepção. Eis o nascimento. Eis a frutificação.Um homem-deus deixou registrado em traços e cores o grandioso ciclo. A beleza tem memoráveis desdobraduras!
Lázara Papandrea, especialmente para a arte de Artur Madruga (Mestre Alquimera Grazak)