*

I

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Conta-se que

O amor me chegou em casa
E saiu sem
Falar nada
O amor
Foi comprar cigarro
O amor foi conhecer
Paris
O amor ficou preso
No trânsito
O amor teve
Reunião de negócios
O amor furou o
Pneu
O amor socorreu
Uma vítima

E não era eu.

Adriane Garcia

*

II

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Meu mito favorito

Ah o amor
imortalizei-o
feito pegada
em solo lunar

e já não digo
se creio

só confesso
que creio
a quem aviste
espaçonave
em meu olhar.

Joelma Bittencourt

*

III

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Tu que me ensinaste o céu
afugenta a brasa por favor!
Queimando só
Corro riscos de desamor
e nuvens.

Lázara Papandrea

*

quando vier o amor
prepare fronhas macias, lençóis perfumados
faça um chá de flor de laranjeira
cosa um bordado de girassol para o vaso quebrado
abra as cortinas pela manhã
cuide do quarto , leve um café, uma maçã,
arrume o sapato

distribua pelas paredes quadros com muito verde
e um tapete azul como se fosse um lago
porque um amor quando volta fica melancólico
volta vago,repleto de mágoas, tem distúrbios do sono
cria crises, derrama lágrimas, não perde o foco
no abandono
-num descuido salta do vigésimo andar
e leva suas digitais como se delas fosse dono-

quando vier o amor prepare-lhe bolo
e confetes como da primeira vez
ou corte-lhe punhos e braços
antes que lhe venham as asas da lucidez
e o vazio seja, para todo o sempre, lugar de perdição.

Lázara Papandrea

*

IV

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a paixão, segundo ela própria

o amor desafia cordas
nós
cordões de três dobras
sinos que dobram
e nuvens que se vestem de pássaros

o amor a_braço
retesa o arco
acerta o alvo
ferida na carne
sangue que jorra

lírio do campo
campo minado
solo descampado
arado
pedaços cortados
sedento de chuva
insaciável

amor
cortina de renda
dentes agudos
louca ternura
vício de sim
de si mesmo

Ivy Menon

*

V

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Expresso

o amor fugiu
no trem (a)pagador

dizem que foi morto
e enterrado

e que a saudade
veio a cavalo

Chris Herrmann

*

VI

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Não te quero luz
Estrela no cio
Te quero
Caos
Vertigem
Êxtase
Vida

Afinal, o que é o amor?
Senão, esse pássaro
Sem asas
Gestado
Para saltar abismos.

Luiza Cantanhêde

*

VII

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____ DOCTOR TIME CARRIES A CAN OF WHITE PAINT LIKE A MOON ___

(Um poema para Lisete e os amigos Dea Conti, Luiz Carlos Baeta Neves, José Antonio Caixeta, Luiz Clementino e Marcílio Godoi)

No Trem do Tempo que ora vagamos,
Seguem também um tonel de memórias,
Alguns encantos, picolés de groselha,
Amores, poemas, resumos de histórias,

Alucinados solos de uma guitarra vermelha,
Um carrilhão de imbuia e badalos de ouro,
Uma canção de gaita, um poeta de nome Bob,
Hendrix, um ar distante, Janis, um blusão de couro,
Uma mangueira tão alta que nem o desejo sobe,
Uma boca gulosa pintada com lágrimas de amora,
O subversivo bloco de jovens recém-socialistas,
O estandarte ao vento conclamando o AGORA,
A boina, a estrela, a coragem a perder de vista,
O odor do vapor barato no cu das madrugadas
E uma porrada de medos atrozes nas risadas loucas,
A larica, o cadáver do Chê, a sede de comer enxurradas,
A fome de beber a Vida num poema de Minas: E agora, Mané?

As primeiras fotos coloridas e os primeiros beijos na boca,
Viajam clandestinos no apito do trem piuí, no vendaval da chaminé;

No Trem do Tempo que ora vagamos,
Corais de intrigas macambúzias,
Umas muletas de paixões vazias,
O vermute das intragáveis ânsias,
A ressaca de mundo e suas azias,
Os muros e seus cacos de vidros,
As trapaças das noites cansadas,
Viradas em litros e litros e litros
De cansaços de tantas trapaças.

Meio bilhete ou bilhete inteiro, escolham os seus,
Saudades viajam de grátis no vasto bagageiro,
Depois da porta corrediça do vagão do adeus;

No Trem do Tempo que ora vagamos,
Vai um obsoleto mimeógrafo a álcool,
Todos aqueles anos de aprendizados,
O doce significado da palavra arrebol,
O devastador encontro com a maioridade,
O saudoso e adocicado caderno B do JB,
Todas as canções da coleção “Felicidade”,
Uma delas de Tom, Só tinha de ser com você,
Mais tarde, alegria, alegria, como quem explode, nasce,
Vieram Caetano, os Beach boys, Gil e o tropicalismo,
Todos, cheios de mágoas, esbaldam-se na primeira classe
Do moroso e “pé-no-saco” Vagão do Doce Ostracismo;

No Trem do Tempo que ora vagamos,
Estão embarcados os petrechos de poetizar:
-Umas trouxinhas de chamar sonhos,
Nossa memória para tatos e perfumes,
O sabor colorido de uns oblíquos olhos,
A pinga espremida na taça das calmas,
As aveludadas semideias da nossa rua
Que viajam nas amplas poltronas das almas,
Com direitos à visão das estrelas e da lua
E as únicas que podiam seguir sem os cintos de segurança;

Afoitos, ainda arrotando colostro materno
Mas já embriagados de juventude,
Mal comíamos as minas,
Mas já esbravejávamos para o mundo,
Machinhos prepotentes: – A VIRGINDADE DÁ CÂNCER!

Além das mochilas de mel e chama
Vão umas saudades que nunca partiram,
Algumas paixões que a pele reclama,
Todos os desejos que ainda alucinam,
Um pesadelo, uma contrição e uma clemência,
Mil sonhos de vento que nunca adormeceram
E um compêndio de piadas de auto complacência,
São os combustíveis, as velas e os motores
Da locomotiva do Nosso Trem do Tempo!

No nosso Trem do Tempo
Está embarcado o nosso Amor
E embarcado nesse amor sobrevive
Um elefante de 8 toneladas
E os Sonetos de Shakespeare:

PS=Ah, Paixão, veja que lindos estão ficando nossos cabelos com a tinta lunar do Doutor Tempo, hã?!!!!

Wander Porto

*

VIII

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ROCA U HOJA AL VIENTO

Qué es el amor
sino el desbordamiento
del fuego que alimenta la razón
y de las fronteras del sueño?

Qué es el amor
sino el frenesí en la luz
del sexo, mares y estrellas
ocultando nuestros miedos?

El amor es roca u hoja al viento,
la ilusión de parar el tiempo,
el estado puro y bruto
de la naturaleza en flor.

Antonio Torres

*

XIX

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Toda mulher ou conta a lenda

Toda mulher deve ter, Adélia,
Um vestido com camélia ignorado,
Embora à mão, no armário.
Dele, ela verá a ponta
Escarlate. A metamorfose
Ela lembrará: azul, ouro, rubro.
Estará nele, Adélia, a tragédia
Do amor como flor morta.
E as traças no brocado
Terão o ritmo do passado.
Se ela o vestir, como um rito,
Não soará um sino, nem surgirá
O menino primeiro amor,
Mas o cheiro dela. Então, saberá
Que é melhor ser ela do que
Ser Amélia. E não precisará
Se guardar do tempo e do desamor.

Fabíola Mazzini Leone

*

X

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Repara na seda
dos sonhos e
vestes
Quando um caos
se inflama
é desatino
é drama

Repara na seda
dos sonhos e vestes
Perde-se o amor

a cintilância permance

Repara nas ramas
soltas e risos

na boca cínica do sol

murmura o mundo derrotado

Repara na dor, no grito
na lâmina

Repara na seda
dos sonhos
e
vestes

Liquefaz-se a brisa
e transmuta
orvalhos.

_ eu não sei se viste.!

Elke Lubitz