“Compreender um poema quer dizer, em primeiro lugar, ouvi-lo. Ler um poema é ouvi-lo com os olhos; é vê-lo com os ouvidos. O poema deve provocar o leitor: obrigar o leitor a ouvir – a ouvir-se.”

Octavio Paz

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Arte: Artur Madruga

à maneira de René Magritte

Ceci n’est pas une árida tempestade shakespeariana

Ceci n’est pas une alma desolada do pássaro desnudado enfurecido

Ceci n’est pas une última lágrima de Cristo crucificado

Ceci n’est pas une perfume da primeira manhã depois da alucinação

Ceci n’est pas une Zeus decifrando o som cabalístico
ecoando continuamente de uma mandala no longínquo deserto de rapa-nui

Ceci n’est pas une poema som pungente de oboé percorrendo os corredores ermos em louvações

José Couto, do livro O Soneto de Pandora

*

Interpretação do poema Carlos Eduardo Valente

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Nova leitura. Sobre o poema de José Couto, denominado “Autorretrato “ do livro “O Soneto De Pandora.

José Couto, instiga-nos com seu “Autorretrato” quando desenxerga-se frente ao espelho. Sofre ao pensar estar desfocado. Ambivalente, imagina estar no vácuo e não ser compreendido. Sobe ao Nirvana e desce ao abismo em busca de sua identidade. Assombra-se entre o desejo não refletido e os sentimentos que jorram. Quando as fronteiras do pensamento adquirem sua lucidez, surpreende-se ao descobrir-se poeta e toca a nossa sensibilidade de forma extraordinária, tornando-nos cúmplice de sua poética.

Themis Groisman Lopes

Autorretrato

Comecei a
desenxergar-me.
Face ao espelho
Vislumbro o tempo
já desfocado
de mim.

Um profundo assombro
sutis desertos
águas turvas
o desejo e o perfil de ser.
Amalgamam-se na imagem
que não se reflete.

Ampliam-se os horizontes,
os sentimentos.
Quase translúcido
toco com as pontas dos dedos
o poema.

E, como um milagre,
a linguagem começa a multiplicar-se.

José Couto

*

Vídeo reinterpretação da Médica Psiquiatra, Cronista e Poeta Themis Groisman Lopes

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Canção Póstuma nº 2

Subtraí os desassossegos do mundo
para que pudesses sonhar perfumes

Mamãe. ..mamãe…dá a mão pro seu benzinho

O que me coube transbordou
em afeto, luz, perdão
amor incondicional…

Mamãe…mamãe. ..posso ir?
Quantas auroras?

Mãe deixa eu te abraçar
antes da exorbitante e indizível
eternidade
dissipamo-nos

sopro dissoluto deste amanhecer.

José Couto, do livro O Soneto de Pandora

Interpretação do poeta Antonio Torres: