“Vejo, sinto e devoro a poesia de Lourença Lou: personalíssima e intransferível. Nua ao
nos expor os avessos da pele e os intestinos dos poros. Audaciosa, caravaggiosa e
despudorada ao enfiar o indicador na ferida exposta e suja das almas e duvidar, com
perguntas incandescentes, da legitimidade do vermelho que confere vida à gota nevrálgica
do sangue passional. Poesia provocadora e derramada de sensualidade como o bordel do
Éden no romance Gênesis. Contraditória como os ventos de Abril que anunciam Sol, mas
explodem em lágrimas outonais. Poesia louca e tirana como uma deusa apavorada de
amor que expõe o eleito dos seus desejos à sanha das palavras. Poemas essenciais como
devem ser os diálogos entre as informações vitais de quem leu, viu, apalpou e se fez
arqueira de flechas com pontas de Emocionol que invadem os vãos da vida para ativar
nosso Tempo de Sentir e nossos corações acidentais.
Lourença Lou é estrela e sua Poesia candente.
Em tempo: Os poemas de Lou são escritos em Mundês!”
Wander Porto
*
“Lourença Lou não escreve poemas. Materializa diamantes raros.”
José Couto
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“Eis o exercício a que a poesia de Lourença Lou se dedica, ao andar pelo fio de arame
farpado dos sentimentos: encontrar o delicado e frágil equilíbrio entre a confiança, a
tensão, e o perigo. Sem pressa. Sem afoiteza. Com cuidado, sensibilidade, técnica e
arte.”
Leila Míccolis
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“Mas se se trata de uma poeta pluritemática, multí- voca, fatalmente ela se expande em
todos os aspectos. Somente há uma exceção: o acabamento verbal, a artesania, o
desenho dos poemas, esculpidos, ora com delicadeza, ora com uma força capaz de
convocar o leitor para uma queda de braços.”
Paulo Bentancur
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“Lou, nos mostrava a ousadia e a lírica elegante de seu trabalho artesanal erguido
através de palavras que se propunham não o impacto sensual, mas o que ainda era
possível ser feito nesse gênero. E transbordá-lo posteriormente, ao mostrar-nos o quanto
a prosa poderia sintetizar-se em pura poesia, derramar-se e oferecer-nos versos de uma
amplitude além do erotismo, em seus fragmentos cotidianos, vitais. Postulando,
destarte, o próprio erotismo adjacente que se insurge de seus poemas. Percebido, mesmo
que não sentenciado. Usando palavras que acariciam o silêncio de nossas leituras e das
imagéticas paisagens que desfilam enlouquecidas em nosso imaginário, assistimos o
nosso íntimo reconstruir a independência das nossas afirmações provisórias.”
Artur Madruga
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ânua
escoltado por abelhas africanas
o ano se despede
das intenções melíferas ficam:
– uma pedra no caminho
– um poema inacabado
– um barco furado
– um presente no escuro
todos os sonhos de navegantes à deriva
pergunto aos jornais
sobre esperança
respondem-me com serena insensibilidade:
a pedra no telhado de vidro,
a revolta das vísceras,
o enjoo dos dias,
a imparcialidade do relógio
em bocas de lixo e beijos na boca
mas insisto em ver
com os olhos dos sonhos
haverá novas horas
de um mesmo relógio
que à maneira dos esperançados
beijará o primeiro segundo
e apesar das incontáveis picadas
da mordaz e histriônica colmeia
reinventaremos o mel.
Lourença Lou
Vídeo poema interpretação Carlos Eduardo Valente:
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o motivo da falta de flores
Cherry profanava o Olimpo
mas se ajoelhava por um anjo
e gostava de mim
Jens sempre foi iconoclasta
vivia encastelando palavrões
e gostava de mim
Shi era dama do deslizar
mas rasgava mapas por amor
e gostava de mim
Zeca vestia capa e espada
pronto a decapitar injustiças
e gostava de mim
fabricávamos sapos e lagartas
mas perdemos a forma das borboletas
e aos poucos fomos nos deixando
de tudo deveria ter ficado um pouco
as escamas ou os casulos
ou quem sabe a partilha do adeus
fiquei eu gostando dos quatro.
Lourença Lou
Vídeo poema interpretação Carlos Eduardo Valente:
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o que o tempo não desarma
lembra
quando amor
era a religião febril
das nossas noites?
quando adoecíamos
de querer esfregar gostos e glórias
no corpo
e nos mares um do outro?
carregávamos o estandarte da explosão
hoje
amor é flor
cuidada em estufa da memória
que aprendemos
a transformar em sementes
e plantar
nas idílicas tempestades
nas bocas que agora beijamos
mas perto, ainda somos urânio engatilhado.
Lourença Lou
Vídeo poema interpretação de Carlos Eduardo Valente:
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Lourença Lou é formada em Letras, pós graduada em Educação e Administração Escolar. Foi
professora, coordenadora e diretora de escola de ensino fundamental e médio. Hoje, é
administradora de empresa, poeta, contista e cronista. Já participou de várias coletâneas de
poesia e de contos, de sites de crônicas e revistas literárias.
O livro pode ser adquirido na loja virtual da editora Penalux. A renda é revertida para o
Projeto Mano Down. Ou no Facebook.