Stela Farias está oficialmente fora do cenário eleitoral de 2016. A ex-prefeita de Alvorada por duas vezes e atual deputada estadual confirmou, em entrevista ao jornal O Alvoradense, que não colocará seu nome à disposição do partido para concorrer à prefeitura.
A saída de Stela abre caminho para a atual presidente do partido na cidade, Giovana Thiago, se colocar como pré-candidata.
Nesta entrevista, a deputada fala sobre os motivos que a levaram a deixar a disputa, seu futuro político e o cenário nacional, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Stela comenta, ainda, sobre o desempenho de Serginho à frente da Prefeitura, da qual classificou como sendo o “possível fazer diante da complexidade crescente que os administradores encontram nos dias de hoje”.
Confira a entrevista, na íntegra:
O Alvoradense: O que te levou a decidir por não concorrer à Prefeitura de Alvorada novamente?
Stela Farias: Eu comecei minha vida pública muito jovem. Fui eleita vereadora antes dos 30 anos. Fiz um mandato e naquela época avaliamos coletivamente que deveríamos disputar um espaço com mais possibilidades de incidir positivamente na vida da população da nosso cidade. Concorri então a eleição para prefeita, sem nenhum recurso, contando somente com a militância do PT, com as pessoas que acreditavam que Alvorada precisava mudar. Vencemos e fizemos uma gestão com pouquíssimos recursos, mas com muito diálogo, transparência, participação popular e acima de tudo, criatividade. Vejam, eu pertenço a uma escola de fazer política que aprendeu que gestão se faz com as pessoas. Não é fazendo promessas em cima de palanque, mas com o pé no chão, contando para as pessoas o que acontece e o que é possível e o que não é possível fazer.
Acho que todos que leem O Alvoradense lembram bem, tudo que conseguimos fazer por essa cidade. Tanto que fui reeleita e consolidamos o nosso trabalho, pavimentamos ruas, descentralizamos a segurança, construímos Unidades Básicas de Saúde, reformamos e construímos, creches, levamos nossos talentos para o mundo, o mundo veio conhecer Alvorada. Esta experiência nos permitiu acreditar que era possível, novamente, ir em busca de espaços com possibilidades ainda maiores de incidir na vida das pessoas, de representar as pessoas, então fui concorrer à deputada estadual.
Alvorada desde sempre precisava de um voz no Parlamento, de alguém com o olhar da nossa cidade, que conhecesse a realidade de um município periférico, pouco desenvolvido, com vários problemas sociais, então assumi com muita honra esta função, de onde saí, apenas durante dois anos, para emprestar minha experiência como gestora, na Secretaria de Administração e Recursos Humanos do Estado, a pedido do governador Tarso Genro.
Eu tenho um ritmo muito intenso e de entrega para as minhas tarefas, que hoje com os problemas de saúde que tenho e a exigência das tarefas de prefeita, diferente das tarefas de deputada, eu não conseguiria manter. (…) Por outro lado, é preciso que haja espaço para outras lideranças da cidade crescerem e se consolidarem
No ano que vem, assumo a liderança da maior bancada da Assembleia Legislativa. Eu fico muito honrada de ter meu nome lembrado novamente para concorrer à prefeitura de Alvorada. Infelizmente, apesar de hoje me achar bem mais capacitada pelos anos de amadurecimento que tive, conhecendo como deputada, experiências de gestão em outros municípios gaúchos, a minha condição física me impede de assumir a tarefa de prefeita, que é muito mais exigente do ponto de vista de disponibilidade. Eu tenho um ritmo muito intenso e de entrega para as minhas tarefas, que hoje com os problemas de saúde que tenho e a exigência das tarefas de prefeita, diferente das tarefas de deputada, eu não conseguiria manter. Passei por uma cirurgia na cervical que me deixou inclusive como os movimentos limitados.
Por outro lado, é preciso que haja espaço para outras lideranças da cidade crescerem e se consolidarem. Para que outros e outras personagens da vida pública de Alvorada também tenham chance de colocarem-se, não só na disputa, sobretudo de assumirem o desafio que é administrar nossa cidade e serem julgadas pelos acertos e pelos erros, como eu já fui. Faz parte da trajetória democrática da cidade e do meu ponto de vista, não devemos abrir mão, por isso, de outros espaços privilegiados que a cidade já conquistou e outros que ainda queremos conquistar.
OA: Independente da posição do PT no pleito, quais são os maiores desafios do partido para outubro?
Stela: No caso do PT, em especial, é superar a campanha de ódio e preconceito promovida pelos setores mais conservadores, por setores da mídia que pertencem em boa parte a seis grandes famílias milionárias, que sempre foram contra qualquer organização de trabalhadores, por representar ameaça ao lucro ilimitado e a exploração sem regras do trabalho.
O PT é o maior partido de esquerda da América Latina. Foi graças ao PT – que tem origem em uma aliança entre trabalhadores do campo, operários da cidade, intelectuais e artistas – que o Brasil entrou no mapa dos países importantes no mundo. Graças ao PT milhões deixaram a miséria, milhares tiveram chance de adquirir a casa própria, emprego, filhos na universidade, dívida externa paga, salário digno, aposentadoria digna e isso incomodou e incomoda especialmente aqueles setores da sociedade que sempre defenderam esses direitos para poucos.
Veja, chegaram ao ponto de dar um golpe de Estado, desrespeitar a Constituição, o voto de 54 milhões de pessoas e ainda por cima, queimar o filme do Brasil diante do mundo, que chegou a acreditar que nosso país finalmente tinha deixado a época dos coronéis, dos velhos aristocratas donos do poder, para trás. Pois não foram eles mesmos – os velhos corruptos, ladrões do povo, que sempre ficaram impunes – que tomaram o poder com a intenção clara de vender o país para os interesses estrangeiros? Deram um golpe e saíram correndo para acabar com os direitos do trabalhador, para acabar com o SUS, com a Previdência…
Ao contrário do que querem fazer o povo acreditar, o PT não acabou, nem acabará! Nós nascemos da adversidade, nós sempre fomos perseguidos por defender os interesses do povo acima de tudo, então tudo isso não é nada novo
Não é por nada que toda a imprensa mundial está dizendo que é um golpe, não é à toa que as cabeças pensantes do Brasil e do mundo estão dizendo que o que foi feito com a presidenta Dilma e contra o PT, foi um golpe, não só um golpe contra ela ou contra o partido, mas um golpe contra o povo brasileiro. Mas ao contrário do que querem fazer o povo acreditar, o PT não acabou, nem acabará! Nós nascemos da adversidade, nós sempre fomos perseguidos por defender os interesses do povo acima de tudo, então tudo isso não é nada novo.
Nós estaremos onde sempre estivemos, na rua, conversando com as pessoas, nas casas, na vila, no bairro, no centro comunitário, no futebol da várzea, porque é onde sempre tivemos. Porque tem muita coisa para fazer ainda por este país, pelo nosso Estado e pela cidade. Ainda há preconceito contra o negro, contra o indígena, contra o pobre. Ainda há criança fora da escola, ainda falta segurança, saneamento e enquanto houver injustiça social o Partido dos Trabalhadores vai estar na luta.
OA: Na sua opinião, o atual cenário político nacional, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, pode influenciar na hora do voto do eleitor alvoradense?
Stela: Acho que pode mobilizar a população que sabe muito bem de onde vem a melhora da sua condição de vida. Embora tenha se estabelecido uma forte campanha de ódio, mentiras e preconceitos contra o PT, tenho certeza que a população sabe discernir quem fez e quem não fez. Ao contrário do que parece muitas vezes, não foi o PT que inventou o Brasil. Nós fundamos esse partido para enfrentar justamente a política convencional do PMDB, do PP, do PSDB, do DEM que nunca, vejam bem, nunca se importou em melhor o país. O que esses partidos fizeram no passado? Alguns apoiaram um ditadura militar que quebrou o país, gerou desemprego e inflação. Outros, venceram com o voto do povo e ao chegarem ao poder, tudo o que fizeram foi manter tudo como estava.
Só o PT junto com os partidos do campo democrático e popular, como o PCdoB e o PDT, que depois de vencer as eleições botou o país nos trilhos, incluiu milhares no mercado de trabalho, nas universidades, distribuiu remédios de graça para quem mais precisa, baixou preços dos bens de consumo.
O que eleitor tem que fazer é comparar quem fez mais para melhorar a sua vida e a vida dos seus. Daí eu tenho certeza, o PT está muito acima da média dos outros partidos, muito acima!
Quem é corrupto, seja de partido for, que posição social tenha, seja político, médico, empresário e comete ilicitudes, deve ser processado, julgado e pagar por seus crimes. Foi para isso que lutamos, para estabelecermos um Estado democrático, guiado por uma Constituição, por um sistema jurídico. Qual é a diferença? A diferença, de novo, é que antes do PT, a corrupção do colarinho branco, ficava impune. Pouca gente conta que foi o PT que criou a maioria das leis anticorrupção neste país. Se as pessoas buscarem se informar melhor, vão descobrir que os partidos campeões de corrupção são o PSDB, o DEM e o PMDB.
O que eu quero dizer sobre isso, então é que o PT tem uma longa lista de realizações que melhoraram para melhor a vida de milhares de pessoas e isto, ninguém, nem um golpe de Estado como este que estamos vivendo, vai nos tirar. Então, o que eleitor tem que fazer é comparar quem fez mais para melhorar a sua vida e a vida dos seus. Daí eu tenho certeza, o PT está muito acima da média dos outros partidos, muito acima!
OA: Não concorrer em 2016 significa o que para o teu futuro político? Quais os planos a longo prazo a partir de agora?
Stela: Como eu disse, ano que vem assumo como primeira mulher a liderança da maior bancada da Assembleia Legislativa, posição essa delegada por unanimidade dos meus companheiros parlamentares, aliás uma bancada de oposição ao atual governo. É a primeira vez que uma alvoradense assume um posto assim, dessa importância no cenário político estadual.
O que posso adiantar é que vou estar onde possa fazer a diferença para a nossa cidade, auxiliando no seu crescimento, na melhoria das condições de vida da população, lutando por aquilo que é direito do povo
Então, vou me ocupar dessa tarefa em 2016, sem me descuidar jamais das questões que estamos envolvidos em Alvorada, como a viabilização dos três postos de Saúde, no Nova Alvorada, no Duas Figueiras e Jardim Algarve; a construção da UPA na Nova Americana; a construção e entrega das escolas municipais de educação infantil no Cedro, no Água Viva e na Nova Americana; a mobilização para a implantação do Minha Casa Minha Vida, que entregará até o final do ano 1.500 apartamentos, no Jardim Aparecida e no Nova Alvorada; os 15 médicos estrangeiros do Programa Mais Médicos; a construção do CEU das Artes; o Projeto do Dique; a construção do campus do Instituto Federal; a duplicação da Frederico Dihl; o Balada Segura; a duplicação do trecho da Avenida Getúlio Vargas; a construção do Centro de Juventude; a ampliação de 240 leitos do Hospital de Alvorada – que o Governo Sartori cancelou o convênio – as obras de pavimentação comunitária, entre outras, que muitas vezes, eu nem apareço, mas estou lá, reunindo com as autoridades, visitando os secretários de Estado, indo na Metroplan, indo à Brasília, cobrando, compondo com as lideranças municipais, com o nosso deputado federal Henrique Fontana, reuniões para pressionar pela liberação de recursos, por assinaturas de convênios, por agilidade, porque sei que a vida das pessoas não pode esperar pela burocracia. Foi para isso que a população de Alvorada me elegeu.
Sobre o longo prazo, prefiro deixar em aberto, porque esta é uma decisão que não me cabe individualmente. Eu faço parte de um partido e esse tipo de discussão passa pela avaliação dessa coletividade. Na política é muito complicado fazer planos a longo prazo, mesmo a médio prazo, porque a conjuntura é muito dinâmica, muitas variáveis e muitos fatores podem mudar tudo de uma hora para outra. O que posso adiantar é que vou estar onde possa fazer a diferença para a nossa cidade, auxiliando no seu crescimento, na melhoria das condições de vida da população, lutando por aquilo que é direito do povo.
OA: Em linhas gerais, qual sua avaliação sobre o governo Serginho?
Stela: Primeiro é preciso lembrar, antes de tudo, que Alvorada é o 25° município como o menor PIB do Brasil e o menor PIB do Estado. Portanto, uma cidade com graves problemas de ordem econômica e de infraestrutura, incluindo questões que já foram resolvidas por outros municípios há décadas, como o saneamento básico e a pavimentação.
O Sergio Bertoldi assumiu com grandes expectativas de mudança, mas logo se defrontou com uma herança da gestão anterior muito complicada, herdou dívidas e uma cultura política baseada na troca de favores. Além disso, precisou reorganizar a administração pública, o que coincidiu com um período de grande turbulência econômica e política.
Alvorada perdeu dois grandes momentos de grande disponibilidade de recursos federais e investimentos. O primeiro foi na década de 70 e mais recentemente, durante as gestões do presidente Lula, onde havia muito recurso disponível e o município deixou de encaminhar projetos, por completa inaptidão da gestão que antecedeu o Sergio.
Apesar disso, fez esforços para mudar as relações políticas no município, implementando um amplo diálogo com outros poderes. Buscou fazer uma gestão com austeridade, diante de uma situação política em nível estadual e federal cada vez mais complicada e que obviamente tem reflexos no município. Neste cenário, ele tenta reorganizar o município e fez o que foi possível fazer diante da complexidade crescente que os administradores encontram nos dias de hoje.
Fonte: O Alvoradense