Gente Nossa: Vida de Gilberto Perroni e a vocação para o trabalho comunitário

Seu Gilberto Perroni tem longa trajetória em Alvorada com diversos serviços prestados à comunidade | Foto: Jonathas Costa
Gilberto tem longa trajetória com diversos serviços prestados à comunidade |Foto: Jonathas Costa

A história de Gilberto Perroni se confunde com a história da União das Associações de Moradores de Alvorada (Uama). Quando chegou de Itaqui a Porto Alegre, o jovem de 20 e poucos anos, não imaginava o que o futuro lhe reservava. O ano era 1962 e seu destino, vindo da fronteira com a Argentina, foi a Brigada Militar, onde serviu por quatro anos e meio.

Das lembranças daquela época, a mais nítida é a do Golpe Militar de 64, quando estava lotado no Presídio Central. Morador do Menino Deus, chegou ao trabalho sem saber ao certo o que acontecia e seguiu trabalhando normalmente. Ressalta que a Brigada Militar gaúcha foi contra o golpe, que teve como um dos resultados o desmonte da polícia, com o fim do Guarda de Rua e do Guarda de Trânsito, tradicionais na época. “Até ali a segurança funcionava, daí ficou tudo com a Brigada Militar e a Polícia Civil e começaram a surgir as empresas de segurança particular”, relembra.

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Logo que saiu da Brigada, casou com Odete e em 1972 veio morar em Alvorada, no bairro Piratini, de favor na casa de um amigo. “As coisas estavam muito difíceis e só consegui pagar o primeiro mês de aluguel”, recorda. Foi toda essa dificuldade que o preparou para ser uma referência na luta por moradia em Alvorada.

Na época conheceu o pastor Roberto, luterano que criou o Centro Comunitário da Piratini, onde se formou um grupo de pessoas atuantes politicamente. Naquele mesmo ano, o pastor conseguiu um Hospital de Campanha vindo do Vietnã e garantiu a área onde hoje é o Hospital de Alvorada para a instalação das barracas. “E foi como iniciamos nossa atuação política”, conta Perroni.

Mas o grande feito do grupo foi uma ocupação de terras realizada em 1978, no bairro Caxambu, onde foram instaladas 230 famílias. Eles foram ao Palácio Piratini e, com a ajuda de Carlos Araújo, conseguiram o apoio do governador Amaral de Souza, que garantiu a colocação de uma bica no local até que a instalação de água e luz fosse regularizada.

Trabalhando em Porto Alegre, no Moinho Santista, ele seguia na batalha em Alvorada e em 1980 formou a Comissão Municipal dos Direitos Humanos (CDH), junto com os amigos Vitório Trovão, Flavinho Silva e Dr. Jesus. “Infelizmente hoje a CDH está inativa”, lamenta.

A União
Sua grande paixão surgiu em 1981, quando as sete associações de moradores da cidade se uniram para formar a União da Associações de Moradores de Alvorada.

A primeira sede, provisória, foi uma sala em prédio da Praça Central, cedida pelo prefeito Léo Barcellos. Já em 1982 a Uama esteve presente na Conferência Nacional de Moradores. Em 1982, realizou a Semana Comunitária que contou palestras, um baile e um torneio de futebol, mas que teve como ponto alto o primeiro debate entre candidatos ao governo do Estado em Alvorada, com a presença de Alceu Collares, Pedro Simon e Olívio Dutra. No mesmo ano houve um debate entre os dez candidatos à prefeitura.

Em 1984, a Uama organizou comícios na Praça Central e no bairro Caxambu pelas Diretas Já!, e no ano seguinte, Gilberto Perroni esteve em Olinda, onde participou da fundação do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, quando conheceu Dom Helder Câmara. Ele, ainda representando a Uama, esteve na caminhada pela reforma da Constituição Federal, ocorrida em Brasília, em 1988.

Na ocupação do bairro Onze de Abril, em 1987, a associação de Gilberto esteve presente e atuante. Ele foi dirigente da Federação Rio-grandense de Associações Comunitárias e de Bairros (Fracab) de 1982 a 1991, sendo do Comitê de Reforma Urbana neste período. Participou também do governo Léo Barcelos como diretor de Formação Comunitária e do primeiro mandato da prefeita Stela Farias como diretor da Coordenadoria de Relações com a Comunidade. Hoje é diretor de Saúde na Federação Gaúcha de Associação de Moradores (Fegam).

Outro orgulho do atual presidente da Uama foi ter participado, com grande parte das propostas, à Lei Orgânica do município. “Cerca de 70% das leis foram elaboradas pelo amigo e companheiro Gilson Valadão, já falecido”, conta.

Das conquistas mais recentes está a construção de 180 casas, em 2006, sendo 60 unidades no Porto Verde e as demais no Jardim Aparecida, pelo programa Crédito Solidário do governo Lula.

Pioneiro
Outro ato que demonstra o espírito inquieto e positivo de Gilberto Perroni foi que, após os quatro filhos que lhe renderam sete netos e um bisneto, foi um dos primeiros homens a se submeter a uma cirurgia de vasectomia. “Naquele tempo davam anestesia geral. Uma sensação horrível!”, comenta ele, que já sofreu três infartos e hoje se sente muito bem.

Para o futuro pretende encerrar o atual mandato no final deste ano e se dedicar mais à família. “Ou minha esposa se separa”, brinca. Mas admite que pretende seguir fiscalizando os trabalhos da Uama.

Fonte: O Alvoradense