Teriam as pessoas se tornado mais interessadas por política após as manifestações de 2013 e todo o processo que culminou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff? Tenho sustentado que não, embora tenha observado, nas salas de aula, maior interesse em compreender o que está acontecendo. No entanto, parece que os jovens estudantes de mais de oitenta escolas estaduais “acordaram” de uma hora para outra e, segundo vários professores, estariam dando “lições de cidadania” para o magistério que, neste momento, trata de resistir a greve promovida pelo Cpers.

É verdade que o governo de José Ivo Sartori é um desastre. E isso não se limita ao fato de que o governo do estado não tem dinheiro para atender as demandas ou ao pagamento parcelado dos salários dos servidores estaduais. A tragédia está, precisamente, no fato de que governantes são eleitos para definir prioridades: é um equívoco gigantesco parcelar o salário de todos, quando se pode definir que o pagamento do salário integral pode ser realizado a quem recebe menos. Mas uma coisa é certa: de estelionato eleitoral ele não pode ser acusado. Ele nada prometeu. Inclusive foi eleito para fugirmos de uma outra desgraça, já que recordar é viver: daquele que chamava o magistério de mentiroso, que não cumpria o terço das horas-atividades, e que depois dizia em campanha eleitoral que, para pagar o piso salarial, recorreria à Dilma para antecipar a verba do pré-sal e, então, cumprir a lei que levou sua assinatura.

Enquanto isso, o Cpers delibera por greve por tempo indeterminado, dado o sucateamento das escolas estaduais, contra o parcelamento dos salários e o reajuste do magistério. Em relação ao último ponto, o tiozão das massas foi bem claro, durante a campanha, antes mesmo de se eleger: piso é só no Tumelero… outro motivo para a greve foi o boato (isso mesmo: boato) de que não haveria pagamento dos salários no fim deste mês. Tristes episódios de uma “luta sindical” que parece não ser construída junto ao magistério, daí a baixa adesão.

Já os estudantes de mais de oitenta escolas estaduais (e este número, a cada dia, se multiplica) decidiu pela estratégia de ocupação dos prédios escolares. Estaria essa juventude realmente nos dando “lições de cidadania”? Observemos o que está sendo reivindicado: reposição de professores e funcionários que faltam nas escolas, atrasos nos repasses das verbas escolares e obras estruturais, já que muitas escolas estão, historicamente, caindo aos pedaços.

Falar em cidadania diz respeito ao exercício de direitos e deveres.

Há algo em comum em todas estas ocupações dos prédios escolares: elas aconteceram depois das ocupações no estado de São Paulo, e em todas elas existem grêmios estudantis atuando. No entanto, falar em cidadania diz respeito ao exercício de direitos e deveres. Estariam os estudantes acompanhando a utilização das verbas escolares? Estariam efetivamente participando dos Conselhos Escolares? Estariam questionando a definição das prioridades das poucas verbas que as escolas recebem? Negativo!

Sou plenamente a favor de ocupações como estas, pelos jovens; da mesma forma, pela criação de grêmios estudantis. Mas há uma condição para isso: desde que se produza alterações estruturais e de conduta nas escolas. Até se demonstre em contrário, até agora essas manifestações parecem mais uma ação política para desgastar um governo já desgastado e uma “modinha” que veio de São Paulo do que ação que efetivamente aponte para a cidadania.

A orientação do governo do estado é bastante clara: matar no cansaço e emular um diálogo. Já a postura do Cpers está aqui. Aliás, restam mais algumas perguntas: ano passado, quando a presidenta Dilma restringiu as verbas do pró-médio, onde estava o Cpers e a juventude? Onde estavam esses protagonistas quando as verbas do repasse da merenda foram suspensos, ano passado? Diante do silencio colossal diante dessas perguntas, até que ponto cabe mesmo falar em cidadania, em referência a essas ocupações?


 

Em tempo (1): suspeito que muito em breve minha amiga Sabrina Sebaje (e alguns outros, que tem se manifestado daqui e dali) vai ter de sair do luto. Afinal de contas, o fracasso do governo Temer em recrutar Secretário(a) para assumir a pasta da cultura está relacionado ao fechamento do MinC e sua fusão com o Ministério da Educação. Diante da repercussão negativa, terá de voltar atrás. O fato é que a fusão desse ministério está ligado à destruição simbólica dos tempos de petê – quem esteve e acompanha o que acontece na cidade, desde 1º de janeiro de 2013, sabem muito bem do que se trata (e com o aval da vereança). Na minha opinião, a medida tem fins meramente eleitoreiros. O mais curioso é o seguinte: engana-se quem pensa que ele, para governar, possui um cheque em branco. Basta uma medida polêmica que ele toma degola muito mais feroz que a de Dilma. Tanto é que o próprio Michel Temer admitiu, em entrevista, que possui frágil legitimidade… e pensar que ainda há quem pense que foi “golpe”.

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Em tempo (2): deixo registrado meus sinceros parabéns a colegas, comunidade escolar e funcionários da Escola Carlos Drummond de Andrade. No sábado passado, dia 14 de maio, aconteceu o tradicional Chá das Mães. A temperatura amena, a decoração da escola pelas meninas e a presteza de todos e todas foi bonito de se ver. Além disso, o professor Paulo e o Jorge, faxineiro, deram um show. Foi lindo de ver eles tocarem, por exemplo, “Sultans of Swing”, do Dire Straits. Educação também é ver as pessoas transfiguradas ao fazer aquilo que curtem. Quem sabe a partir de ações como esta, a comunidade participe e se envolva cada vez mais nas atividades da escola? Tomara!