Muito se tem falado sobre a precariedade das escolas públicas. É fato. No entanto, nossa precariedade tem sido muito mais humana do que, necessariamente, devido à ausência de recursos financeiros ou de estrutura. Vamos a um exemplo simples: o que aconteceria se, num cabaré qualquer, uma das “meninas” da “profissão mais antiga do mundo” fosse agredida fisicamente? Provavelmente o agressor não sairia vivo.

Engana-se meu colega, pois para ele, o futebol amador está à deriva. A educação formal em Alvorada também está. E isso acontece através de vários mecanismos. Um deles é chamada por operação abafa. Não foi este o procedimento, pelo menos desde janeiro de 2013, após a sequência de vandalismos e roubalheiras nas escolas municipais? E o mais curioso é que os ladrões sabem exatamente onde estão os bens de maior valor, especialmente os notebooks. E, após tais episódios, fica a promessa de se investigar, mas ela nunca é cumprida.

E o que aconteceria se essa agressão física ocorresse dentro do espaço escolar, vindo de uma mãe em relação a uma professora? Semana passada relatei um caso de professora da rede municipal que, em entrega de notas e pareceres, teria dito à mãe de aluno que o mesmo está infrequente, que não participa do laboratório de aprendizagem e que a família está falhando. A resposta veio de imediato: agressão física. O episódio virou caso de polícia.

Procurada pela imprensa, a professora não quis dar entrevista. É verdade que, num primeiro momento, considerei um absurdo, mas ao parar para pensar sob o ângulo do abandono, ela está coberta de razão. Vejamos qual foi a postura de nossos protagonistas. O primeiro deles foi o Presidente do Conselho Municipal de Educação, professor Fábio Mariano. Ele repudiou a situação, conforme publiquei aqui, mas ressaltou que só pode emitir nota em nome do CME após plenária juntos aos conselheiros. E o sindicato dos municipários? Nada. E a Secretaria de Educação? Nem um pio. E a vereança? Nem uma palavra sequer. Até se demonstre em contrário, há um conluio.

Já a diretora da escola foi mais criativa: chamou algumas professoras para criticar o fato de terem relatado o episódio no facebook, pois a agressão sofrida pela professora teria ganho dimensão muito maior do que a realidade, e que assim as professoras estariam expondo a escola a uma situação negativa; portanto, não teriam direito de fazer isso, já que a imagem da escola é muito mais importante do que as pessoas que nela trabalham… para verem a que ponto a democracia da função gratificada chega. No magistério desde 2004, nunca vi tanta degradação ao magistério. É uma vergonha.

Aliás, desconfio que o cineasta Evandro Berlesi se inspirou na República da Bruzundanga quando resolveu retratar a vida política de Marcapasso do Sul: um prefeito que só quer brincar, uma cúpula de governo centralizadora e autoritária, uma oposição fake e um agente cultural que opera em favor do governo, só para barganhar cargos. Que saudade tenho dessa websérie que, em quatro episódios, ainda muito me faz rir… convido a assistirem, logo abaixo. E deixo registrado minha admiração e abraço ao Evandro, ao Nunes (que foi meu colega e parceirão; depois, meu assessor nos tempos de Elisardo), ao Anderson Dravasie e Marcelo Maresia. Em tempos de campanha eleitorais, bem que A Prefeitura poderia voltar, né?

Em tempo (1): Este ano é ano de escolha do livro didático para o Ensino Fundamental II (PNLD 2017). Isto é, professores de língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências, língua estrangeira moderna (inglês e espanhol) e artes escolherão os livros a serem utilizados para os próximos três anos. Goste-se ou não, a escolha é importante e ela deve ser realizada pelos professores, sempre respeitando sua autonomia. No entanto, a depender do processo estabelecido pelo Ministério da Educação, o desastre é certo, pois a disponibilização do manual do professor, contendo as resenhas das obras selecionadas, não tem data definida. Uma verdadeira bagunça. Não fossem as editoras enviarem os livros para os professores, nas escolas, a escolha seria uma verdadeira loteria. E o que é pior: há escolas que sequer repassaram os livros para que a escolha consciente seja feita, respeitando a autonomia do magistério e a proposta pedagógica das escolas. Além disso, a Secretaria de Educação sequer se prestou a articular formação para os professores. Confira as obras selecionadas.

Em tempo (2): estive na audiência pública para debater a lei de criação do sistema municipal de educação, uma exigência do Plano Nacional de Educação, na noite de 2 de junho. Promovida pelo vereador Juliano Marinho (PT), tivemos a presença de Cristiano Schumacker (PT) e Neto Girelli (PTB). Onde estavam os outros catorze que, além de nos custar muito caro, também são pagos para isso? Talvez a divulgação não tenha sido eficiente e sequer chegado aos professores, mas o que se viu foi a SMED praticamente falando para si mesma, sendo que a professora Regina Scherer fez excelente diagnóstico, ao apresentar o caso de Porto Alegre. Onde estavam os 1.200 professores da rede? E onde estava o sindicato dos municipários? Assim fica difícil…