No futebol atual, duas das mais importantes peças dentro dos gramados estão quase em extinção. O camisa 10 clássico, da cabeça erguida, dos passes magistrais, do pensamento a frente, é uma delas. Mas hoje falarei não de uma posição apenas, e sim de uma profissão.

A profissão centroavante!

“Eles são os personagens centrais do espetáculo chamado futebol, pois se não cumprirem a missão que lhes foi dada em campo, são execrados pela torcida. Fazer gols é a missão de todo centroavante, o camisa 9, o homem gol. Pouco importa onde joga, mas quando veste a camisa 9 de qualquer time, seleção ou timinho de várzea, tornam-se seres especiais.”

É assim que um dos maiores nomes da literatura brasileira, Luis Fernando Veríssimo, enxerga esses homens especiais.

RONALDO O FENÔMENO, o gênio da grande área
RONALDO O FENÔMENO, o gênio da grande área

O futebol moderno põe em xeque o centroavante, muito dos novos treinadores no meio do futebol, jogam com o chamado “falso 9”, que é uma espécie de meia atacante, no meio dos gigantes paredões, das defesas adversárias.

Durante décadas da minha vida, atuo como centroavante e com propriedade posso falar que ser camisa 9 é verdadeiramente uma profissão.

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IGOR, camisa 9 no campeonato gaúcho de Society

Quando um atleta veste esse número de camisa, vira uma espécie de super herói, como já dizia Veríssimo, se torna momentaneamente um ser especial, um homem diferente de todos.

Seja nos maiores clássicos do mundo, ou na pelada da rua de trás (título de uma coluna anterior), o centroavante é especial, sua missão é inflar o grito de gol das arquibancadas, fazer com que exploda de emoção os corações dos torcedores.

Alvorada teve muitos desses matadores, verdadeiras máquinas de gols, nos gramados do Bonsucesso, Agriter, União, Palmeirinhas e entre tantos outros campos, que atualmente nem existem mais.

Quem não lembra, por exemplo, do Amarildo, camisa 9 da década de 90 do Bonsucesso?

Jamais esquecerei meus domingos pela manhã, no campo do São Caetano, as arrancadas eram de Kalunga, os passes eram para o meio da área, e gols fora sempre do matador, o proprietário da camisa 9, Amarildo!

Nesse mesmo “estádio” da várzea alvoradense, neste mesmo clube, o Bonsucesso, recordo como se fosse hoje os comandos do “Nego Amilton”, ao seu time infantil, composto por guris da redondeza, formados naquele campinho de bairro.

Sua formação era básica da rua Gaspar Martins, com Diego Beloli zagueiro, ao lado do Thiago Lentz, mais a frente tinha Lando e Clodoaldo, e no ataque “Nego“ Sergio, hoje mais conhecido como Serjão, que inclusive teve a oportunidade de vestir a camisa Tricolor, no início do ano 2000.

SERJÃO  com a camisa do União Frederiquense (RS)
SERJÃO  com a camisa do União Frederiquense (RS)

De Bate pronto, e como se fosse um “centrovantenato”, rompo as barreiras e recordo um outro grande matador alvoradense, que no seu currículo tem times como Fluminense-RJ, CRB, Internacional-RS e Glória de Vacaria, este último, está na história do Clube, como o maior goleador de todos os tempos dos Altos da Glória, com 54 gols marcados, nas três passagens pelo “Leão”.

ZÉ CLAUDIO com a camisa do Glória de Vacaria (RS), 1° agachado
ZÉ CLAUDIO com a camisa do Glória de Vacaria (RS), 1° agachado

Centroavantes, são folclóricos, são místicos.

Se fosse uma obra de Jorge Amado o centrovante, seria Vadinho e o ator principal, não tenho duvidas seria Romário.

Se a obra fosse uma comédia, e o escritor fosse Chico Anísio, o ator principal do stand up seria Sandro Sotile, o Alemão matador!

A obra da vida estaria pronta, teríamos atores de alto nível e conseguiríamos sem dúvida aplaudir no final.

Viva aos “Amarildos”, aos “Zé Claudios”, aos “Serjãos”…

Viva a vocês, que fazem de suas profissões as nossas alegrias!

Viva ao centroavante!

As alegrias são nossas, mas…

Os aplausos são para eles.